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Equidade de gêneros e raças no mercado de trabalho

Recentemente me dediquei ao trabalho de selecionar mulheres de destaque do setor de seguros, no qual atuo, para a coordenação e construção do livro Mulheres no Seguro, que foi lançado no fim de novembro. A equidade de gênero nos cargos de liderança sempre foi um tema que me aguçou, e uma causa importante para a qual tenho lutado. Paralelamente, trago comigo outra busca pela equidade: a racial.

Apesar de branca e loira, vivi na pele o que o racismo pode causar. Jovem, me apaixonei por um homem negro e precisei enfrentar o mundo para ficar com ele. Minha família e amigos foram contra o relacionamento. Somente quando me preparava para fugir de casa meu pai decidiu aceitar e convencer os demais de que realmente era importante para mim. Depois disso, chegou a celebrar nosso casamento na igreja batista na qual era pastor.

Esse tempo de amor, amadurecimento e aprendizado durou cinco anos. Dessa feliz união nasceu meu filho único, Vitor, uma joia que Deus me entregou, um ser humano incrível, meu orgulho, meu amor. Com ele, desde que nasceu, acompanho o preconceito que ainda impera na sociedade brasileira. Serei avó daqui a uns meses, e me preocupa muito o mundo que entregaremos ao meu neto ou neta.

Fiz questão de buscar e apresentar uma base de dados sólida para demonstrar o quanto o nosso Brasil ainda é atrasado. É um paradoxo que todo esse preconceito aconteça no país que é composto predominantemente pela raça negra – 55,8% da população se declara preta ou parda ao IBGE (a soma das duas raças resulta nos negros).

Entretanto, no estrato dos 10% com maior rendimento per capita, os brancos representam 70,6%, enquanto os negros 27,7%. Entre os 10% de menor rendimento, isso se inverte: 75,2% são negros, e 23,7%, brancos.

Na minha vida pessoal, se estiver a caminho uma neta negra, acredito que as dificuldades serão redobradas. Muitas brasileiras decidem apostar no empreendedorismo, seja dentro de uma empresa ou em seu próprio negócio, mas enfrentam diversos obstáculos, que, em sua maioria, têm origem cultural.

Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa recorde de desemprego em 2020 foi de 14,6%, sendo a maior registrada desde 2012. Para homens, o índice foi de 12,8%. Sobe para 16,8% entre as mulheres. Outra pesquisa, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), aponta que mulheres negras têm 50% mais chances de serem afetadas pelo desemprego, cenário tomado pela discriminação racial no Brasil.

Na pesquisa “O impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios”, realizada pelo Sebrae e FGV, apesar do desejo de tocar o próprio negócio, as mulheres ainda sentem constrangimento ao solicitar empréstimo aos bancos. Isso acontece porque são ensinadas a duvidar de seu potencial, enquanto homens são estimulados a confiar em suas habilidades e projetos. 

Mulheres com uma condição socioeconômica melhor, embora disponham de mais recursos, também encontram percalços pelo caminho, devido ao machismo.

Essa mesma pesquisa diz que as mulheres negras têm “o dobro ou o triplo” de receio como empreendedoras, em razão da opressão, que vai além do machismo e passa pelo racismo. 

Estudo do Dieese sobre a desigualdade entre brancos e negros na pandemia verificou que a taxa de desocupação dessa parcela, em específico, superou a de qualquer outro grupo populacional, no primeiro e segundo trimestres deste ano, chegando a 17,3% e 18,2%, respectivamente.

As empreendedoras também têm sentido mais dificuldade para se recuperar, o que pode ser relacionado ao comportamento normalmente assumido diante das instituições de crédito.

Em outubro, 77% das empreendedoras ainda registravam perda de faturamento, contra 73% dos homens ouvidos pela pesquisa. Seis meses antes, em abril, a porcentagem era de 89% em ambos os grupos.  

Os pequenos negócios liderados por mulheres negras representam a maior proporção entre as empresas que ainda permanecem com a atividade interrompida. São o grupo com maior dificuldade de funcionar de forma virtual, reunindo a maior proporção de empreendedores que tiveram crédito bancário negado em razão do CPF negativado.

O percentual de mulheres que assumem o controle do lar vem subindo desde 2015 e hoje elas são 46% do total, contra 49% dos homens, segundo a PNADC – Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílio Contínua.

As mulheres negras são 17% dos empreendedores do país e ganham menos do que todos os outros grupos, média de R$ 1.384 por mês. Isso equivale a cerca de metade do rendimento das empreendedoras brancas, de R$ 2.691, e 42% do valor recebido por homens brancos (R$ 3.284). No grupo de mulheres negras donas de negócio há uma proporção maior de chefes de domicílio (49%) do que as brancas (44%).

Para apontar uma última pesquisa, destaco números do relatório Empreendedorismo no Brasil, do Sebrae. As mulheres representam 34,3% dos donos de negócio do país, e as negras representam metade deste contingente (17%). Existem cerca de 4,7 milhões de mulheres negras donas de negócio.

Os negócios conduzidos pelas mulheres negras têm porte menor que das mulheres brancas (é menor a proporção de mulheres negras que são empregadoras). As mulheres negras donas de negócio ganham 49% a menos que as brancas.

Não basta que as mulheres estejam unidas para se fortalecer. A raça humana precisa estar em unidade, agregando todas suas competências pelo desenvolvimento do Brasil. O negro é origem, suor por esta terra, e esta é uma causa pela qual lutarei até o fim. Pelas mulheres, pelos negros, pelas mulheres negras.

No livro Mulheres no Seguro, entre 30 coautoras, tivemos duas grandes executivas desta importante atividade econômica que contaram os obstáculos que precisaram vencer contra o racismo que impera em todos os lugares. Nas organizações, elas precisaram demonstrar três vezes mais que um homem branco de que também são capazes de ocupar posições de destaque e de comando.

É triste que esta ainda seja uma pauta em 2020, mas estamos mudando aos poucos o cenário.

Fonte: NULL

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