Embratel adota tática de guerrilha
José Formoso Martinez, presidente da Embratel: “Havia uma festa da qual não participávamos, que era a telefonia local”
A estratégia da Embratel é “de guerrilha”, diz o novo presidente da operadora, José Formoso Martinez. Ele usa a expressão comum em seu país, o México, que felizmente não significa pegar em armas, mas remete ao “comer o mingau pelas bordas”, tão trivial entre brasileiros.
A agressividade na disputa por mercado é o que não pode faltar na trajetória da tele que definiu como prioridade brigar com gigantes Telefônica, Oi e Brasil Telecom. A proposta é, além de oferecer serviços de longa distância e de atuar para clientes corporativos, levar telefones fixos à residência dos clientes. Porém, a idéia é entrar com diferentes tecnologias. A mais nova, que entrará em cena neste mês, é o chamado WiMax, que permite o acesso à banda larga sem fio.
Formoso afirma que a Embratel, junto com a Net Serviços, já conta com 3,5 milhões de assinantes de telefones fixos. O executivo admite que é pouco, se comparado às três concessionárias, que somam 35 milhões de linhas. Mas a telefonia fixa é um negócio crescente dentro da companhia e respondeu, no ano passado, por 15% dos R$ 8,6 bilhões de receita líquida. No quarto trimestre, foram R$ 365,24 milhões.
“Detectamos que havia uma festa aqui da qual não participávamos, que era a telefonia local. E nossos concorrentes vivem da telefonia local e brincam com a gente na longa distância. Fizemos então a estratégia nova. Está dando certo, estamos crescendo. Investimos em rede própria, mas também compramos acesso das teles. É uma briga todos os dias mais pelo entrega do que pelo preço. Eles têm que dar o acesso, está na lei “, diz.
Não é de hoje que Formoso compra briga com Oi, BrT e Telefônica. Ele veio para o Brasil em 2004 para montar a operação de compra da Embratel pela Telmex. Na época, as três teles haviam montado o consórcio Calais, que fez oferta de US$ 550 milhões à americana MCI para adquirir o controle da operadora de longa distância. Mas a decisão nos EUA acabou sendo em favor da Telmex, do empresário Carlos Slim Helú, mesmo pagando menos, US$ 400 milhões.
Na conversa com o Valor, o executivo foi cauteloso na nova defesa abraçada pelas três operadoras por meio da Abrafix, associação que reúne as companhias em torno da aquisição do controle da Brasil Telecom pela Oi. “A compra ainda não é um fato. São intenções que não estão claras. Estamos aguardando”, diz. Mas ele afirma que a operação não pode atrapalhar a concorrência e que, como deverá haver mudanças nas regras, a Embratel irá avaliar a proposta e e se manifestará quando a Anatel colocar o tema em consulta pública.
Apesar de a companhia ter feito aquisições desde que passou o controle à Telmex, Formoso diz que o foco hoje é no crescimento orgânico. Afirma que os controladores não pensaram em fazer uma oferta pela Brasil Telecom quando surgiu o interesse da Oi.
“Não adianta comprar empresas por um preço alto. Não gera valor para os acionistas. A Oi comprar a Brasil Telecom é uma situação diferente do que a Embratel comprar. Poderia ser interessante para nós, mas não enxergamos um grande valor neste momento”, diz.
Logo após a Telmex comprar a Embratel, Formoso tornou-se diretor-executivo da empresa. A presidência ficou com Carlos Henrique Moreira, que se tornou próximo a Slim com sua trajetória de sucesso do braço celular do grupo, a Claro. Hoje, aos 72 anos, Moreira optou por uma vida de meio aposentado e passou a presidir o conselho de administração.
Já Formoso, um engenheiro elétrico de 49 anos, é homem de confiança de Slim já faz algum tempo. É chamado, pelo empresário, de Pepe (um equivalente de Zé em espanhol).
Fonte: Valor