Frutas e raízes brasileiras embalam lançamentos
Ivonaldo Alexandre/Valor
Andrea Martins, da Kraft: com Tang cajá e graviola, participação de mercado no NE cresceu para 20,4%
Familiares para qualquer agricultor, sabores típicos brasileiros estão chegando ao consumidor como opções exóticas. Da mandioca ao guaraná, passando pelo açaí, banana da terra e graviola, raízes e frutas brasileiras ganharam a atenção da indústria de alimentos e bebidas, que encontraram nesses produtos não só uma alternativa saudável, como rentável. Diante da infinidade de lançamentos nas prateleiras, a redescoberta das origens está incrementando as vendas de produtos como suco em pó, sorvetes, isotônicos e salgadinhos.
O Tang, suco em pó da americana Kraft Foods, conseguiu alavancar as vendas da marca no Nordeste com o lançamento dos sabores cajá e graviola. Em um ano, a participação de mercado na região saiu de 16,2% para 20,4%. “O share adicional veio 100% dos novos sabores”, afirma Andrea Martins, gerente de marketing da empresa. Juntos, os dois sabores representam 22% do volume de vendas de Tang no Nordeste e são mais vendidos do que os tradicionais sabores laranja e maracujá.
O sucesso do produto na região levou a empresa a “nacionalizar” os sabores e estender a distribuição para todo o Brasil. Fora do Nordeste, a multinacional americana aposta na curiosidade do consumidor e no saudosismo dos migrantes nordestinos espalhados pelo país. “São produtos muito difíceis de fazer suco, por isso, a praticidade, a conveniência e o preço acessível do suco em pó casam perfeitamente com esse tipo de fruta”, afirma.
A Kraft também aproveitou a preferência dos consumidores nordestinos para lançar os sabores cajá e graviola com a marca de combate Fresh, líder de mercado no Nordeste. Enquanto Tang custa R$ 0,69 o pacote para fazer um litro, Fresh é vendido por R$ 0,49 e rende dois litros. “Achamos que também havia espaço para uma opção com preço baixo.”
Outra fabricante de suco em pó, a Brassuco Alimentos, de Itu, está lançando a versão jabuticaba e aposta no novo sabor para incrementar as vendas de verão. Alexandre Muller, diretor da companhia, acredita que mesmo um produto popular como o suco em pó tem espaço para um sabor menos convencional.
A General Brands, fabricante de suco em pó Camp e que recentemente adquiriu a linha de sucos prontos da Usina Nova América, está em fase de testes para lançar na versão em pó os sabores mangaba, graviola e cajá para o próximo ano. E está em estudos preliminares com o cupuaçu. “Essas frutas têm muita vitamina C e é preciso fazer vários testes para que o produto não fique muito ácido e tenha um sabor harmonioso”, afirma Isael Pinto, diretor-geral da General Brands.
A Unilever, que já tinha feito parcerias com empresas como Bauducco e Cadbury Adams, agora se uniu à gigante AmBev para lançar, a partir de dezembro, um picolé com sabor guaraná. O produto é uma edição limitada – deve circular até o mês de abril de 2008 – e marca a entrada do Guaraná Antarctica em um novo segmento. Ontem, os convidados do camarote da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) no jogo da seleção brasileira contra o Uruguai no Morumbi foram os primeiros a experimentar o novo produto. O Guaraná Antarctica é patrocinador oficial da seleção.
O Gatorade, isotônico da Pepsi, distribuído pela AmBev, ganhou a versão açaí guaraná em junho deste ano. A princípio, o produto seria edição limitada, mas caiu no gosto dos consumidores e ganhou espaço no portfólio permanente de sabores. Gatorade é uma marca global e o Brasil foi o primeiro a testar o sabor tipicamente regional.
A divisão de alimentos da PepsiCo, a Elma Chips, também enveredou por esse caminho ao lançar a linha “Sabores da Terra”, com salgadinhos nos sabores mandioca e inhame. “Há uma tendência mundial de autenticidade alimentar e, estimulados pela nossa equipe de pesquisa em Nova York, fomos buscar alimentos que remetessem à cultura do nosso país”, afirma Carlos Ricardo, diretor de marketing, pesquisa e desenvolvimento da Elma Chips. A tradicional batata frita é típica dos Estados Unidos e Inglaterra e o Doritos, feito de milho, remete à cultura mexicana e da América Central.
A Elma Chips foi pesquisar as bases da alimentação do brasileiro que poderiam ser transformadas em salgadinhos. Chegou, inicialmente, ao inhame e mandioca – que também leva na embalagem os nomes regionais aipim e macaxeira. Segundo o Valor apurou, os próximos sabores podem ser mandioquinha e banana da terra. A empresa não confirma. “Há vários sabores sendo testados”, diz o diretor.
Fonte: Valor