Estudo mostra como pensam os ladrões
Casa com muro é o alvo preferido dos bandidos. A sensação de segurança que o proprietário busca ao erguer uma muralha reverte em favor do ladrão na hora do assalto: serve de esconderijo, pois impede a visão de quem está do lado de fora. A informação é daqueles que mais entendem do assunto: os próprios assaltantes.
Durante dois anos, a Polícia Militar do Paraná realizou um estudo com o objetivo de determinar características arquitetônicas e de planejamento urbano que facilitam ou induzem à prática de delitos. Além da análise de cerca de 200 residências e estabelecimentos comerciais, um questionário foi desenvolvido e aplicado a um grupo de criminosos presos no Paraná. A seleção dos participantes priorizou os envolvidos em crimes contra o patrimônio.
É a experiência do bandido em benefício da sociedade, diz o tenente-coronel Roberson Luiz Bondaruk, que coordenou a pesquisa. Para garantir o caráter científico, dos mil questionários aplicados, apenas 287 foram considerados. A colaboração voluntária era uma garantia para evitar invenção de dados, explica Bondaruk.
O resultado da pesquisa prova, segundo o tenente-coronel, o que há muito tempo é estudado no Exterior, mas que ainda é pouco conhecido no Brasil: fatores ambientais exercem influência direta na segurança pública. Além disso, as primeiras análises demonstram que as informações coletadas têm caráter universal, ou seja, são semelhantes e aplicáveis em qualquer município.
Existem apenas pequenas diferenças regionais quando se faz um trabalho comparativo, segundo Bondaruk. Mas, na estratégia de delito, quando se analisa também aspectos comportamentais dos criminosos, ele afirma que, até agora, não encontrou nada de novo. A cabeça do bandido é mais ou menos a mesma. E segue uma regra básica: a lei do menor esforço.”
Ao conjunto de medidas preventivas que surgem a partir desse tipo de estudo, que é realizado desde 1960, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, foi dado o nome Crime Prevention Through Environmental Design (Prevenção do Crime Através da Arquitetura Ambiental). A expressão tem uma versão simplificada, “Design Against Crime”, que, no Brasil, é traduzida como arquitetura contra o crime.
Sustentável – De acordo com Bondaruk, à medida que se comprova que a arquitetura e planejamento da casa, do comércio e da cidade tem impacto na criminalidade, os conceitos do estudo se tornam úteis para o desenvolvimento urbano sustentável em segurança pública. Com isso, defendemos que existem outras formas de combate à criminalidade, não apenas a ação repressiva da polícia, mas uso de idéias, conhecimento científico e tecnologia, diz.
O vice-presidente de administração imobiliária e condomínio do Secovi-SP, Hubert Gebara, concorda que a arquitetura evita assaltos. Por isso, a entidade passou a oferecer consultoria aos novos empreendimentos, como posições de guaritas e rampas de garagens, altura de muros e iluminação. Ele não acredita, porém, que os aspectos apontados pela pesquisa paranaense sejam universais. “São realidades diferentes. O que deve ser feito é um estudo semelhante em São Paulo”.
Fonte: DIÁRIO DO COMÉRCIO