Demanda em alta para gestores no setor de seguros
Carla Abreu abordou o diretor da Mongeral Aegon Seguros e Previdência num aeroporto, em 2007: Olha, eu quero ter a chance de um dia ser diretora da sua empresa. Pouco tempo depois, foi contratada como gerente da sucursal do Rio de Janeiro. Este ano, com o aquecimento do setor, ela foi promovida a gerente regional do Rio e do Espírito Santo. No rastro do aumento dos investimentos em obras de infraestrutura, da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, a demanda por profissionais especializados para trabalhar com seguros e resseguros, que já vinha aquecida, tende a crescer ainda mais. Segundo o consultor sênior da Hays, Alexandre Benedetti, candidatos com visão estratégica e boa capacidade de planejamento são bastante disputados.
Há uma carência relevante por profissionais especializados em análise de riscos corporativos, resseguros e benefícios. Um amplo conhecimento desses produtos e das regulamentações do setor são moedas fortes na disputa por uma vaga, diz. Benedetti acrescenta que há ainda uma necessidade fundamental de que os profissionais tenham um segundo idioma e especialização ou MBA na área. Existem ainda muitos profissionais que sequer tem inglês e isso é fator fundamental, principalmente com as fusões entre seguradoras brasileiras e estrangeiras. Além disso, a oferta de cursos de especialização vem crescendo muito, o que mostra a importância de conhecimentos específicos.
Crescendo em torno de 9% ao ano, a perspectiva é de que o setor ultrapasse os 10% de crescimento já no próximo ano. De acordo com relatório da Escola Nacional de Seguros, mesmo com a crise mundial, houve aumento significativo nas vendas de diversos segmentos de produtos, no período de janeiro a agosto deste ano. Diretor de ensino da Escola, Nelson Le Cocq explica que já ficou claro para o setor que o efeito da crise está dissipado.
A diversificação de produtos, a melhora na legislação e o aumento da concorrência vêm aquecendo o setor. A busca por profissionais está seguindo este rastro, mas o gestor da área de seguros precisa entender aspectos jurídicos, as técnicas de cada área, ter conhecimentos sobre governança corporativa e capacidade de compreender a visão estratégica das companhias, orienta.
Como os cursos de especialização no setor são recentes, o mercado de seguros e resseguros se abastece com profissionais de outras formações de primeira linha. Para o presidente do IRB-Brasil, Eduardo Nakao, a abertura do mercado de resseguros no Brasil abriu espaço para especialistas em ciências atuariais. O setor precisa obter resultados operacionais mais consistentes, com empresas buscando subscrição de riscos mais criteriosa, o que colaborou para valorizar o atuário. Observamos uma crescente absorção desses profissionais nas companhias, declarou. Ainda segundo Nakao, a expectativa é de que o setor de resseguros cresça acima do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos.
Para a consultora da Robert Half, Ana Guimarães, profissionais de mercado financeiro encontram boas oportunidades para migrar para o setor de seguros. Nos últimos seis meses, percebemos esta movimentação de forma mais acentuada. No entanto, estes profissionais encontram mais oportunidades em seguradoras que trabalham com produtos massificados, define.
Mescla de gerações à frente das empresas
Desde 2005 atuando como superintendente técnica de Vida e Previdência da SulAmérica, Carolina de Molla assumiu a diretoria da área, em janeiro deste ano. Formada em Administração de Empresas e pós-graduada em seguros, ela responde por uma equipe de 60 profissionais e conseguiu ascender por intermédio de um programa interno de treinamento. Há uma mescla de gerações. O setor tem desde profissionais que construíram carreira na prática, sem formação específica, com 15, 20 anos de mercado, e jovens de 30 anos com formação acadêmica mais focada. Além disso, tem que conhecer muito bem a concorrência, a diversidade dos produtos, a economia e a política do Brasil, além de acompanhar o cenário internacional, ensina.
Responsável pelo gerenciamento de nove equipes, sendo oito no Rio e uma no Espírito Santo, Carla Abreu, da Mongeral, acrescenta: Muitas empresas trabalham com profissionais autônomos e reter talentos é algo muito complicado no setor, porque a concorrência é muito grande.
Segundo Benedetti, da Hays, a remuneração do setor ainda está um pouco defasada em comparação com outros, mas a remuneração varíavel compensa. Infelizmente, o processo de renovação de talentos ainda é bastante recente. A remuneração fixa de um atuário sênior, por exemplo, está entre R$ 9 mil e R$ 11 mil. Já um diretor técnico, cargo de alta gerência, é remunerado entre R$ 15 mil e R$ 20 mil mensais. No entanto, a variável pode chegar a 15 salários. As empresas demoraram para investir em planos de cargos e salários, mas já existe um movimento de mudança surgindo, estima.
Fonte: Jornal do Commercio