Estrangeira amplia ação de resseguro
Silvia Rosa
A abertura do mercado ressegurador deverá incentivar a expansão das resseguradoras estrangeiras no mercado brasileiro. Eleita como uma das prioridades do atual governo, segundo informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o fim da reserva deste mercado é classificada por analistas como condição para impulsionar as operações das seguradoras e promover o aumento da participação das resseguradoras internacionais no País. Enquanto o projeto de lei nº 249 não é aprovado, representantes do setor discutem o modelo mais adequado para atuação do IRB-Brasil Re num próximo cenário, que engloba a seleção dos serviços oferecidos à ampliação de sua participação no mercado internacional.
Segundo o gerente de estratégia do IRB, Sebastião Pena, hoje a instituição é responsável por 7% dos prêmios do mercado, dos quais retrocede cerca de 3% para as resseguradoras internacionais.Só neste ano, até o mês de agosto, foram emitidos R$ 1,9 bilhão em prêmios, sendo repassados R$ 972 milhões desse valor.
Pena afirma que com o fim do monopólio desse mercado, o IRB poderá deixar de fazer essa intermediação e pulverização do risco de crédito com as resseguradoras estrangeiras, o que seria realizado diretamente pelas seguradoras. As seguradoras já estão se preparando para a transição. Hoje, elas já podem fazer a cotação do preço do resseguro, mas não a contração do serviço, afirma.
O projeto de lei complementar que regulamenta o mercado, na Câmara desde maio de 2005, e que hoje tramita pela comissão de tributação, prevê uma reserva de mercado de 60% para as resseguradoras nacionais nos primeiros dois anos após a abertura, passando para 40% nos próximos dois anos. Acredito que a abertura seja aprovada até o segundo semestre de 2007, e deverá promover o desenvolvimento do mercado de seguros no Brasil, diz
A atuação do IRB nesse novo cenário também deverá ser redefinida. De acordo com Pena, a instituição deverá se focar na prestação de determinadas modalidades e operar no limite de seu capital. Pode não ser mais interessante para o IRB aceitar contratos que envolvam resseguros muito altos, acrescenta.
Fontes ligadas ao mercado ouvidas pelo DCI asseguram que o governo estuda privatizar as operações internacionais do IRB e privilegiar o mercado doméstico.
Pena, no entanto, ressalta que a instituição tem interesse em ampliar a atuação no exterior em parceria com as resseguradoras internacionais.
Crescimento de estrangeiras
Para o diretor presidente da resseguradora Munich Re no Brasil, Kurt Müller e o diretor técnico e jurídico da empresa, Walter A. Polido, o mercado internacional está confiante de que a abertura ocorrerá . O governo está comprometido de forma eficaz e concreta com a mudança, inclusive perante entidades internacionais, afirma Polido.
Segundo ele, a medida propiciaria o lançamento de novos serviços e produtos como a regulação de sinistros e análises de risco. Além disso, também deverá beneficiar as pequenas seguradoras com a transferência de conhecimento e tecnologia das grandes resseguradoras, segmento, segundo Polido, de grande interesse para o grupo. As pequenas seguradoras poderão ser treinadas in loco ou no exterior, visando nichos de mercado específicos, como seguro de pessoas, agrícola, responsabilidade civil e garantia, que têm grande potencial de desenvolvimento no País, afirma.
A resseguradora Swiss Re também aposta na ampliação do mercado, principalmente em função da expansão do parque industrial brasileiro, que exigirá seguros que agregam grandes riscos. Com o resseguro poderá ser realizado direto com as corretoras e resseguradoras, poderemos ampliar a nossa participação e oferecer cobertura para novos setores, afirma Henrique Abreu de Oliveira, diretor presidente da empresa no Brasil.
O grupo está presente com escritório no Brasil há 10 anos e também possui uma participação de 45% no capital da holding que agrega o UBS Finanças e Seguradora Brasileira Rural.
Oliveira afirma que as resseguradoras estrangeiras poderão ter vantagem nas operações que envolvem resseguro internacional, uma vez que possuem maior experiência nesse mercado. No entanto, a concorrência não deverá ter impacto imediato no preço dos produtos. Como nossas operações são compartilhadas, a taxa dos serviços de resseguros dependem muito mais dos sinistros registrados no exterior do que as condições do mercado interno, diz. Polido também concorda que as tarifas do resseguro não deverão ser reduzidas imediatamete para os clientes, mas acredita que uma eventual redução no preço deverá repercurtir no custo final pago pelo consumidor direto. Para a diretora de resseguros, ramos elementares da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), Maria Helena Bidino, o mercado competitivo traz inúmeras vantagens em relação ao monopólio e oferece a possibilidade de atender novos setores, como o resseguro em saúde, que hoje não é atendido pelo IRB. Outro segmento que poderia se beneficiar é o seguro rural, que teria grande potencial para crescer, uma vez que só 0,7% da área cultivada é coberta por seguro. Ela lembra, no entanto, que as resseguradoras estrangeiras só ampliarão as atividades no País se houver regulamentação clara do mercado. Segundo ela, o projeto apresentado pelo governo sobre a abertura do mercado não prevê a extinção da reserva de cotas após o período estabelecido, o que deverá exigir uma nova lei complementar. Em 2000, quando houve a primeira perspectiva de abertura do mercado, havia 18 resseguradoras estrangeiras no País, hoje restam apenas 10, ressalta Maria Helena.
Fonte: DCI OnLine