Déficit da balança de serviços voltará a crescer em 2017 e deve atingir US$ 33 bi
Depois de redução significativa no ano passado, o déficit da balança de serviços deve voltar a crescer em 2017, mas de forma bastante controlada, avaliam economistas ouvidos pelo Valor. Em meio ao quadro de retomada vagarosa da atividade e trajetória mais tranquila do câmbio, com depreciação aquém do previsto, as estimativas para o saldo negativo do Brasil com o exterior nessa conta estão por volta de US$ 33 bilhões para este ano.
Na passagem de 2015 para 2016, a diferença entre o que o país gastou e o que recebeu nas transações internacionais relativas a serviços caiu 17,5%, para US$ 30,449 bilhões – menor rombo desde 2010. A alta esperada no déficit para este ano, portanto, é modesta, e não chega a ter impacto expressivo sobre o total de balanço de pagamentos, cujo saldo negativo também deve aumentar em ritmo lento, tanto nas estimativas do mercado quanto do Banco Central.
Segundo Fernando Rocha, chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, o déficit nos serviços em 2016 foi bem distribuído entre os setores de aluguel de equipamentos, de viagens e de transportes, com recuo de ao menos US$ 2 bilhões na passagem anual em cada uma das contas.
Na conta de aluguel de equipamentos, que tem maior peso no déficit de serviços, o saldo negativo foi de US$ 19,506 bilhões no ano passado, queda de 9,4% em relação a 2015. Esse desempenho foi relacionado à retração dos investimentos na economia, disse Rocha. Houve, ainda, redução de 26,4% do déficit em viagens ao exterior, para US$ 8,473 bilhões, enquanto o saldo negativo de transportes caiu de US$ 5,664 bilhões para US$ 3,731 bilhões.
Lia Valls, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), afirma que a retração no déficit de viagens foi forte em função da recessão econômica. Nos últimos meses do ano, no entanto, houve alguma retomada de gastos dos brasileiros no exterior, que também são fortemente afetados pela variação do câmbio.
Em dezembro, essa parte da balança de serviços foi deficitária em US$ 941 milhões, resultado de gastos de brasileiros no montante de US$ 1,392 bilhão e de receita com turistas estrangeiros de US$ 451 milhões. Em igual mês de 2016, a diferença entre despesas e receitas foi menor, de US$ 653 milhões. Com ligeira melhora da atividade e pouca depreciação cambial no cenário, o saldo negativo de viagens deve seguir nessa trajetória e ficar um pouco maior este ano, avalia ela.
Para Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a diminuição do déficit dos serviços ante 2015 foi moderada e resultado principalmente da crise, que tem reflexo negativo sobre as importações do setor, e também do processo de ajuste cambial que ocorre desde 2014. Neste ano, a expectativa é que a balança de serviços seja deficitária em US$ 33,5 bilhões, respeitando a tendência de lenta recuperação da atividade, diz Campos Neto.
“Não temos no cenário nenhuma recuperação forte da demanda doméstica, devido às limitações de renda, empresas e famílias endividadas”, comenta. Em sua avaliação, a alta no déficit em relação a 2016, ainda que pequena, será influenciada pelas três contas mais importantes – aluguel de equipamentos, viagens e transportes.
Por outro lado, pondera Campos Neto, a taxa de câmbio, que tem surpreendido ao ficar ao redor de R$ 3,20 neste início de ano, vai contribuir para que o avanço do déficit seja leve. “O real está se mostrando mais forte do que o esperado”, diz, devido à queda dos prêmios de risco e à recuperação das commodities. O dólar deve voltar a subir ante o real, afirma, mas não a ponto de alcançar a projeção atual da Tendências para dezembro, de R$ 3,60. Esse número será revisto para baixo em breve.
Mais pessimista, Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, estima que a taxa de câmbio vai avançar para R$ 3,95 até o fim do ano. “O câmbio está um pouco fora do lugar”, diz, tendo em vista o ajuste fiscal em ritmo lento, que deve manter a dívida pública em alta, e todas as delações envolvendo nomes do governo. Por isso, avalia, os prêmios de risco vão voltar a subir.
Mesmo assim, o economista trabalha com avanço de apenas US$ 500 milhões para o déficit da balança de serviços em 2017, para US$ 31 bilhões, mais pela base fraca de comparação do ano anterior, sobretudo no primeiro semestre de 2016. “Não há muito espaço para aprofundamento do déficit, dado que a atividade deve melhorar bem pouco este ano.”
Tanto a alta prevista para o déficit em transações correntes quanto para o saldo negativo da balança de serviços – que deve ficar em R$ 33 bilhões em 2017 – devem ocorrer em ritmo moderado, afirma Carolina Sato, da MCM Consultores. O déficit na conta de viagens, em suas estimativas, deve aumentar em cerca de US$ 2 bilhões este ano, como reflexo do câmbio mais baixo neste início de ano.
No caso de aluguel de equipamentos, como não é possível fazer premissas devido às chamadas “exportações fictas” de plataformas de petróleo da Petrobras, operações difíceis de serem previstas, a economista adota como projeção estabilidade em relação a 2016, com déficit de US$ 19,5 bilhões no ano passado.
“Quando a Petrobras exporta essas plataformas, isso sempre surpreende, e tem impacto negativo na balança de serviços”, diz, já que o equipamento continua em território nacional e a estatal precisa pagar aluguel à subsidiária no exterior.
Fonte: Valor