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Entrevista realizada com Regina Lacerda

AMMS – Quais as principais habilidades desenvolvidas durante a sua trajetória?

Quando você monta um negócio próprio, sua principal habilidade tem que estar diretamente ligada ao negócio. Eu gostava de conhecer pessoas, falar com elas e vender.

Mas, ao longo da trajetória você precisa deixar aflorar e desenvolver outras habilidades. Quando se tem uma empresa, a gestão passa por vários ambientes.

Procurei focar em conhecer profundamente os produtos que comercializávamos, coberturas, garantias e me tornei expert em manual de condições gerais. Embora com produtos similares, principalmente no ramo patrimonial, as companhias sempre têm algum diferencial em suas coberturas, o que dá a oportunidade de encontrar um produto mais apropriado para cada cliente.

Foquei também em treinamento de vendas, para mim e para minha equipe. Entendi que, quanto mais estivéssemos preparados para informar o cliente, mais teríamos competitividade com as demais corretoras de mercado e maior facilidade para convencê-lo.

Sempre dei o exemplo de disciplina a todos os meus colaboradores. Chegar e sair no horário, ter metas definidas e cumpri-las, honestidade e transparência com clientes e parceiros. Nossa empresa procurou se diferenciar dos concorrentes oferecendo produtos mais completos, mais abrangentes e muitas vezes vendíamos duas ou três apólices para o mesmo cliente no mesmo tipo de seguro, procurando cobrir todas as possibilidades de sinistro, fazendo com que uma complementasse a outra. Esse conhecimento técnico nos proporcionou expertise para impactar positivamente os clientes.

A organização foi um ponto muito favorável, porque já a tenho por natureza e por prazer. Gosto de ter as coisas no lugar, porque me faz bem um ambiente organizado e porque otimiza o tempo. Procurei passar isso a meus colaboradores e implantar na empresa um ambiente organizado, limpo e produtivo.

Procurei desenvolver habilidades, como delegar, uma boa comunicação e saber ouvir. Acredito que isso é um exercício diário. E ter sempre um mentor ou pessoas em que eu possa me inspirar para fortalecer meu negócio.

Em algumas habilidades que não me eram tão fortes, procurei ter pessoas a meu lado que pudessem complementar. Isso fez toda diferença.

AMMS – Há quantos anos você atua no mercado?

Registrei minha empresa em homenagem a minha mãe, D. Vanise Lacerda, no dia do aniversário dela, logo após ter concluído o curso de corretor de seguros dado pela ENS, no dia 21 de dezembro de 1989. Portanto, acabamos de completar 30 anos.

AMMS – Por que decidiu seguir carreira em seguros?

Resido em Brasília, uma cidade que é a capital do funcionalismo público, onde quase todos almejam ser servidores, seja no Executivo, Legislativo ou Judiciário. Não foi diferente comigo. Ao completar 18 anos, fiz um concurso público para o judiciário do DF, passei em boa colocação e logo fui chamada. Aquele era meu sonho. Nos primeiros anos trabalhei com todo afinco, conheci as diversas áreas do Tribunal e fui sendo promovida.

Mas, um dia conheci uma pessoa que estava assumindo o cargo de gerente na seguradora da Caixa e me convidou para trabalhar como inspetora de produção dentro das agências. Era um desafio muito diferente para mim. Porém, me encantei com a possibilidade de ajudar pessoas a terem suas vidas e patrimônios protegidos por apólices de seguros bem elaboradas.

Ele me motivou a solicitar uma licença sem vencimentos e fiquei dois anos naquele cargo na Seguradora. Me apaixonei pelo seguro.

Retornei da licença convicta de que era isso o que eu queria para minha vida. Além do mais, era um trabalho protagonista, tinha liberdade de ações, flexibilidade nos horários (às vezes além do horário comercial) e possibilidade de ganhos elevados. Então, fiquei atuando nos dois trabalhos por dois anos, solicitei uma nova licença sem vencimento por mais dois anos e estruturei a minha empresa. Ao final, em 1998, solicitei minha exoneração em definitivo do serviço público.

AMMS – Você iniciou a carreira no mercado de seguros em uma época em que a atuação das mulheres ainda era tímida. Como você fez para se posicionar em condições de equidade (mesmos direitos, obrigações e privilégios) com os homens neste mercado?

De fato, a atuação das mulheres era muito tímida em 1989, quando cheguei ao mercado de seguros. Tanto é que 1993 tive o privilégio de ser convidada pela atual ENS, à época FUNENSEG, para participar de uma campanha nacional de testemunho de credibilidade da profissão de corretor de seguros, intitulada SEGURO, UMA VOCAÇÃO DA MULHER. Nela, quatro mulheres, cada uma de uma região do país, contava sua história a fim de motivar outras mulheres a ingressarem na profissão. A ENS oferecia um desconto de 40% no curso para as mulheres.

