Crise é oportunidade para mercado de capitais
A contração do crédito no sistema bancário é uma oportunidade para fortalecer o mercado de capitais brasileiro como uma fonte de captação de recursos para as empresas. Essa é a avaliação do diretor técnico do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), Carlos Antônio Rocca, que discutiu o tema com outros 17 representantes de entidades e empresas do setor financeiro, como CVM, BM&FBovespa e Apimec.
Segundo Rocca, isso já vem acontecendo. Em carta-resumo da reunião, ele mostra que o volume médio mensal captado pelas empresas brasileiras no mercado de capitais até 30 de setembro cresceu para R$ 6,8 bilhões neste ano -21,4% mais que o registrado no ano passado (R$ 5,6 bilhões).
No acumulado do ano, já foram captados R$ 60 bilhões no mercado de capitais, 89% do total movimentado em 2007. Os dados consideram instrumentos como emissões primárias de ações, debêntures, notas promissórias e cessão de direitos creditórios.
Apesar do aumento na captação de recursos via mercado de capitais, apenas 4 empresas abriram o capital na Bovespa neste ano ante 64 no ano passado. Para Rocca, a retração nos IPOs (oferta inicial de ações) reflete mais a saída de investidores estrangeiros do Brasil que um desaquecimento do mercado de capitais nacional.
“Antes, ao lado das emissões primárias de empresas que já têm capital aberto, havia um fluxo significativo de IPOs, com forte participação de investidores estrangeiros. Como eles sumiram com a crise, entende-se que agora não há mercado para entrar na Bolsa.”
Mas o contexto desfavorável para os IPOs não deve impedir que empresas captem recursos no mercado de capitais. “Há uma grande quantidade de empresas que não o usam como alternativa para captar recursos. Mas à medida que enfrentarem restrições ao crédito, podem considerar a opção.”
Para Lacerda, China compensará recessão nos EUA
O pacote chinês de estímulo à economia animou os mercados financeiros ontem porque confirmou que a China será o país que compensará em parte as perdas mundiais com a recessão nos Estados Unidos e na Europa. A análise é de Antonio Corrêa de Lacerda, professor de economia da PUC-SP.
Para ele, todos os países que fazem comércio com a China vão ganhar com a injeção de US$ 586 bilhões na economia chinesa.
“A China demanda commodities e produtos internacionais. E isso abre uma oportunidade para o Brasil”, afirma o professor da PUC-SP.
Entre os setores mais beneficiados, Lacerda cita o de mineração e o de equipamentos.
Lacerda ressalta que o pacote chinês é diferente dos anunciados pelos Estados Unidos e pelos países europeus, focados em socorrer instituições financeiras em crise. Em vez de cobrir perdas de bancos com títulos podres, as medidas propostas pela China se dispõem a fortalecer o mercado doméstico com investimentos.
“No caso da China, não temos um pacote de socorro a bancos, mas com projetos firmes que demandam produtos e representam oportunidades de investimentos”, disse o economista.
Fonte: Folha de São Paulo