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Encontro destaca desafios e oportunidades no resseguro

O BTG Pactual promoveu um encontro entre investidores e Rodrigo Botti, ex-vice-presidente e CFO do IRB e ex-CEO da Terra Brasis, para debater o mercado de resseguros. Durante a reunião, Botti compartilhou sua visão sobre as dinâmicas globais e locais do setor, a estratégia do Brasil em seguros vinculados a títulos (ILS) e os desafios para a retenção de capital no país.

Botti destacou que o mercado de resseguros passou por um ciclo “suave” entre 2012 e 2020, mas desde 2022 enfrenta um período “duro”. Mesmo com a economia global influenciando esses ciclos, as condições ainda são favoráveis para os resseguradores. No entanto, eventos como os incêndios na Califórnia geraram perdas seguradas de US$ 25 a 40 bilhões, evidenciando a lacuna de proteção devido a preços regulados, que dificultam o repasse de custos aos consumidores. Em 2023, as perdas globais no setor atingiram US$ 150 bilhões, acima da média histórica.

Desde 2019, o volume de prêmios cedidos por seguradoras brasileiras cresceu significativamente, mas isso não necessariamente representa um avanço. Segundo Botti, países seguem dois modelos principais: alguns incentivam seguradoras robustas com ativos locais (como EUA e UE), enquanto outros adotam um modelo “asset-light”, priorizando a distribuição e mantendo ativos no exterior (como Chile e Colômbia).

“O Brasil precisa decidir qual modelo seguir”, afirmou Botti, ressaltando que as seguradoras nacionais possuem R$ 1,7 trilhão em ativos, enquanto os resseguradores locais detêm apenas R$ 20 bilhões. Além disso, a alta carga tributária (40% de imposto corporativo) torna os resseguradores brasileiros menos competitivos frente a concorrentes internacionais com regimes fiscais mais favoráveis.

Entre outubro de 2023 e outubro de 2024, R$ 9 bilhões permaneceram no Brasil, enquanto R$ 24 bilhões foram enviados para o exterior. “O mercado reverteu para um modelo onde uma parcela significativa dos prêmios sai do país”, explicou Botti.

Sobre os títulos vinculados a seguros (ILS), Botti destacou que o Brasil busca alinhar sua regulamentação aos padrões internacionais sem perder a identidade regulatória local. Ele mencionou a complexidade de integrar os mercados de capitais e seguros, mas vê potencial de crescimento, especialmente diante das recentes enchentes no país e da baixa penetração do seguro. “Os danos econômicos acabam sendo cobertos pelo governo, comprometendo recursos que poderiam ser destinados a outras iniciativas”, pontuou.

Ao avaliar seguradoras e resseguradoras, Botti prefere o indicador P/B (preço sobre patrimônio) ao P/E (preço sobre lucro), pois os lucros são voláteis. Ele sugere analisar a relação entre provisões de sinistros e sinistros incorridos, além da evolução do patrimônio ajustado.

A governança também é essencial. “O segmento de resseguros é altamente customizável, semelhante ao mercado de derivativos, o que dificulta análises padronizadas”, explicou. Ele recomenda observar a autonomia das funções de gestão de riscos financeira e atuária e também avaliar se o conselho compreende o negócio. Além disso, considera crucial o investimento em tecnologia: “Focar apenas na operação do dia a dia pode ser um risco existencial no futuro”.

Botti destacou que o mercado brasileiro tem dois tipos de resseguradores: os “pure play”, focados exclusivamente em resseguros, e os vinculados a grupos seguradores. O primeiro modelo garante independência, enquanto o segundo gera sinergias competitivas. Ele também desmistificou a ideia de que o Brasil tem mais de 100 resseguradores: “Os dez maiores grupos controlam 76% do mercado, e os vinte principais detêm 92%”.

Botti vê a reforma tributária em andamento como uma vitória potencial para o setor, especialmente com a eliminação do PIS/COFINS para resseguradoras. Ele também menciona discussões para reduzir a carga tributária corporativa e o crescimento dos ILS como fatores positivos. Apesar dos desafios, ele acredita que o mercado brasileiro tem espaço para evolução e novos investimentos, incluindo a entrada de novos players e eventuais fusões e aquisições.

Fonte: Sonho Seguro

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