Gestão de risco ganha espaço
O aquecimento da economia e o início de megaprojetos de investimento está abrindo um novo nicho de negócios no mercado de seguros. Para baratear o valor das apólices milionárias, o trabalho de consultoria e análise prévia dos riscos envolvidos no projeto ganha cada vez mais espaço.
Um dos exemplo mais recentes é a mineradora MMX, do empresário Eike Batista. A empresa contratou a Marsh, uma das maiores corretoras do mundo, para fazer a gestão de risco e o programa de seguros do “Sistema Minas Rio”, projeto com investimentos estimados em nada menos que R$ 2,5 bilhões.
A idéia é quantificar todos os riscos presentes no projeto – que compreende o complexo de minério de ferro em Conceição do Mato Dentro (MG), um mineroduto com extensão de 525 quilômetros e a construção do Porto de Açu, em São João da Barra (RJ). As obras estão previstas para começar ainda este mês, após a recente liberação da licença ambiental pelo Ibama.
A avaliação dos especialistas é que com a abertura do mercado de resseguros, que deve começar para valer no início de 2008, o trabalho de consultoria e mapeamento dos riscos de grandes projetos tende a crescer. A razão é que as resseguradoras internacionais vão exigir maior detalhamento das informações antes de assumirem os riscos de projetos tão diferentes como o setor de petróleo, etanol ou infra-estrutura. Com o mercado de resseguro fechado e o monopólio do IRB Brasil Re – até agora única resseguradora autorizada a operar no país – este tipo de trabalho não tinha muito espaço.
Os especialistas do setor estimam que no máximo 10% dos seguros fechados pelas empresas contam com gerenciamento de risco. “O desconhecimento deste tipo de serviço ainda é muito grande. O potencial de crescimento é enorme”, avalia João Pedro Paro Neto, diretor de marketing e canais da seguradora Tokio Marine, que tem internamente uma área dedicada a esse trabalho. A área de transporte de cargas é uma das que mais demandam o serviço.
Alguns especialistas reclamam que há poucas companhias especializadas atuando na área de gestão de risco. Entre as maiores, estão a Marsh e Aon.
Um dos indicadores que mostram o aumento da demanda por consultoria vem da própria Marsh. As operações de consultoria e gestão de risco na corretora tiveram receita 25% maior nos últimos 12 meses. Já as operações de corretagem tradicional cresceram 20%.
Para conduzir as avaliações do projeto de investimento da MMX, a Marsh trouxe ao Brasil um especialista em mineração que trabalha na unidade da corretora no Canadá. A idéia é não apenas quantificar os riscos normalmente avaliados pelas seguradoras, como o de acidentes e inundações. Mas também ver os riscos financeiros, ambientais e políticos, exigidos principalmente pelos bancos que liberam o financiamento para os investimentos. “Queremos ver a probabilidade e freqüência deste riscos”, afirma ao Valor, Eduardo Takahashi, um dos especialistas da Marsh envolvidos na operação da mineradora.
Para isso, há o trabalho de campo, visitando as instalações da unidade, e ainda reuniões com os executivos da MMX envolvidos na operação. O objetivo é avaliar o impacto destes riscos sobre o projeto e estruturar a cobertura do seguro. Com base nas análises, a Marsh procura as seguradoras e resseguradoras. “A gestão de riscos contribui para a redução de custos do seguro e minimiza a possibilidade de sinistros”, diz Sérgio Rocha, responsável por desenvolvimento de negócios da Marsh no Rio.
No mercado local, a corretora já está apresentando o projeto para as companhias brasileiras. Em novembro, começa a mostrar para as resseguradoras estrangeiras, que devem ficar com a maior parte do risco.
Há várias apólices envolvidas neste tipo de investimento. As principais são a cobertura de riscos de engenharia, responsabilidade civil (danos que a obra possa causar a terceiros) e de transportes (dos materiais para a construção). Mas há outros seguros possíveis. No Porto de Açu, por exemplo, está sendo feita uma reforma e melhoria das instalações, que tem apólice específica. Há ainda a possibilidade de um seguro para cobrir o lucro esperado, ou seja, cobre o ganho que o investidor teria caso a obra não seja concluída.
Fonte: Valor