Exposição a riscos de inundações pode atingir 43 milhões de pessoas no Brasil em 2030
Os deslizamentos de terra, os transbordamentos dos rios e as inundações repentinas são os desastres naturais mais custosos no Brasil. Segundo o banco de dados sigma da Swiss Re, entre 2000 e 2009 esses eventos foram responsáveis por 120 mortes e perdas econômicas de R$ 440 milhões por ano, e, somente em 2010, registrou prejuízos de R$ 1,7 bilhão e 450 mortes.
Especializada em riscos catastróficos e no desenvolvimento de ações alternativas junto a governos e seguradoras, a resseguradora Swiss Re passou a estudar minuciosamente a região. O relatório Acompanhando o risco de inundações no Brasil: prevenção, adaptação e seguro são estratégias sensatas divulgado no final de 2011 traz uma estimativa alarmante: a população brasileira exposta ao risco de inundações pode chegar a 43 milhões em 2030.
Hoje, a quantidade de pessoas nestas áreas soma 33 milhões, com perdas anuais de US$ 1,4 bilhão, e que deverá atingir US$ 4 bilhões em 18 anos – os valores são estimados com base na expansão das áreas urbanas, no crescimento da população e dos efeitos das mudanças climáticas. O levantamento ainda aponta as regiões sul, sudeste e nordeste do País como as que serão mais afetadas.
No passado, as inundações não eram tanto o foco de atenção para o mercado de seguros e, nos últimos quatro anos, vimos que as consequências das mudanças climáticas estão mudando o panorama. O Brasil não tem exposição catastrófica, mas as inundações são o risco que temos de nos concentrar, analisa o líder da Swiss Re para o Brasil e Cone Sul, Rolf Steiner.
Enquanto em alguns países já se tem um microsseguro residencial com cobertura para alagamento por meio de um contrato de resseguro catastrófico, no Brasil a maioria das apólices tradicionais exclui. Observamos que não é comum uma apólice residencial no País incluir o perigo das inundações; onde há esta cobertura é no seguro do automóvel. Outros países têm grande variedade de soluções, enquanto em outros o governo administra um fundo, em que os riscos estão cobertos pela indústria de seguros, diz o líder da resseguradora.
No entanto, segundo ele, as ocorrências estão fazendo com que as companhias e o governo aumentem a conscientização sobre os alagamentos.
O setor de seguros cada vez mais tem produtos específicos para cobrir os riscos existentes. Além disso, também podemos contribuir para aumentar o conhecimento sobre esses riscos e ajudar na mitigação para limitar a exposição, enfatiza Steiner, ao lembrar que outros países, onde há exposição do risco, conta-se com produtos específicos. A diferença é que alguns países têm mais sofisticação para desenvolver modelos de cálculo e produtos para determinadas regiões. É uma questão de tempo para o Brasil desenvolver coberturas para cada região. Nós, da Swiss Re, estamos trabalhando nisso.
No Brasil, nos últimos sinistros que tivemos por inundações, infelizmente, a parte segurada estava abaixo de 15% do dano total econômico, comenta Rolf Steiner.
O fato de grande parcela da população não ter uma apólice como garantia no Brasil não é exceção, pois, no geral, as catástrofes em outros países afetam a fatia da população que não têm seguro.
Por esse motivo, a resseguradora mantém diálogos com o governo brasileiro para auxiliar no desenho de soluções para prevenir e mitigar os riscos aos quais as populações em zonas de riscos estão expostas. A proposta é uma parceria público-privada para financiar os riscos de desastres.
Conforme Steiner, já foi sugerida uma solução simples para medir a quantidade de água para diferentes regiões para o governo do Rio de Janeiro, que tem demonstrado interesse pela discussão.
Estamos preparados para gerar soluções para governos, de forma que possamos dar cobertura a esse segmento. O trabalho da Swiss Re é contribuir para melhorar a exposição, como, por exemplo, introduzir sistemas de drenagem e projetos de estabilização de encostas.
A iniciativa é uma inspiração do que foi realizado em parceria com o governo mexicano. Em 2009, para aprimorar a capacidade de resposta financeira do Fundo para Desastres Naturais destinado a melhorar a preparação financeira para enfrentar essas crises, o México patrocinou o Programa MultiCat, de obrigações de catástrofes organizado pelo Banco Mundial em colaboração com a resseguradora.
A população de baixa renda acaba sendo também mais propensa à exposição a riscos por morar em áreas de perigo como encostas ou regiões alagadiças. O estudo também sugere o desenvolvimento de um microsseguro, recém-regulamentado no Brasil, contra enchente para estas pessoas.
A Swiss Re possui um caso de sucesso nestes moldes no Haiti, no qual pequenos comerciantes que compõem a economia informal passaram a contar com um esquema de resseguro contra catástrofe em virtude de uma parceria firmada entre a resseguradora e a Fonkoze, uma instituição de microfinanciamento do país.
Fonte: Revista Cobertura