Dívida elevada impede o Brasil de crescer mais, diz agência de risco
O Brasil terá dificuldades para elevar os atuais níveis de crescimento econômico se não conseguir aprovar reformas importantes, como a tributária e previdenciária. Para a diretora da Standard & Poors (S&P), Lisa Schineller – a mulher que ajudou a promover o País ao grau de investimento -, daqui para frente o maior desafio do governo é melhorar a política fiscal, atrair mais investimento e expandir a atividade econômica.
Nossa avaliação é que nas condições atuais o nível de crescimento sustentável do País ficará entre 4% e 4,5%, diz, em entrevista exclusiva ao Estado. O Brasil ainda não tem habilidade de crescer 5,4% por ano.
Ela reconhece que a parte fiscal é um dos pontos mais fracos do rating do Brasil. A relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) de 47% é muito alta. É quase o dobro da média da categoria BBB, que é de 20% do PIB. A política do governo, para resolver esse problema, completa Lisa, é manter uma queda da dívida mais lenta.
Uma redução mais profunda teria um impacto mais favorável no ritmo de crescimento e facilitaria um nível maior de investimento. As reformas podem ajudar o País a ter uma economia mais forte.
Apesar da elevada dívida, Lisa esclarece que a S&P concedeu o grau de investimento pela combinação de uma série de outros indicadores, como a impressionante melhora da vulnerabilidade externa, compromisso de uma política pragmática fiscal e monetária e nível de crescimento mais sustentável.
Além disso, há maior segurança para o investidor de que o governo tem capacidade de honrar compromissos, avalia Lisa, que acompanha o rating do Brasil há nove anos. Em quase uma década de política consistente na parte macro, as mudanças foram surpreendentes, com inflação baixa e melhora nas contas fiscais e externas. Tudo isso foi levando em conta no momento de inserir o Brasil no clube de países considerados mais seguros.
Mas o trabalho ainda está no início. A nota dada pela S&P é apenas o primeiro nível da escala grau de investimento rumo ao AAA. Ela alerta que chegar a esse grupo não significa estar imune a qualquer rebaixamento de classificação. Na história da S&P, nove países já perderam o grau de investimento. Dois deles são da América Latina – Colômbia e Uruguai -, que ainda não conseguiram recuperar a nota.
Em todos os casos, diz Lisa, o rebaixamento ocorreu por causa da política fiscal, maior fragilidade do Brasil. Para manter o grau de investimento é preciso manter uma política pragmática.
A diretora da S&P reconhece que o bom momento do cenário global deu espaço para o Brasil promover as mudanças. Mas o governo também teve méritos. Isso porque outros países, inclusive da América Latina, não tiveram a mesma evolução. Nem Venezuela e Equador, que têm petróleo e mais espaço para crescer, conseguiram desempenho semelhante ao do Brasil, diz Lisa.
A Argentina cresceu muito depois da crise, mas suas políticas tem várias inconsistências em termos de inflação. No Brasil, diz ela, houve mais compromisso por parte do governo. Um exemplo é a manutenção da independência operacional do Banco Central.
A executiva avalia que a decisão da autoridade monetária de elevar os juros na última reunião do Comitê de Política Monetária traduz isso. O nível de crescimento vai suavizar, mas é um mal que precisa ser feito para conter a inflação e ter mais benefícios no futuro.
Fonte: O Estado de São Paulo