Filha, mamãe precisa trabalhar!
Hoje me peguei pensando no peso que as obrigações têm em nossa vida.
Eu, por exemplo, amo escrever…às vezes muito ou às vezes pouco… Sempre de acordo com o que a ocasião pedir.
Foram inúmeras cartas para amigos, boas redações no colégio, boa colocação em testes para empresas. Depois continuei escrevendo para o marido e para meus pais, e até passei a escrever “textões” no Instagram… Sempre à toa, despretensiosamente, apenas jogando sentimentos e pensamentos no papel. É uma forma de expor e colocar para fora um pouco daquilo que penso e sinto. E, se possível, gerar uma singela contribuição para meu marido, amigos, pais, colegas ou mães por aí.
As palavras que uso nunca foram muito rebuscadas, mas suspeito que sejam profundas quando tocam o coração de quem as recebe. E gerar alguma emoção no outro é extremamente emocionante para mim!
Um dia, meses atrás, recebi um convite – indicação de um amigo querido que conhece esse meu prazer. O convite veio de uma mulher, também amiga dele, e era para escrever um artigo simples, sobre tema livre. Uma sugestão seria algo sobre maternidade e carreira… Afinal de contas, uma mãe de três (sendo dois gêmeos), que trabalha em uma grande empresa e mora em São Paulo já é um desafio por si só.
Adorei o convite! Quis muito contribuir e escrever esse artigo… Mas travei! Passei semanas sem avançar… Pedi mais prazo… Comecei várias vezes… Até que me senti envergonhada e não entrei mais em contato com a pessoa. Desisti.
Ontem me peguei pensando no peso das obrigações… Eu, que sempre amei escrever, que tenho certa facilidade no uso das palavras, que deveria conseguir colocar um artigo simples em um papel em poucas horas… Simplesmente senti um peso de uma obrigação à qual me comprometi e isso me calou. Até hoje!
Refletindo sobre isso, me dei conta que, se isso não acontece sempre, acontece, com certeza, muitas vezes em nossa vida. Gostamos do leve, do natural, daquilo que é fluido e tranquilo. Quando o prazer vira obrigação, já não é tão prazeroso assim… Será?
Ao mesmo tempo que reflito pensando que sim, sinto um enorme sentimento dizendo que não! Não é bem assim!
A verdade é que mesmo as piores obrigações ou os melhores prazeres podem trazer sentimentos opostos ao que deveria ser natural, e cabe a nós, seres humanos inteligentes e desenvolvidos, transformar esses sentimentos.
Agora você já deve estar se perguntando: o que raios isso tem a ver com o nome do meu artigo… Filha, mamãe precisa trabalhar!
Escolhi esse nome, porque trabalhar fora e ter filhos não é só um desafio para “dar conta”, mas também o desafio de dar o exemplo certo. E a definição de “certo”, para mim, é dar o exemplo que está alinhado com nossas crenças e valores, sejam eles quais forem.
Quando minha filha mais velha era pequena, eu e seu pai costumávamos dizer a ela, sem pensar muito: “filha, mamãe precisa ir trabalhar para ter dinheiro para pagar isso ou aquilo” ou então: “filha, mamãe precisa trabalhar porque, senão, perderá o emprego e ficaremos sem dinheiro” e tantas outras variações…
Até que um dia, eu não ia para o trabalho por algum motivo, e ela começou a chorar, dizendo que, se eu não fosse trabalhar, nós não teríamos mais dinheiro. Nessa época ela tinha cerca de 3 anos. Hoje, tem 9.
Nesse dia, caiu uma ficha que mudou bastante a trajetória da educação dos meus filhos.
Eu não preciso trabalhar apenas pelo dinheiro… (graças a Deus!). Mas ainda assim, eu, Natalia Rodolpho, preciso trabalhar!
Porém, depois desse dia, comecei a explicar para minha filha (até então eu só tinha uma, mas hoje o mesmo discurso se replica para os três) que eu preciso trabalhar… Porque trabalhar me dá amigos, me preenche, me faz pensar, me deixa mais inteligente, me permite ajudar pessoas, me proporciona experiências e dinheiro e porque sou muito feliz por trabalhar!
Pode parecer meio utópico, mas é a mais pura verdade. Assim como tudo na vida, não amo meu trabalho todos os dias, nem todas as funções que exerço e nem todas as pessoas com quem convivo. Mas, no balanço geral, eu adoro trabalhar e sou muito feliz com minhas escolhas diárias!
Não estou falando de cargo ou salário, e sim de amizades sinceras, da necessidade de me esforçar para crescer e evoluir, ter objetivos claros para seguir em frente e até da rotina de acordar todos os dias e me arrumar para sair (quase sempre atrasada, reconheço). Isso pode não fazer sentido para todo mundo, mas, se você está lendo até aqui, certamente parte disso faz sentido para você também.
Não quero ensinar aos meus filhos que o trabalho é algo ruim, porque, para mim, ele nunca foi. E aquele discurso de que trabalhar serve para ganhar dinheiro faz sentido até certo ponto. Sabemos que nem sempre o dinheiro é fruto de trabalho duro, e isso pode gerar uma certa revolta com modelo tradicional de trabalho, como já tem acontecido com muitos jovens no Brasil e no mundo.
Dizer isso, é quase como afirmar que sou mãe para ter alguém para cuidar de mim na velhice, ou que tenho mais de um filho para que eles sejam melhores amigos para vida toda. Não é mentira (risos), mas é só meia verdade! Não podemos garantir o futuro, mas podemos fazer tudo aquilo que acreditamos para que, no fim, esse seja um dos resultados.
A verdade é que, se a jornada não for boa, nada terá valido a pena, e possivelmente não chegaremos a esse “final”. Eu preciso ter clareza e maturidade para ensinar aos meus filhos que tudo o que é bom, custa muito. Ou seja, para grandes prazeres precisaremos fazer grandes esforços. Mas essa conversa não é apenas sobre trabalhar!
Ser mãe, por exemplo, é maravilhoso, mas exige demais de uma mulher. Custa energia, custa esforço, custa noites em claro, às vezes custa empregos, carreiras, casamentos. E, nesses casos, o futuro continua sendo incerto, sem nenhuma garantia. Ainda assim, precisamos curtir a jornada! Odiamos acordar na madrugada, mas adoramos aquele cheirinho de bebê no nosso colo, odiamos trocar cocô fedorento, mas adoramos os braços pequeninos nos envolvendo em um abraço, não gostamos nada de lidar com as birras, mas nos derretemos quando ouvimos um “eu te amo, mamãe”.
Quero ensinar aos meus filhos que nada é bom o tempo todo, mas que, apesar disso, precisamos ser resilientes e sempre buscar o lado positivo da história, enxergar o copo “meio cheio”. Esse lado bom que nos faz suportar as diversas frustrações que encontraremos na vida e, ainda assim, ter certeza de que ela é muito boa!
Escrevi tudo isso em poucos minutos, enquanto eu pensava sobre a vida. Acompanhada de meus filhos e marido que estão no mesmo ambiente, assistindo desenho. Finalmente, consegui tirar o “peso da obrigação” de escrever um artigo, e simplesmente curtir o processo.
Então, a idéia de “filha, mamãe precisa ir trabalhar” não é sobre sair para trabalhar fora e tampouco sobre “trabalhar” em si.
Meu ponto é sobre cuidar e observar atentamente a forma como completamos essa frase, pois ela pode vir carregada de um peso enorme ou transmitir o que realmente queremos passar às próximas gerações: esperança e inspiração!
#amaternidadeélinda