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Esqueça o cassino e plante uma árvore para o futuro

Certa vez, nos anos 1980, um jornalista econômico comparou a importância de um escândalo ocorrido nas bolsas de valores brasileiras a um desfalque no Jockey Club. Essa imagem, de clube fechado onde corretores sempre ganham, tinha sua razão de ser. Os volumes eram baixos, pois poucos investidores se arriscavam a entrar em um mercado concentrado em três ou quatro grandes especuladores, sem transparência e no qual as empresas ignoravam solenemente os direitos dos minoritários. Uma série de momentos de euforia seguidos de crises – em 1971, 1985 e nos anos 1990 -, em que pequenos investidores só entraram para pagar a conta, reforçou essa visão de cassino, onde uma “dica” valia muito mais do que qualquer análise.
A boa notícia é que o mercado acionário brasileiro evoluiu bastante, principalmente nos últimos 10 anos, com aumento da transparência e dos controles, tanto da bolsa quanto das empresas, corretoras e autoridades. Cada vez mais o investimento em ações é olhado de forma profissional, na qual o retorno é fruto de uma análise criteriosa dos ativos. Isso não quer dizer, entretanto, que o investimento em ações seja dificílimo e restrito a alguns poucos “iluminados” que entendem tudo sobre economia.
O livro “Desmistificando a Bolsa de Valores: Quem Disse que Ela não É para Você?”, de Marcelo Smarrito, professor dos cursos de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), leva para os leigos os principais conceitos da renda variável e as formas existentes para se aplicar em ações. Em cada um dos dez capítulos, o autor tem a preocupação de explicar, de maneira didática, expressões do jargão de mercado, como “tag along”, ações de primeira linha, liquidez ou hedge. São cuidados que de fato ajudam o leitor e, ao contrário do que se poderia pensar, não tornam o livro enfadonho. Com a preocupação peculiar dos professores, o autor abre alguns quadros no canto das páginas do livro e ali esclarece os conceitos, sem que haja quebra na leitura.
Inicialmente, Smarrito mostra como a estabilidade monetária trazida com o Plano Real, em 1994, contribuiu para fazer da bolsa um investimento atrativo. Mas, como preparação para entrar no mundo da renda variável, e procurar as melhores empresas para investir, o iniciante deve fazer uma espécie de auto-análise, alerta o autor logo no início do livro: “Antes de começar a aplicar dinheiro onde quer que seja, todo mundo deve ter consciência de que tipo de investidor é”.
Uma preocupação de Smarrito é mostrar como é importante ter uma visão de longo prazo quando se fala em bolsa de valores. “Aplicação em bolsa de valores é para longo, longuíssimo prazo – e isso deve ser repetido como um mantra por quem investe em ações ou que tem essa intenção”, escreve. “Quem cair na tentação antes de o prazo acabar pode sair mal dessa história. Por isso, dinheiro em bolsa de valores é para separar e ´esquecer´”, adverte o professor.
Smarrito alerta ainda sobre o risco de, num momento de pânico, o investidor vender os papéis ou sacar de um fundo de ações. “O maior teste de resistência é sobreviver aos períodos de baixa, mantendo-se firme para não retirar o dinheiro se não foi aquele o período planejado”, diz, lembrando que, na bolsa, o segredo é ter planejamento de longo prazo. “As crises podem interferir momentaneamente, mas seu efeito será diluído com o tempo.”
Outra recomendação, além daquela, essencial, de o investidor verificar as qualidades reais das empresas que se mostram atraentes, é a de não concentrar aplicações num único papel. “O ideal de investimento é não concentrar tudo numa só ação. Com o dinheiro espalhado, se acontecer algo com uma empresa a perda é diluída”, escreve o autor. Além disso, lembra, a valorização das ações na bolsa não é o único caminho para se ganhar dinheiro com um papel. De fato, “toda empresa que dá lucro é obrigada a distribuir pelo menos 25% desse ganho (isso é lei) aos acionistas, majoritários e minoritários, após o pagamento de impostos.”
No final de cada capítulo, o livro traz textos de economistas e de profissionais de mercado. São depoimentos úteis para se conhecer diferentes opiniões sobre a evolução do mercado de capitais no Brasil, nos últimos tempos, e também para se refletir sobre suas perspectivas.

Fonte: Valor

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