Desaceleraçao na Europa pode ser longa e dolorosa
Há nuvens negras sobre as economias da Europa, com o aumento das taxas de inflação rapidamente superando as turbulências dos mercados financeiros como a principal ameaça ao crescimento.
Dados econômicos recentes mostraram que a produção industrial despencou por toda a Europa em maio, enquanto Reino Unido, Espanha e Irlanda acabaram sendo atingidos pelo colapso dos mercados imobiliários residenciais.
A sensação de cada vez maior desaceleração do crescimento econômico foi ainda mais afetada pelas vendas de carros em junho, que caíram 7,9% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a Acea, associação das montadoras. Espanha, Itália e Irlanda tiveram as piores quedas.
Enquanto isso, o Reino Unido divulgou que o número de pessoas pedindo beneficios do seguro-desemprego deu um salto de 15,5 mil no mês passado, no pior resultado desde o início dos anos 90.
Em vários países, há agora a ameaça real de uma recessão, tecnicamente falando – isto é, dois trimestres consecutivos de contração da economia.
Pelo mapa do “clima econômico” feito pelo “Financial Times”, pode-se ver quão rápido as coisas mudaram na Europa. Três meses atrás, o cenário se mostrava mais ensolarado, enquanto a economia do continente aparentava ter sido menos afetada pela turbulência dos mercados financeiros do que os EUA.
O último mapa mostra uma história bem diferente.O grande aumento nos custos de energia teve efeitos pronunciados e disseminados, juntamente com o impacto que o fortalecimento recorde do euro teve sobre as exportações da zona de moeda única.
“O aperto do crédito é algo que dá uma cor a isso tudo, mas o maior problema com é o alto preço tanto de petróleo quanto dos alimentos”, afirmou Gilles Moec, do Bank of América.
A inflação da zona do euro atingiu seu mais alto patamar em 16 anos: 4% em junho, segundo dados divulgados ontem. Na terça, o Reino Unido havia divulgado sua maior inflação também em 16 anos.
Os alemães já se acostumaram à queda do salário real, mas o crescimento de ano para ano do salário real ficou negativo também na França – um fenômeno novo para os consumidores franceses – e na Itália.
A economia francesa vem sendo impulsionada em grande parte pelo consumo, mas é também vulnerável às pressões criadas pela desaceleração do mercado imobiliário. A Alemanha, enquanto isso, registrou um crescimento excepcional no começo do ano, mas parece estar sob ameaça de ter de experimentar uma desaceleração.
No índice do instituto alemão ZEW, divulgado nesta semana, a confiança do investidor pode ter exagerado a extensão da desaceleração na maior economia da Europa. O instituto Ifo, de Munique, que elabora um índice de confiança dos empresários e dos gerentes de compras, não pintou um cenário tão pessimista.
Mas, para muita gente, a economia européia está no começo do que parece ser uma desaceleração dolorosa e pronunciada. “Atualmente, a inflação representa um grande choque atingindo uma economia que, de qualquer maneira, está no último estágio de um ciclo. Por isso é difícil ver uma recuperação no curto prazo”, disse Marco Valli, do Unicredit, de Milão.
Os desdobramentos nos preços do petróleo são cruciais.
A gigante seguradora alemã Allianz disse na semana passada que espera que os preços do petróleo caiam no segundo semestre deste ano, por causa de uma queda da demanda. Nesse “cenário base”, o grupo espera que o crescimento da zona do euro desacelere de 1,7% neste ano para 1,5% no ano que vem.
Mas, no “cenário de risco” que traçou – em que o petróleo continua a subir e ultrapassa a barreira dos US$ 160 o barril até o final do ano -, o crescimento da zona do euro pode cair para 1,3% neste ano e 0% em 2009.
Fonte: Valor