Governo pode mostrar déficit recorde em maio
O governo central pode ter registrado neste ano o seu maior déficit primário para o mês de maio desde o início da série histórica, em 1997. De acordo com a estimativa média de 15 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o governo central (formado por Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) teve um déficit de R$ 19 bilhões no mês passado. Até hoje, o pior resultado para maio foi o do ano passado, quando ficou negativo em R$ 15,4 bilhões.
As estimativas para o dado de maio deste ano, que o Tesouro divulga hoje, são todas de déficit, variando de R$ 27,7 bilhões para R$ 12,1 bilhões. Já no acumulado de 12 meses o déficit deve ser de R$ 154,1 bilhões.
Amanhã será a vez de o Banco Central divulgar o resultado primário do setor público consolidado, que leva em conta também Estados e municípios. A estimativa de 14 economistas é de um déficit de R$ 20,6 bilhões, atingindo o equivalente a 2,3% do PIB no acumulado de 12 meses.
“O que explica esses dados é a arrecadação, que em maio mostrou uma queda mais acentuada”, afirma Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria. “Isso afeta diretamente o resultado do governo central, já que os cortes nas despesas têm sido muito lentos até aqui.”
No mês passado, a Receita Federal registrou uma arrecadação de R$ 97,694 bilhões, recuo de 0,96% na comparação com o mesmo mês de 2016 e pior resultado para maio desde 2010. “Isso é fruto de uma recuperação econômica muito incipiente. É natural que haja volatilidade ao longo desse processo”, explica o economista.
Em abril, o governo central e o setor público consolidado tiveram superávits primários de, respectivamente, R$ 12,57 bilhões e R$ 12,9 bilhões. O mês é tradicionalmente favorável à arrecadação, já que concentra o recolhimento do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF).
“Esse número negativo de maio era de certa forma esperado. O que assusta de fato é o prognóstico para os próximos meses. Com a falta de recuperação econômica, também não veremos a recuperação da arrecadação”, diz Lavieri.
Para ele, “o governo ainda tem condições de cumprir a meta” de déficit primário de R$ 139 bilhões estabelecida para este ano, principalmente por causa de “receitas atípicas”, como concessões, Refis e repatriação. “Mas o risco de não cumpri-la cresceu, sem dúvida nenhuma”, afirma o economista, citando os impactos que a crise política deflagrada pelas delações da JBS pode ter sobre a atividade e, consequentemente, a arrecadação.
Para a equipe econômica do Santander, os números esperados para maio reforçam “a preocupação com a capacidade do governo de cumprir a meta estabelecida para este ano sem recorrer a aumento de impostos”. A estimativa do banco é que os déficits do governo central e do setor público consolidado fiquem em R$ 18,7 bilhões e R$ 19,3 bilhões, respectivamente.
O banco Haitong faz avaliação semelhante. “Infelizmente, os dados fiscais [de maio] provavelmente não trarão nenhuma novidade a respeito da difícil situação em que o balanço fiscal brasileiro se encontra”, diz em relatório a equipe econômica do banco, que espera déficit de R$ 18,5 bilhões para o governo central e de R$ 18 bilhões para o setor público consolidado.
Fonte: Valor