Cresce aposta em Copom mais agressivo na reunião deste mês
O mercado de juros se rendeu à possibilidade de o Banco Central (BC) cortar a taxa Selic em 1,25 ponto percentual no próximo dia 31. Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) negociados na BM&F chegaram a projetar ontem mais de 70% de chance de redução além de um ponto. Várias taxas de DI renovaram mínimas, e o juro do contrato com vencimento em janeiro de 2018 ameaçou cair abaixo de 9%, patamar inédito.
A queda dos juros deu sequência ao movimento visto na semana passada, mas ganhou força ontem depois de o Itaú Unibanco ter revisado para 1,25 ponto a expectativa de corte da Selic na reunião de política monetária do fim deste mês. Dessa forma, o maior banco privado do país se junta ao Bradesco na lista de grandes bancos que já trabalham com nova aceleração do ritmo de distensão monetária.
No centro das revisões para baixo das estimativas para a Selic está a ideia de que a atividade econômica começou o segundo trimestre em velocidade mais lenta, depois de um começo de ano de alguma retomada.
O DI janeiro de 2018 – que reflete apostas para o patamar da Selic ao fim de 2017 – caiu a 9,01% ao ano, frente a 9,14% no ajuste anterior. O DI janeiro de 2019 cedeu a 8,85%, comparado a 8,96% no ajuste de sexta-feira.
O ex-diretor do Banco Central Mário Mesquita, hoje chefe da equipe de pesquisa macro do Itaú, diz que a série de indicadores mais fracos da economia pode ser interpretada como um sinal “perigoso” de que a atividade poderia estar enfrentando um “double dip” – termo que descreve contração da atividade econômica após breve período de crescimento.
“Dada a profundidade e gravidade da recessão, não seria surpreendente que as autoridades se voltassem para a visão menos otimista e agissem de acordo”, diz o Itaú, que passou a estimar Selic de 7,25% a partir de outubro – de 8,25% anteriormente -, patamar no qual permaneceria até pelo menos o término de 2018.
Num sinal de que o mercado se concentra hoje mais nas indicações para a atividade no segundo trimestre, a leitura melhor do IBC-Br de março, divulgado ontem, fracassou em evitar nova queda dos juros futuros. Os últimos dados de produção industrial e dos setores de varejo e serviços, por exemplo, ainda se referem a março, mas o fraco desempenho nesse mês sugere que o viés no fim do trimestre foi negativo, com riscos de extensão dessa tendência ao segundo trimestre.
A forte queda dos juros, porém, reflete não só os sinais de atividade ainda morna, mas também um cenário de constantes surpresas com inflação baixa e um Banco Central que não parece incomodado com especulações de cortes mais intensos da Selic.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, diz que o processo de desinflação da economia nos últimos meses tem sido “mais intenso e acelerado” que o estimado. Baseado nisso, o economista passou a ver Selic de 7% ao fim deste ano e manteve expectativa de redução de 1,25 ponto do juro básico neste mês. Com a perspectiva de aprovação das reformas fiscais, Oliveira diz parecer “razoável” que o juro real neutro da economia esteja em trajetória decrescente.
O juro real neutro é aquele que, teoricamente, permite o máximo de crescimento sem pressões inflacionárias. O economista calcula que essa taxa está hoje entre 4,3% e 6,8% ao ano, com a taxa de longo prazo em 4,8%. “Assumindo que as reformas e a boa gestão macroeconômica contribuam com queda de um ponto percentual para a taxa real neutra de juros, é bastante provável que nos próximos 12 a 18 meses a taxa real neutra esteja em torno de 3,8%”, diz o economista.
Embora em queda, o juro real ainda é considerado expressivo por alguns economistas, segundo os quais a profundidade da recessão exige que a taxa real de juros opere em níveis eventualmente abaixo do patamar considerado neutro.
O sócio-gestor da MRJ Marejo Investimentos, Guilherme Foureaux, acredita que a Selic poderia ser reduzida até mesmo em 1,5 ponto já no fim deste mês, mas condiciona um corte dessa magnitude à aprovação do texto-base da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados até 24 de maio. Como vê esse cenário como menos provável, o gestor mantém estimativa de corte de 1,25 ponto percentual para o próximo dia 31. “O primeiro trimestre do ano foi muito bom, mas o que estamos vendo no segundo parece bem desanimador. E o BC com certeza está vendo isso”, afirma.
Fonte: Valor