Empresários relutam em reabrir negócios em meio à pandemia
Quase quatro meses após fecharem as portas ou reduzirem suas operações por conta da quarentena, necessária para conter a expansão da pandemia de coronavírus pelo país, muitos negócios começaram a retomar suas atividades nas últimas semanas. Mesmo com o país longe de registrar queda no número de casos e mortes por coronavírus, governos já começaram a flexibilizar o funcionamento de parte das atividades econômicas.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, bares e restaurantes tiveram permissão para reabrir, ainda que sob diversas limitações e condições, para evitar uma piora na pandemia. Mas, diante do cenário de incerteza, empresários ouvidos pelo G1 preferem seguir sem receber clientes em suas mesas.
E as dificuldades seguem, mesmo para quem reabriu: além das novas regras, que exigem distanciamento, horários de funcionamento mais curtos, máscaras e higienização constante, empresários reclamam da falta de recursos para refazer estoque e pagar salários. A situação é acentuada ainda pela dificuldade em obter crédito: poucos conseguem, e os que chegam lá recebem menos do que pediram.
Economistas apontam que o país saiu do fundo do poço da crise, atingido em abril. Mas, com a lentidão da retomada e a falta de confiança, a recuperação parece distante de ser alcançada.
Desde março, o G1 acompanha as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise provocada pela pandemia do coronavírus e pelo fechamento dos negócios necessário para conter a disseminação da doença.
Mesmo com a flexibilização da quarentena na cidade de São Paulo, o empresário Younes Bari, dono do bar Kaia, ainda não se sente seguro para reabrir ao público. Além da preocupação com o aumento do contágio de Covid-19, ele avalia que não compensa investir em estoque, neste momento, sem ter certeza do nível de adesão de clientes e, portanto, de uma retomada das vendas.
Por enquanto, o dono do Kaia prefere continuar focado no sistema de delivery de refeições por aplicativo – implementado em abril – e nas “barricadas”, um sistema de ‘pegue e pague’ que é montado na porta do bar desde o início da pandemia.
Após cerca de 100 dias de portas fechadas, o Bar do Bigode, no Rio, pôde voltar a funcionar. A reabertura foi garantida após a mobilização de clientes, que doaram R$ 12 mil ao dono do estabelecimento.
A reabertura do bar, no entanto, não garantiu a volta dos funcionários. A alternativa encontrada por Irenildo Queiroz foi convidar um parente para reforçar o trabalho na cozinha, que está sendo comandada pela mulher do empresário, Solange, parceira de vida e dos negócios.
Sócio de um escritório que desenvolve conteúdo e faz consultoria de marcas e de um bar, o empresário Bruno Bernardo vê com alívio as medidas adotadas pela cidade de São Paulo que permitiram a flexibilização da quarentena.
Com a reabertura, parte do trabalho realizado pelo escritório – como filmagens na rua – pode ser retomada. Já o bar deve seguir com o cardápio reduzido e a entrega de bebidas por delivery, apesar da liberação para a volta do setor.
Pelo cronograma de retomada do governo estadual, o Plano São Paulo, a realização de eventos e convenções devem ser liberados em outubro. Pedro Roxo, do buffet Manja Gastronomia, avalia que o seu negócio se enquadra neste grupo, porém ele ainda não tem planos de reabrir.
Enquanto há mais incertezas do que garantias, Pedro prefere continuar focado no delivery e nas aulas de culinária on-line, apesar dessas atividades não gerarem o mesmo retorno financeiro que ele tinha quando o buffet estava aberto.
A loja de móveis Breton teve de demitir por conta da pandemia, alem de reduzir salário e jornada de parte dos funcionários. As medidas adotadas fizeram com que a empresa comandada por André Rivkind conseguisse sobreviver a sua pior crise em 53 anos. “Com a reabertura, as coisas estão andando meio de lado, mas a gente tem uma boa perspectiva”, diz André.
Rivkind afirma que está conseguindo pagar as despesas com algumas renegociações. “O que está difícil é acessar crédito, está praticamente impossível”, lamenta.
Há três meses sem pró-labore [retirada mensal de recursos que os sócios fazem de um negócio], a empresária Cláudia Medeiros Mendes diz que a vida financeira pessoal está paralisada. Dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul carioca, ela segue com foco na sobrevivência do seu negócio e se diz frustrada com o programa de crédito para pequenas empresas (Pronampe).
Com três lojas em Copacabana, a rede de lavanderias de Cláudia não parou de funcionar desde o começo da pandemia. Com a retomada gradual, a demanda por serviços voltou a crescer. Mas, segundo a empresária, o faturamento não ultrapassa 40% do registrado antes do isolamento social e, com isso, “as contas não fecham”.
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