Exportações de folheados já superam as de jóias
As peças brasileiras confeccionadas em latão ou bronze, que recebem banho de ouro ou prata – os chamados “folheados” – venderam US$ 134 milhões no mercado externo no ano passado, superando pela primeira vez as vendas de joalheria (peças produzidas a partir de ouro 18 quilates ou prata de lei), que somaram US$ 129,1 milhões lá fora. Em comparação a 2006, a alta dos folheados de metais preciosos foi de 34%; em relação a 2005, as peças venderam 75% mais no mercado externo.
“Trata-se de um feito relevante, considerando que os fabricantes brasileiros tiveram que lidar com o câmbio desfavorável”, diz Écio Barbosa de Moraes, diretor do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Segundo Moraes, o resultado dos folheados no exterior reflete a crescente profissionalização do setor, que vem deixando a informalidade para ganhar espaço na América Latina, Estados Unidos e Europa. “Em parceria com outras instituições, como Sebrae e Agência de Promoção de Exportações Brasileiras (Apex), organizamos a participação dos fabricantes nacionais em feiras, como a Eclat de Mode, em Paris, e a Bisutex, em Madri”, afirma.
No mercado nacional, os fabricantes participam de outras sete feiras anuais. “Aqui, eles também recebem cada vez mais a visita de compradores estrangeiros”, diz Vera Masi, diretora da Masi & Associados, que organiza as feiras no país há quase vinte anos. Só em abril, serão dois eventos: a Bijóias Rio, nos dias 2 e 3 na capital fluminense, e a Bijóias Brasil, de 22 a 24, em São Paulo. “Já existem peças brasileiras vendidas em grandes redes varejistas européias, como a El Corte Ingles, da Espanha”, diz Vera.
Para ela, a razão do sucesso do folheado brasileiro lá fora está em encontrar espaço no mercado “intermediário”. “Nossas peças ficam entre as chinesas, produzidas em larga escala e com baixo acabamento, e as sofisticadas peças de grife, como as da Tiffany”, afirma. Além disso, diz Vera, o design brasileiro agrada muito lá fora. “Justamente por não ter tanta tecnologia como as peças italianas, por exemplo, nossos folheados têm aparência artesanal, o que é bastante valorizado”.
Por aqui, os folheados e as jóias brigam na mesma proporção que David e Golias: enquanto as semi-jóias (incluindo bijuterias tradicionais) faturaram R$ 525 milhões no mercado interno em 2007, as jóias tiveram receita de R$ 4 bilhões. No mercado interno, as vendas também estão em expansão, impulsionadas pelo aumento do poder de compra. Cerca de 90% das empresas deste segmento são micro e pequenas, boa parte informais, mas estão procurando se legalizar e se tornar competitivas para vender no mercado externo.
Um exemplo é a Marré Infinito, de Belo Horizonte (MG). “Investimos R$ 500 mil para organizar o nosso processo produtivo, que antes se restringia ao acabamento e à montagem”, diz Patrícia Roscoe, diretora da Marré. As vendas externas cresceram 30% no ano passado, atendendo clientes dos EUA, México, Chile e Espanha. “Oferecemos elegância com preço acessível”, diz ela, que comanda 35 funcionários e tem capacidade para produzir 500 mil peças ao ano.
Na Sebben, de Guaporé (RS) – cidade que representa, junto com Limeira (SP), os dois principais pólos brasileiros de produção de folheados -, as vendas externas devem aumentar em 36% o contingente de pessoal este ano, para 150 funcionários. “Começamos com as exportações há dez anos e já vendemos para 15 países das Américas”, diz o diretor Lauro Sebben. As exportações significam 40% da receita da empresa, que agora se prepara para atender clientes europeus. “Precisamos aumentar o valor agregado das jóias e adaptar o design para o padrão europeu, que prefere peças maiores”, diz Sebben. “Nossa produção está adaptada para vender aos latinos, que pagam em torno de US$ 5 por peça, mas os europeus não se incomodam de desembolsar até ? 40 euros por um produto bem acabado”, afirma.
Com uma produção mensal de 80 mil peças, a fabricante carioca Espaço Bijoux registrou só nos dois primeiros meses do ano um crescimento de 30% nas exportações quando comparado a dezembro de 2007. “A alta foi motivada por novos contratos fechados com Argentina e Chile”, conta Kellen Campos, sócia da Espaço Bijoux. Da produção total, entre 20% e 30% são enviados ao mercado externo. Além dos países vizinhos, a empresa vende para Espanha, EUA, República Dominicana e Equador.
A mineira Claudia Arbex também comemora o sucesso de suas bijuterias lá fora. A empresa, que leva seu nome, encerrou o ano com um aumento de 25% nas vendas para países europeus e principalmente para Dubai, nos Emirados Árabes. Claudia, porém, alerta que para entrar no mercado externo é preciso se adequar a uma série de exigências. “As peças não podem ser banhadas com níquel, precisam ser feitas com aço cirúrgico, ter garantia e uma embalagem bacana”, diz Claudia.
A designer Camila Klein, que assina uma linha de bijuterias sofisticadas, já é conhecida nos países europeus, tendo inclusive exposto na Galeria Lafayette, em Paris. Hoje, 30% das 5 mil peças que produz por mês estão nas vitrines de lojas do Japão, Arábia Saudita, Alemanha, Itália, França e México. A produção das peças é praticamente artesanal, feita por 50 pessoas instaladas em uma casa no Jardim Paulista, em São Paulo. “O trabalho artesanal e o uso de materiais sofisticados, como cristais Swarowski, são os nossos diferenciais e o que atrai a clientela mais exigente de outros países e do Brasil”, diz Camila, que possui uma loja no Morumbi Shopping. A designer planeja ainda abrir uma unidade no Rio e outras três em São Paulo.
O varejo de bijuterias também comemora. A Morana, do grupo Ornatus, possui lojas em Nova York e em Los Angeles, ambas nos Estados Unidos, e duas lojas na cidade do Porto, em Portugal. A linha vendida nestes países não difere muito do que é encontrado nas suas 100 lojas brasileiras. A receita mensal média de cada uma dessas lojas é de US$ 25 mil.
Fonte: Valor