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Demanda crescente por eucalipto atrai investidor

Pode ser um bom negócio. Especialmente quando a árvore em questão é o eucalipto e a terra, brasileira. O segmento pode se tornar uma nova classe de ativos para atrair investimentos Até lá, porém, há muito a cultivar.
Há um crescente o número de empresas que decidiu investir em terras e no plantio de eucalipto para abastecer o setor de papel e celulose, os fabricantes de aglomerados de madeira, de combustível vegetal e mesmo de madeira de corte. A iniciativa tem duas razões principais: a competitividade natural do Brasil e as preocupações ambientais.
Rubens Garlipp, superintendente da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), acredita que cerca de 500 mil hectares, dos 5,5 milhões plantados de eucaliptos no país atualmente, estão nas mãos de companhias independentes que pretendem explorar esse mercado. No entanto, acredita que esse total pode, pelo menos, triplicar.
Recente movimento da gestora de fundos de participações Stratus não deixa dúvida quanto ao despertar desse segmento no Brasil. O fundo dedicado a tecnologias limpas da empresa decidiu ter uma participação na companhia de plantação de eucaliptos Brazil Timber, fundada em 2004. O percentual da fatia que terão no negócio ainda não está definido, mas pode ser qualquer coisa entre 5% e 49%. No futuro, a companhia poderá ir à bolsa, mas ainda é preciso fazer o negócio crescer.
A chegada do parceiro já impulsionou os planos da Timber Value, braço da Brazil Timber, dedicado ao plantio de eucalipto. A meta é ampliar os US$ 40 milhões aplicados nesse segmento para US$ 100 milhões ainda em 2008. Hoje, a empresa tem 6,5 mil hectares plantados. Mas a companhia não está sozinha.
Há diversas pequenas outras iniciativas nessa mesma direção. No final do ano passado, a Union Agro constituiu uma companhia com essa finalidade, a Union Geração Terra, antes mesmo de encerrar a captação da primeira empresa dos sócios – Moacir Ferreira Teixeira e de Maurício Moshe Kattan. A companhia nasceu com estatuto de Novo Mercado, embora os planos para oferta de ações estejam distantes.
Mas a lista de companhias que aguardam registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já tem representante desse novo negócio. Entre as empresas que aguardam o aval do regulador e um momento mais favorável a captações está a Florestal. A companhia solicitou registro de empresa aberta, mas ainda está definindo o formato da captação – ações ou debêntures.
Um dos grandes independentes de atuação no Brasil é o Global Forest Partners (GFP). No fim de 2007, o fundo elevou a área detida para 75 mil hectares, após comprar fazendas da Vale do Rio Doce, na Bahia, numa transação de R$ 51 milhões.
Garlipp acredita a formação desse setor aqui no Brasil, já existente lá fora e conhecido como “Timo” (gestores de recursos florestais, na livre tradução do inglês) estimulará a aquisição de terras plantadas de pequenos proprietários. Segundo o superintendente da SBS, cerca de 25% da área plantada nacional está nas mãos de pequenos produtores.
O estímulo para o negócio vem da perspectiva para a demanda por madeira e celulose de origem controlada. Garlipp destaca que em 2000 o consumo de eucalipto foi da ordem de 120 milhões de metros cúbicos. Esse total subiu para 150 milhões, em 2006. A expectativa é alcançar 220 milhões de metros cúbicos em 2015. Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Celulose e Papel (Bracelpa), a previsão de que o Brasil produza 12,8 milhões de toneladas de celulose neste ano significa ultrapassar a Suécia, 5ª colocada entre os maiores produtores globais da commodity.
A indústria de celulose deve ser a principal consumidora do eucalipto plantado, embora haja a expectativa de que as companhias moveleiras e de aglomerados, bem como indústrias consumidoras de combustível vegetal demandem cada vez mais madeira de origem controlada.
Marcelo Ambrogi, gerente florestal regional da Aracruz, conta que, neste ano, de 15% a 18% da madeira consumida pela companhia veio do programa de fomento ao produtor florestal, destinado a parcerias com fazendeiros de pequeno e até grande porte. Em dois anos, esse percentual deverá alcançar 20%. Em números, significa que a companhia comprou cerca de US$ 35 milhões desses fazendeiros e repassou a eles, entre recursos de plantio e tecnologia, US$ 8,4 milhões em 2007.
Ambrogi conta que o programa foi criado em 1990 já pela perspectiva de aumento na demanda por madeira, para criar a cultura do produtor de plantar eucalipto como negócio, como já ocorria fora do Brasil. No futuro, o executivo acredita que a maior parte dos novos projetos do setor utilizem madeira de terceiros e não mais de áreas próprias, porque as empresas, assim, imobilizam menos recursos na compra de terras.
Com o desenvolvimento dessas companhias que aplicam em madeira, o executivo da Aracruz acredita que elas tomarão espaço de pequenos fazendeiros. É esperado, inclusive, que parte das terras seja adquirida por tais empresas, para que as companhias formem um portfólio de terras já cultivadas e com diferentes idades de corte do eucalipto.
Tanto a expansão desse setor quanto a aposta dos investidores independentes em eucalipto vem de uma vantagem competitiva natural do país. Enquanto nos principais países produtores do mundo de celulose e papel o eucalipto pode levar até 60 anos para atingir o ponto para corte, no Brasil, a maturidade da árvore para tal finalidade ocorre em cerca de sete anos.
Garlipp, da SBS, acredita que o Brasil deve ganhar cada vez mais notoriedade nesse segmento. “No ano passado, produtores responsáveis por 1,5 milhão de toneladas de celulose fecharam nos Estados Unidos, por problemas competitivos.” O executivo acredita que haverá uma grande mudança global no segmento. “Haverá um rearranjo florestal mundial e está caindo a ficha para o mundo das condições brasileiras.”
Daí o apetite de tantas e tão variadas empresas Carlos Kokron, diretor da área de crescimento da Stratus, cujo patrimônio é da ordem de R$ 60 milhões, explica que praticamente não há volatilidade no investimento. “A correlação com o mercado de ações é praticamente zero.” Além disso, é retorno praticamente garantido entre 15% e 19% ao ano.
O súbito movimento de empresas independentes produtoras de eucalipto ocorre junto com uma maior exposição do Brasil. Neste ano, o país sediará, de 3 a 5 de março, pela primeira vez, a edição latino-americana do encontro de gestores florestais, o Timberland Investing Latin America Summit. Além disso, também em 2008, o Brasil assume a presidência do conselho internacional das associação de fabricantes de celulose e papel – International Council of Forest and Paper Associations.

Fonte: Valor

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