Exposição ao risco deve aumentar com novo cenário
No mundo dos milionários a velocidade com que se aceitam mudanças estratégicas de investimentos por conta da conjuntura é maior do que no varejo. A trajetória de queda acentuada da Taxa Básica de Juros, a Selic, que do ano passado para cá saiu de 14,25% para 7,50% – podendo chegar a 7,25% até o fim do ano -, fez com que alguns investidores começassem a reposicionar seus recursos em busca de retornos maiores.
Acostumados a ganhar dinheiro fácil na renda fixa, com baixo risco, os clientes private precisam agora se expor mais para obter ganhos parecidos ou superiores aos do passado. E isso é perceptível em números. Enquanto os investimentos em ações e demais ativos de renda variável cresceram 7,4% no primeiro semestre em comparação a dezembro do ano passado, atingindo R$ 112,5 bilhões, os aportes em títulos de renda fixa (papéis públicos, debêntures, entre outros) caíram 3%, para R$ 272,2 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A participação da renda fixa nas carteiras, no entanto, ainda se mantém alta, em 33,8%, mas os gestores afirmam que deve continuar caindo, o que pode redesenhar o perfil da indústria nos próximos anos. “Este ano tem sido bom para multimercado e Ibovespa. Tem também muita oferta de CRA, CRI e debêntures incentivadas dando rendimento elevado”, diz João Albino Winckelmann, presidente do comitê de private banking da Anbima e diretor de private banking do Bradesco.
Trabalhando com uma plataforma 100% aberta na qual todos os fundos são de gestores terceirizados, o Citi, que cuida de 500 famílias no Brasil, sendo 50 arregimentadas este ano, vê essa movimentação ocorrendo de forma mais intensificada no público detentor de grandes fortunas. O valor mínimo de entrada desta categoria no banco é de US$ 5 milhões líquidos conjugados a patrimônio total de US$ 25 milhões.
“Estamos vendo também um processo de internacionalização mais acentuada dos portfólios. Em alguns casos, mais da metade dos recursos estão indo para fora”, diz Cesar Chicayban, vice-presidente do Citi Private Bank no Brasil.
Para o banco, o momento leva a olhar para ativos ligados às áreas de private equity (PE) e real estate (RE), por isso tem analisados 300 negócios neste ano, dos quais identificou de sete a dez oportunidades de investimentos.
“A projeção de retorno em PE com boa diversificação pode superar 12% ao ano para o próximo ciclo econômico que devemos entrar”, diz Chicayban. No mundo, o Citi tem US$ 390 bilhões sob gestão na categoria private banking.
No Banco do Brasil, a carteira de renda fixa com CDI pós- fixado vem perdendo participação para os fundos multimercados nos últimos 12 meses, dentro do segmento private. Mas o BB ainda vê oportunidades na renda fixa, em ativos com duração maior. “Dá para capturar rendimento acima do CDI, inclusive nos multimercados de renda fixa, com parcela de crédito privado e outros ativos”, indica Fábio Cristiano Euzébio, gerente geral de private bank da instituição.
Para o BNP Paribas, o novo cenário é uma tendência e deve levar o Brasil a um modelo de negócios semelhante ao mercado internacional. “A forma como os bancos se relacionam com os clientes e se remuneram deve mudar com aumento da oferta de serviços de investimentos e aconselhamento”, diz Mauro Rached, diretor da área de wealth management.
Fonte: Valor