Grupo Bradesco mantém aposta em ser segurador
“A unanimidade é burra”, disse o presidente da Bradesco Seguros e
Previdência, Luiz Carlos Trabuco Cappi, usando a célebre frase de Nelson
Rodrigues para enfatizar a decisão do conglomerado de ir contra a onda
mundial de bancassurance. Nos últimos anos, os bancos têm vendido suas
seguradoras de bens patrimoniais para seguradoras independentes, ficando com
a administração dos seguros de vida e planos de previdência, produtos dentro
do core business por serem de acumulação de renda.
“Queremos ganhar dinheiro vendendo risco e protegendo a sociedade. No ano
passado vendemos R$ 16 bilhões e devolvemos à sociedade quase R$ 10 bilhões
em indenizações”, ressaltou o executivo durante almoço em sua homenagem
promovido pelo Clube dos Corretores de São Paulo.
Ser segurador e não distribuidor de seguros é uma estratégia diferente da
adotada por grandes conglomerados, como o Citigroup, que vendeu a Travelers
nos principais países onde atuava, inclusive no Brasil. Localmente, temos o
ABN Amro vendendo para a japonesa Tokio Marine; o HSBC que negociou com a
HDI a seguradora de ramos elementares; a Nossa Caixa que vendeu para a
Mapfre vida e previdência; além do Itaú, que partiu de grandes riscos
fechando uma parceria com a XL Capital.
Segundo Trabuco, o segmento de ramos elementares vem de um passado recente
de perdas, iniciado com o fatídico 11 de setembro de 2001. “Depois vieram as
mudanças climáticas, com os furacões trazendo prejuízos recordes para o
mercado e reduzindo o retorno do capital para os acionistas. Mas é um setor
que está em transição em todo o mundo e este pode ser um bom negócio”.
Para Trabuco, há mais de 10 anos, a indústria de seguros se prepara para o
desenvolvimento econômico do Brasil, que dependerá agora da agenda do novo
governo. O cenário econômico é positivo para o País, que logo deverá receber
investiment grade, pois os indicadores econômicos são favoráveis a isso.
“Diferente de quando o risco Brasil ultrapassou os 2 mil pontos na
pré-eleição de 2002, afastando os investidores interessados em bancos e
seguradoras. O setor de seguros acompanhará o crescimento da economia por
criar um colchão de proteção”, comentou.
Trabuco acredita que o mercado de seguros ainda tem muito a fazer para ter
uma participação acima dos atuais 3% do PIB. “As lições do século XX foram a
valorização da mulher e o respeito à ecologia e ao consumidor. Já entre os
desafios do século XXI temos de melhorar a transparência, os produtos. Saber
ouvir o consumidor, o judiciário”, disse.
As regras de Basiléia II a serem implementadas também no Brasil foram
citadas por Trabuco. “Por mais que o assunto não agrade, é uma tendência.
Queremos ser vencedores no futuro e não um dos sobreviventes das mudanças
gerenciais. Por isso passamos por reestruturações para nos adaptarmos a uma
realidade de taxas de juros mais realistas, de 9% ao ano, com juro real de
6%. Para o Bradesco seguro não é um produto de portfólio e sim uma atividade
econômica”, disse.
Fonte: Gazeta Mercantil