Há 30 anos, a palavra equidade não era mencionada. Mas, há dois fatos curiosos: de acordo com os três estudos sobre mulheres no mercado de seguros, da ENS, as corretoras de seguros afirmam não sofrer discriminação no trabalho.

Outro fato é que uma pesquisa realizada pela consultoria Ernest & Young, entre líderes de empresas de vários países, chegou à conclusão que vai levar décadas – 80 anos – até que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de trabalho que os homens.

Então, temos todos os dias que levantar a cabeça e sair. Porque essa equidade ainda vai demorar muito.

Mas, gosto de lembrar o que disse Charlotte Whitton: “Seja lá o que as mulheres façam, precisam fazer duas vezes melhor que os homens para que seja considerado meio bom. Por sorte, isso não é tão difícil”.

AMMS – Você também teve/tem uma atuação importante na política em Brasília. Pode nos contar sua experiência e a importância do envolvimento da mulher?

Algumas pessoas são motivadas a sonhos, a paixão. Eu sou uma delas. Participar de um pleito eleitoral em Brasília, como candidata ao cargo eletivo de deputada distrital, foi sem dúvida a experiência mais marcante de toda minha vida, depois de ser mãe.

Acredito que pessoas de bem, quando veem um cenário desolador como temos visto nas últimas décadas em nosso país, têm vontade de colaborar.  Então eu fiz o que tinha que ser feito. Falei com amigos, motivei pessoas, organizei um comitê, parti para a rua em busca de votos, de pessoas que pudessem acreditar, como eu, num futuro melhor.

Como em diversas áreas, também na política temos a sub-representação da mulher. Hoje são apenas 15% como deputadas federais e 16% como senadoras. Isso não abre espaço verdadeiro de representatividade, o que acaba não nos trazendo políticas públicas que possam efetivamente melhorar a nossa vida enquanto mulheres.

Ocupei em Brasília o cargo de presidente do Conselho do Trabalho e tive oportunidade de conhecer mais de perto as ações do governo no que diz respeito à geração de empregos e capacitação profissional. Percebi como a mulher é discriminada, tem menos oportunidades, com salários menores para a mesma função.

A partir dessa experiência nunca mais fui a mesma pessoa. Meu olhar sobre o mundo, minha cidade e as pessoas se modificou. Passou a ser mais abrangente, mais humano e muito mais solidário. Assim, tenho buscado contribuir de várias maneiras.

Infelizmente ainda leva tempo para se mudar isso. Porém nós mulheres precisamos entender nosso papel na sociedade como protagonistas dessa representatividade.

AMMS – Quais dicas você daria para mulheres que desejam seguir carreira no mercado de seguros?

O mercado de seguros está se reinventando a cada dia, com a chegada da tecnologia, dos desafios como o que vemos agora em razão da pandemia. A comercialização do seguro também passa por um processo de transformação constante e alguns chegam a dizer que em poucos anos a figura do corretor de seguros, por exemplo, não irá mais existir. Neste cenário, não é nada fácil dar dicas.

Mas, eu posso dizer que fui muito coerente com minhas habilidades, trabalhei duro, focada e sempre procurei estar atenta a tudo o que se passava na profissão.

Sou uma leitora assídua de manuais de condições gerais dos produtos das seguradoras, das revistas especializadas, sempre frequentei os congressos, cursos e seminários. Creio que o mercado de seguros é promissor. Quando o cenário é de produtividade, o seguro é essencial. Quanto mais crise, mais necessidade de segurança e proteção.

A natureza feminina posiciona a mulher como uma profissional multifacetada, capaz de desempenhar várias funções ao mesmo tempo e com genialidade. A mulher é mais atenta aos detalhes, hábil para estabelecer e gerenciar relacionamentos interpessoais, é mais sensível, demonstra performance acima da média, é mais atenta a detalhes.

Tem maior capacidade de superar adversidades, de se manter firme no propósito, de elaborar caminhos estratégicos para conseguir seus objetivos e ainda de manter otimismo e firmeza diante de situações complicadas. Todas essas características são dicas que já estão dentro da própria personalidade feminina da mulher que deseja seguir carreira, tanto em companhias seguradoras quanto em corretoras de seguros.

Regina Lacerda

Pós-Graduada em Administração Pública pela FGV; em Gestão Comercial do Seguro pela ENS; em Ciência da Religião pela FTBB. Graduada em Pedagogia e em Teologia. Formada em Neurolinguística, Hipnose e Coaching pelo Instituto de Neurolinguística (INNER). Escritora, Coordenadora do Livro Mulheres no Seguro. 33 anos no mercado de seguros. Fundadora e CEO da Rainha Corretora de Seguros. Presidente do CESB – Clube das Executivas de Seguros de Brasília. Acadêmica da ANSP – Academia Nacional de Seguros e Previdências. Embaixadora da SOU SEGURA e Voluntária do IDIS.

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