EconomiaNotícias

Empresários prometem mais engajamento

À entrada do teatro Santander, ontem de manhã, muitos empresários e executivos mostravam-se ansiosos para ver de perto e ouvir Barack Obama. Poucos, no entanto, imaginavam que o ex-presidente dos Estados Unidos os faria mudar de ideia a respeito de uma questão que parecia superada. Há semanas comemora-se no Brasil o fato de a economia ter se descolado da crise política. Mas Obama expôs outro lado da moeda. Para o líder americano, o ambiente político é resultado de escolhas de toda a sociedade e não depende só de quem foi eleito.

Um dos primeiros a perceber que a situação pode ter pontos de vista diferentes foi o presidente da Gol, Paulo Kakinoff. À entrada do evento Cidadão Global, o executivo disse esperar que o descolamento entre o político e o econômico continuasse. À saída, no entanto, ele mostrou-se diferente. “Puxa, antes do discurso do Obama eu mesmo dei entrevista, comemorando que a economia está se recuperando independentemente do que acontece no meio político. Agora percebo que ficamos felizes por isso porque vivemos numa bolhinha, num microcosmo, pensando só nos nossos negócios. Mas e o resto?”

O presidente do grupo de shopping centers Iguatemi, Carlos Jereissati Filho, fez uma reflexão semelhante. “O Brasil precisa de estabilidade política para gerar investimento e aí ter realmente um crescimento sustentável. Antes disso, vai ser um desempenho claudicante”, destacou o empresário. Jereissati disse que “o Brasil tem que olhar o mundo para não deixar acontecer aqui o que aconteceu lá fora”.

Para ele, o Brasil não precisa de novidade em política. “O país precisa de bons políticos já provados e testados e que fizeram bom trabalho e que precisam chegar ao governo federal para fazer as reformas necessárias e dar estabilidade política ao país.”

Jereissati defendeu a limitação de tempo de atuação para os políticos no Brasil. “Porque eles mudam de cargo ou mandato anos após anos, e aí passam a trabalhar para eles e não para o povo”, afirmou. No evento ontem, Obama disse que, mesmo quando bem-intencionados, políticos que ficam tempo demais no poder perdem o ânimo.

Para Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, o democrata americano “não fala para sua audiência particular, tem sua visão global e não conversa apenas para seu eleitorado ou para seu patrimônio político”. “Ele tem uma visão abrangente do mundo, toca nas feridas e fala de verdades inconvenientes.”

Leonel Andrade, presidente da Smiles, disse que “fazer política não é feio, feio é fazer politicagem”. Para ele, as novas lideranças que surgem no cenário político brasileiro são uma oportunidade de renovação, mas também representam um risco.

A percepção do que é ser um líder como Obama provocou várias declarações em torno da crise de lideranças em todo o mundo. “Precisamos fazer uma união, de lideranças, na política, na população, para enfrentar e buscar o sucesso que o Obama teve na sua gestão”, disse Walter Dissinger, diretor-presidente da Votorantim Cimentos. Para ele, a não polarização e a união foram grandes lições passadas pelo ex-presidente americano.

A volta do nacionalismo e a xenofobia em países de economia avançada e o quanto essa tendência ameaça a globalização e a integração das nações também veio à tona. O irlandês Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul, disse que não aprova a saída do Reino Unido da União Europeia. “É preciso explicar direito às pessoas os benefícios da globalização”, destacou Watters, que disse ter ido ao evento para “encontrar pessoalmente um dos líderes mais dignos da história”.

Para Watters, uma multinacional precisa “ver além dos lucros”. “As grandes companhias também precisam servir às comunidades das regiões onde estão instaladas.”

Um dos pontos altos da fala de Obama foi sobre a inclusão, a busca de caminhos para se reduzir a desigualdade. “É um discurso do qual gosto muito”, disse Fabio Barbosa, conselheiro do Itaú, da Natura e da Gávea Investimentos. Barbosa destacou particularmente a fala do ex-presidente americano sobre a educação na primeira infância. “É importante como forma de dar igualdade de condições para que todas as crianças possam jogar o mesmo jogo e, a partir daí, para que os talentos e dedicação de cada um possam fazer a diferença.”

Para ele, outro ponto do discurso que trouxe reflexão foi a relação entre os algoritmos empregados nas redes sociais e a radicalização de posições ideológicas: “Isso segrega grupos, as pessoas só se expõem a argumentos iguais aos seus, as diferenças vão se aprofundando em vez de ajudar a construir pontes.”

O discurso do ex-presidente dos Estados Unidos foi um convite à reflexão sobre cultura cívica, segundo o presidente da agência DM9, Nizan Guanaes. “Se não fizermos isso, seja no Brasil ou outro lugar, as ideias democráticas ficarão velhas”, destacou o publicitário.

Em meio à plateia lotada de empresários, Obama foi também aplaudido por dirigentes engajados na causa ambiental. Para Celina Carpi, do grupo Libra e ex-presidente do conselho do Instituto Ethos, “de uma forma muito simples, o ex-presidente dos EUA contou toda a história da mudança do clima, desde o desafio planetário até a falta de liderança”.

“O Brasil é líder em economia de baixo carbono. Neste sentido, temos uma grande oportunidade de ser protagonistas na mudança do clima e estar mais na vanguarda do que outros emergentes”, destacou Adriana Moreira, especialista em ambiente e desenvolvimento sustentável do Banco Mundial.

Ana Luiza Affonso, que tem uma startup de tecnologia, elogiou a vontade do democrata de trabalhar com jovens e Thiago Rodrigues Mariano, analista de sinistros do Santander, saiu do evento com a lição de que a união poderá acabar com as diferenças. “Obama é um líder, uma referência para todo o mundo. E agora está colocando em prática tudo o que aprendeu.”

Fonte: Valor

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?