Empresas já enfrentam restrição de crédito
As palavras que chegam de Washington esta semana sobre o sistema financeiro americano têm sido aterrorizantes. Mas muitos têm levantado a possibilidade de que a administração Bush está causando pânico a fim de obter apoio para sua proposta de salvamento de US$ 700 bilhões. Contudo, em muitos escritórios, nas cafeterias das companhias e ao redor das mesas de jantar, a realidade do crédito escasso já está limitando a atividade econômica diária.
“Os empréstimos estão basicamente congelados devido à crise dos créditos”, disse Vicki Sanger, que agora se apóia nos cartões de crédito com suas taxas de juros de dois dígitos para financiar a construção de estradas e calçadas para um empreendimento residencial em Fruita, Colorado. “Os bancos simplesmente não estão emprestando”. Com a economia já sofrendo pressões dos preços dos imóveis em queda acentuada, do desemprego crescente e da recém-descoberta austeridade de consumidores onerados pelas dívidas, muitos especialistas temem que o desgaste do sistema financeiro pode deixar o país em perigo por anos.
Sem um mecanismo para tirar os empréstimos inadimplentes de seus registros, as instituições financeiras podem continuar a acumular seus dólares e privar a economia de capital. Os americanos poderiam ser privados de financiamento para comprar casas, mandar os filhos para o colégio e abrir negócios. Isso desaceleraria a atividade econômica ainda mais, prejudicando a qualidade de mais empréstimos, e deixando os bancos ainda mais pressionados. Em suma, uma espiral descendente.
O medo de um resultado desses acabou por provocá-lo , estimulando uma debandada em direção a investimentos mais seguros. O s investidores continuavam a ir rapidamente para os títulos do Tesouro na quinta-feira apesar das taxas de juros próximas de zero, deixando menos capital disponível para empresas e consumidores. Os mercados de ações se recuperaram por quase toda a quinta-feira à medida que um salvamento aparecia. Mas o acordo estacionou, deixando os mercados vulneráveis a saídas.
“Sem confiança, os negócios não conseguem ir em frente; podemos cair em uma recessão mais profunda e finalmente em uma depressão”, disse Andrew Lo, professor de finanças da Escola de Administração Sloan do MIT. “Seria desastroso não ter nenhum plano.”
A administração Bush tem enviado essa mensagem implacavelmente. No Capitólio, o secretário do Tesouro Henry Paulson advertiu sobre um potencial colapso sem um resgate rápido. O presidente do Federal Reserve, Ben S. Bernanke – autoridade acadêmica sobre a Grande Depressão – usou palavras geralmente evitadas por pessoas cujos discursos movem os mercados, falando de uma “grave ameaça”.
Em um pronunciamento no horário nobre da televisão na noite de quarta-feira, o presidente Bush, que tem descrito as pressões sobre a economia como “ajustes”, colocou dessa forma: “Nossa economia inteira está em perigo”.
O recuo considerável em relação ao salvamento reflete desconforto em relação às pessoas que soaram o alarme.
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 14)(Peter S. Goodman/The New York Times)
Fonte: Gazeta Mercantil