Emergentes brilham mais que desenvolvidos
Foi um péssimo começo de ano para os mercados acionários em todo o mundo. Mas uma tendência é clara: os mercados emergentes superaram o desempenho de seus similares no mundo desenvolvido.
Embora o Índice S&P 500 estivesse mergulhando para patamares mínimos em 12 anos no início desta semana, o índice MSCI de mercados emergentes – que reúne os papéis mais representativos de cada mercado de acordo com o volume negociado e seu capital – registra alta de 10,6%, em comparação com seu mínimo em 27 de outubro. Desde 1º de janeiro, os mercados emergentes caíram 11,4% em comparação com uma queda 21,2% das ações no mundo desenvolvido.
O excelente desempenho dos mercados emergentes, equivalente a 12,5% a mais do que o dos desenvolvidos neste ano, foi surpreendente. Como qualquer estrategista de mercado pode atestar, em períodos de estresse, quando a moda é realizar negócios em refúgios seguros, os mercados emergentes normalmente caem mais rápido do que os desenvolvidos, pois os investidores distanciam-se do que consideram ser ativos mais arriscados.
Michael Hartnett, estrategista mundial para bolsas de mercados emergentes no Bank of America Merrill Lynch, diz: “é certamente curioso que os mercados emergentes tenham um desempenho superior quando levamos em conta a turbulência na Europa Oriental, o colapso nas exportações que está impactando a Ásia e a persistente fragilidade das commodities que são tão importantes para a América Latina”. Segundo ele, “à primeira vista, isso não seria de esperar, mas existem razões pelas quais os emergentes estão brilhando”.
A razão número um, segundo Hartnett, é a China. O índice composto Xangai subiu 17,5% neste ano, ao passo que o índice S&P 500 caiu 20,6% e o FTSE Eurofirst 300 registra queda de 16,7%. A China ainda está crescendo vigorosamente, e um enorme pacote de estímulo fiscal amplificou esperanças de que o país será capaz de guiar a economia mundial para fora da recessão.
O crescimento está mais lento do que dois anos atrás, mas o país continua projetando uma taxa de crescimento de aproximadamente 8% para 2009. Isso, por sua vez, beneficiará as economias abertas na Ásia, que dependem de exportações para a China, diz Hartnett.
Outro grande fator é o posicionamento dos investidores. Muitos já saíram da esfera dos mercados emergentes. Isso foi perceptível após o colapso do Lehman Brothers em setembro, quando os mercados em desenvolvimento entraram em queda livre. O índice MSCI EM caiu 45%, em dólares, desde 15 de setembro, quando aconteceu o colapso do Lehman Brothers, para seu mínimo em 27 de outubro.
No mesmo período, o índice MSCI do mundo desenvolvido caiu 33%. Uma terceira razão para o desempenho superior dos mercados emergentes é que as preocupações em relação ao sistema financeiro mundial têm se concentrado nos bancos ocidentais. Os bancos ocidentais são mais alavancados e mais expostos ativos tóxicos. Entretanto, os analistas não estão seguros de que o desempenho superior dos mercados emergentes poderá persistir, especialmente na Ásia.
Para início de conversa, o crescimento chinês poderá não ser tão rápido quanto seus líderes esperam. Ontem, números revelaram que as exportações chinesas caíram 26% em fevereiro, em relação ao ano anterior, ao passo que as importações caíram 24%.
As economias latino-americanas mais vigorosas, como as do México, Brasil e Chile, que navegaram o desaquecimento mundial causando boa impressão, podem também estar rumando para águas turvas. Em dólares, o mercado acionário chileno mostrou o melhor desempenho do ano, segundo o MSCI, registrando alta de aproximadamente 8% desde 1º de janeiro, ao passo que o mercado acionário brasileiro mostrou o terceiro melhor desempenho, com alta de 4,5%.
Em contraste, os quatro piores mercados acionários neste ano são Romênia, com queda de 60%, Sérvia, com perda de 49%, Hungria, com prejuízo de 39% e Polônia, com recuo de 33%. A Europa Central e Oriental está no centro da turbulência econômica neste ano porque alguns países têm os maiores déficits em conta corrente e grandes necessidades de financiamento externo. Países como a Polônia, Republica Tcheca, Hungria e Turquia também sofreram devido à volatilidade cambial. As dificuldades com que ainda se defrontam essas economias estão deixando temerosos os investidores internacionais, diz Karine Hirn, executiva-chefe da East Capital, grupo sueco gestor de fundos especializado em mercados do Leste Europeu. “Começamos a ver algum interesse nesses mercados, mas é muito pequeno, os investidores estão assumindo uma postura de esperar para ver o que acontece. mas os que queriam vender já venderam e já deixaram o mercado”, diz ela.
Stuart Culverhouse, economista-chefe da Exotix, diz que mercados emergentes individuais têm diferentes pontos fortes e problemas. No caso da América Latina, a maioria dos problemas está centrada na queda da demanda do consumidor, devido a juros substancialmente mais altos, e não do enfraquecimento das exportações, que está começando a afligir as economias asiáticas. Os mercados latino-americanos também estão sendo prejudicados pelos baixos preços das commodities. Essa condição é a mesma que afeta a Rússia e algumas economias do Oriente Médio, que viram seus mercados em queda , acompanhando o barateamento do petróleo.
Shahin Vallee, estrategista de mercados emergentes no BNP Paribas, acredita que as iniciativas dos presidentes de bancos centrais no mundo desenvolvido poderão revelar-se cruciais. “Já vimos como foi útil o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) para algumas das economias emergentes quando ofereceu linhas em dólar para a Coreia, México, Cingapura e Brasil, seria proveitoso para a Europa Oriental se o Banco Central Europeu estivesse disposto a fazer o mesmo”, diz ele. Culverhouse concorda. “Se os grandes bancos centrais no mundo ocidental puderem estimular a demanda com alívio quantitativo ou outras políticas, isso será uma importante injeção de ânimo para o mundo emergente.”
Mas Hartnett adverte: “As ações nos mercados emergentes podem estar bem acima de seus mínimos no segundo semestre de 2008. Mas não há dúvida de que a espiral letal nos mercados financeiros americanos ameaçam levar os mercados emergentes de volta novos mínimos. E para baixo eles podem ir até que vejamos investidores vendendo dramaticamente títulos do Tesouro dos EUA em antecipação à solução inflacionária final para os setor habitacional e bancário americano. Isso ainda não aconteceu.” (Tradução Sergio Blum)
Fonte: Valor