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Garra e criatividade para driblar a crise

O cenário desolador da economia e da política frustrou o sonho profissional de muitos brasileiros. Com a retração de investimentos, as empresas precisaram cortar custos para manter a rentabilidade, e sobrou para o trabalhador a conta, salgada por sinal. Foi assim com Jessica Jales Miranda, de 28 anos, demitida depois de nove anos como auxiliar administrativa em uma firma no Plano Piloto. “Como sempre trabalhei fora, fiquei angustiada”, conta. Histórias como essa são ouvidas diariamente em todo o país, diante do quadro estarrecedor de 12 milhões de desempregados identificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas quem tem contas a pagar e provê o sustento da família busca saídas e dribla a crise.

O microempreendedorismo é um exemplo. Levantamento do Portal do Empreendedor, da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa e da Receita Federal, divulgado em outubro do ano passado, mostrou que 6,5 milhões de brasileiros estão formalizados como microempreendedores individuais (MEI), categoria na qual se enquadram aqueles que trabalham por conta própria e faturam até R$ 60 mil por ano.

É o caminho que Jessica busca. Com uma filha de 1 ano e 4 meses para sustentar sozinha, ela partiu para uma nova profissão, com ajuda das redes sociais. Depois de ver a propaganda de uma confeiteira no Facebook, a auxiliar administrativa fez um curso na área e decidiu se aventurar na produção de pão de mel artesanal. E não se arrependeu. Hoje, ganha mais do que na atividade anterior. “Trabalho com isso há 9 meses, e é de onde tiro toda a minha renda. Está dando certo”, comemora.

Para divulgar os produtos, Jessica criou uma página no Facebook, na qual também recebe encomendas. O perfil tem mais de 10 mil curtidas. “Em datas comemorativas, são quase três mil pães de mel confeccionados”, diz ela. Ainda na informalidade, a confeiteira afirma que os próximos passos são aperfeiçoar a produção dos quitutes e buscar especialização na técnica, para consolidar a empresa e registrá-la. “Estou esperando as vendas crescerem mais para fazer o registro formal. Acho importante me regularizar”, diz.

A informalidade foi praticamente imposta à moradora de Ceilândia Norte Sara de Paula Freitas, de 32 anos, e ao marido, Daniel Rodrigues, 36. Durante anos, ela se dedicou ao trabalho de vendas em um shopping, mas sempre teve vontade de gerir um negócio próprio. Em 2013, o casal abriu com outras pessoas uma loja de eletroeletrônicos. Mas a crise não deu folga, e a sociedade foi desfeita. Com dois filhos para cuidar, um de 12 anos e outro de 1 ano e 7 meses, eles resolveram iniciar um pequeno negócio de venda de marmitas. “Tomamos essa decisão quando nossa situação ficou ruim. Chegou um momento em que não dava mais e decidimos trabalhar na rua, vendendo a comida que nós mesmos fazemos”, conta.

Internet

O negócio prosperou tanto que, hoje, além da ajuda do marido, Sara conta também com a mão de obra da cunhada e da mãe. Sob encomenda, eles distribuem marmitas em pontos estratégicos do Distrito Federal. “Usamos também a internet para melhorar as vendas, já temos grupos no Whatsapp para divulgar os produtos e estamos preparando um site.” Os planos, agora, são contratar mais gente e expandir o negócio. “Se conseguirmos crescer, pretendemos abrir um restaurante. Sei que é um ramo que vende muito quando a comida é bem-feita”, afirma.

A estudante de biotecnologia Gabriela Hermínio Matos, de 21 anos, fez da paixão por animais uma atividade remunerada. Ela começou a se oferecer como cuidadora de pets em Águas Claras, onde reside. “Sempre quis trabalhar com bichos, embora não tenha formação na área. Assim, vi que o jeito seria cuidar dos animaizinhos das pessoas.” Gabriela se propõe a ir à casa de quem precisa deixar o animal para viajar, por exemplo, ou levá-lo para a própria residência.

Apesar de informal, ela trata a profissão com seriedade. “Águas Claras demanda muito esse tipo de cuidador e eu consegui indicações por já trabalhar em uma ONG de proteção de animais. As pessoas sempre poderão confiar em deixar os pets com alguém que cuida e ama.” No próximo ano, a jovem pretende expandir os horários de atendimento e se regularizar como profissional. “Pretendo também ser dogwalker, para passear com os cães de quem não tem tempo. Creio que será um sucesso”, afirma.

Proteção legal

Mais de 100 profissões podem ser asseguradas pelo MEI, segundo a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa. O profissional pode se registrar por meio do Portal do Empreendedor, sem nenhum custo. Basta acessar www.portaldoempreendedor.gov.br para fazer o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Entre os benefícios da regularização está a possibiliade de emitir nota fiscal, o que amplia o alcance do negócio. Além disso, em troca de uma carga tributária reduzida, a pessoa passa a ter direito a benefícios previdenciários, como auxílio-maternidade e auxílio-doença, além de aposentadoria, após 15 anos de contribuição.

Foco em talentos

Para gerar trabalho e renda, criatividade é um ativo que faz diferença tanto para empresas quanto para trabalhadores. Não à toa, um modelo de economia cresce e abre oportunidades em todo o Brasil: a indústria criativa. No ano passado, o setor contabilizava 851,2 mil profissionais, de acordo com a quinta edição do Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, divulgada em dezembro pelo Sistema Firjan, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. O aumento foi de 0,1% de 2013 para 2015 – avanço considerado relevante diante do fechamento generalizado de vagas no mercado de trabalho brasileiro no período.

As profissões apresentadas no estudo ocupam 13 segmentos: arquitetura, artes cênicas, audiovisual, biotecnologia, design, editorial, expressões culturais, moda, música, patrimônio e artes, pesquisa & desenvolvimento, publicidade e tecnologia da informação e comunicação (TIC). Os criativos têm salário médio de R$ 6.270,00, mais de duas vezes e meia a remuneração média dos empregados formais brasileiros (R$ 2.451,00), segundo a pesquisa.

São Paulo e Rio de Janeiro se sobressaem no mercado de trabalho criativo: 328 mil trabalhadores paulistas (2,4% de todos os empregados formais do estado) têm como principal ferramenta de trabalho a criatividade. No Rio, são 99 mil (2,2%). “Isso ocorre por conta do nível de qualificação e a especificidade do trabalho, já que a área demanda profissionais com grau de formação e especialização cada vez mais elevado”, diz o gerente de Indústria Criativa da Firjan, Gabriel Santini Pinto.

Tendências

A participação do PIB criativo no PIB brasileiro cresceu de 2,56% para 2,64%. Com isso, a área gerou R$ 155,6 bilhões para a economia em 2015. As maiores participações nos PIBs estaduais ocorrem em São Paulo (3,9%), Rio de Janeiro (3,7%) e Distrito Federal (3,1%), todos acima da média nacional (2,64%).

Ronaldo Cavalieri, diretor geral do Centro Europeu, instituição que prepara profissionais para as novas tendências do mercado, diz que as empresas passaram a ter mais foco em resultados e, para isso, precisam melhorar a produtividade. “Tudo o que a máquina não fizer o homem terá que fazer melhor, e mais do que nunca as empresas terão de investir em talentos e no desenvolvimento de soft skills, que são competências e habilidades voltadas ao comportamento pessoal”, observa. As empresas também precisam dar atenção a formatos de trabalho mais flexíveis, como prestação de serviços e parcerias em projetos.

Fonte: Correio Braziliense

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