Economia tem de avançar (Editorial)
Incerteza talvez seja a palavra mais adequada para definir o quadro político que o país se debate. A divulgação do áudio com a voz de Michel Temer, sem a devida e obrigatória perícia técnica, trouxe mais um ingrediente de insegurança ao cenário nacional. Decisões importantes que serão tomadas esta semana vão definir a direção dos próximos acontecimentos.
Um fato, porém, deve ser reafirmado. A economia – que há três anos vem se deteriorando a ponto de jogar o país na mais profunda recessão da sua história moderna – encontrou as trilhas que a conduzirão para a correção de rumos. O Produto Interno Bruto, depois de dois anos de retrocesso (3,8%, em 2015 e 3,6%, em 2016), acena com crescimento de 0,5%. É pouco, mas, concretizado, construirá a base para passos mais acelerados.
A inflação, que bateu nos dois dígitos em 2015 (10,67%), caiu para 4,08% nos 12 meses encerrados em abril – abaixo do centro da meta do Banco Central (4,5%). Sem pressão de consumo, pode-se apostar que manterá a consistência da trajetória de queda. Não só. O dólar, que ultrapassou os R$ 4 no governo Dilma, continuou sob controle, mesmo com a turbulência das delações da JBS.
Sem dúvida os dados autorizam a afirmação de que a economia está no caminho certo e avalizam o BC a continuar na redução da taxa de juros, que deve fechar 2017 em um dígito. Baratear o dinheiro e minorar os gastos financeiros do governo é urgência por cuja concretização a sociedade clama para poder investir, aumentar os postos de trabalho e reduzir o dramático número de desempregados que pagam o preço da irresponsabilidade pela qual não são culpados.
Os indicadores autorizam alimentar esperança e otimismo. Mas não são suficientes para alavancar um desenvolvimento sustentável. Para fugir do voo de galinha e alçar voo de águia, os índices precisam avançar. Além de prosseguir na política econômica, impõe-se manter o andamento das reformas trabalhista e previdenciária. Em bom português: é preciso fazer a leitura correta do tempo.
A harmonização das regras da Previdência com a realidade contemporânea é indispensável para ajustar as finanças públicas e reconquistar a confiança dos investidores. Há, também, que se modernizar as relações entre patrões e empregados. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), vale lembrar, é da primeira metade do século passado. Respondeu aos clamores de um país que se urbanizava e ensaiava os primeiros passos na industrialização. Não atende às exigências do século 21.
É hora de dar as mãos ao Brasil. Câmara e Senado têm de fazer a sua parte. Precisam olhar além das próximas eleições e preocupar-se com as gerações futuras. Adiar medidas inadiáveis é apostar numa recuperação mais lenta e dolorosa. Os 14,2 milhões de desempregados são a prova cruel de que não há tempo a perder.
Fonte: Correio Braziliense