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Corte de 1,25 ponto na Selic ganha adesão

A pouco mais de três semanas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dados mistos de atividade e o avanço, ainda que tímido, da agenda de reformas colocam no radar apostas de uma nova aceleração do ritmo de corte de juros. Nos contratos de juros futuros, a probabilidade de uma redução de 1,25 ponto da Selic já neste mês cresceu de 24% para 36% na última semana. Esse já é, inclusive, o cenário do Bradesco, a primeira grande instituição financeira a ajustar sua expectativa nessa direção.

Na sexta, a equipe comandada pelo economista Fernando Honorato informou que passou a esperar cortes de 1,25 ponto nas duas próximas reuniões e depois mais dois cortes de 0,5 ponto. Com isso, a Selic deve cair para 8% no fim do ciclo, nível que deve ser mantido até o fim de 2018. A nova tese considera que “o avanço da tramitação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados acontecerá dentro do esperado”.

O cenário anterior do Bradesco contemplava um corte de 1 ponto em maio e uma Selic de 8,5% no fim do processo de flexibilização monetária.

O Bradesco é a primeira grande instituição financeira a trabalhar com um ritmo mais acelerado de corte de juros. Se confirmado esse cenário, será a primeira vez desde março de 2009 que o Banco Central fará um corte de juros superior a 1 ponto. Na ocasião, o Copom, comandado por Henrique Meirelles, reduziu a taxa em 1,5 ponto, para 11,25%, reagindo a um quadro de fraqueza econômica, fruto da crise financeira internacional que teve a quebra do banco Lehman Brothers como ápice.

A dose mais intensa de corte, no entanto, foi pontual: na reunião seguinte, de abril daquele ano, o BC retomou o ritmo anterior, de cortes de 1 ponto percentual da Selic. Ao longo do ciclo, a taxa saiu de 13,75% para 8,75%. Antes disso, a única vez em que houve cortes superiores a 1 ponto havia sido no segundo semestre de 2003, primeiro ano da gestão de Meirelles, quando o juro estava em 26%.

No ciclo de alívio monetário que está em curso, o Copom já retirou 3 pontos da Selic, atualmente fixada em 11,25%. Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, a perspectiva de que a recuperação da economia ocorra de forma lenta e gradual, num momento em que a inflação mostra-se controlada, justifica a aceleração do ritmo. Para ele, não há no cenário riscos importantes que coloquem a inflação fora do controle nos próximos dois anos: não há perspectiva de restrição de oferta, o desemprego é alto – sendo que os ganhos de renda são produzidos por queda da inflação e não pela melhora do mercado de trabalho – e a ociosidade da indústria também continua elevada.

Esse quadro explica a revisão da projeção para o IPCA neste ano de 3,9% para 3,7% e, para 2018, de 4,5% para 4,1%. “Ainda não sabemos exatamente qual será a resposta da economia a esse ciclo, mas parece que ela será lenta, o que eleva a chance de termos juros mais baixos no fim do ciclo”, afirma Honorato.

O cenário do Bradesco considera que a taxa de câmbio seguirá próxima do patamar atual, com viés de apreciação, “refletindo os fundamentos e o encaminhamento favorável da reforma da Previdência.”

Já o economista José Júlio Senna, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defende que o Banco Central evite um corte de juros maior que 1 ponto percentual na reunião de maio do Comitê de Política Monetária e nas seguintes, mesmo que sejam criadas as condições para tanto.

“Não gosto da ideia”, afirma Senna, responsável pelo Centro de Estudos Monetários, um núcleo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. “É algo que deve ser deixado para momentos muito especiais.”

Segundo Senna, em 16 anos de história, os diferentes administradores que passaram pelo Banco Central, incluindo mais ortodoxos e menos ortodoxos, moldaram esse princípio de não impor uma volatilidade excessiva na taxa de juros, a não ser em circunstâncias muito especiais.

O economista diz que “não há nada de mágico” em relação ao parâmetro de fazer movimentos até 1 ponto percentual, mas a história mostra uma sabedoria de evitar movimentos excessivos no instrumento de política monetária.

A interpretação de Senna é que, com movimentos acima de 1 ponto percentual, o BC amplia a volatilidade no uso da meta da taxa Selic e faz com que o mercado trabalhe com um leque mais amplo de possibilidades para decisões futuras do instrumento de política monetária.

Além do aumento dos prêmios de riscos, argumenta Senna, o Banco Central poderá prejudicar a formação de preços no mercado futuro de juros, que é essencial para a boa transmissão da política monetária. “Quando o BC abre muito o leque de possibilidades, ocorre uma dispersão muito grande nos preços.”

Com a recessão mais grave de sua história, o Brasil não teria hoje uma situação muito excepcional que exigiria um movimento mais forte de juros? Senna acha que não. “Quando falamos de movimentos acima de 1 ponto, estamos falando da história anterior a 2003, num país cujas reservas internacionais acabaram e que passou por um choque tremendo na primeira eleição de Lula”, afirma ele. Em 2009, lembrou, o BC fez um único movimento de 1,5 ponto, num ciclo de 5 pontos percentuais.

“Será que vai ser uma grande diferença para a atividade se, em vez de cortar um ponto percentual, o BC cortar 1,25 ponto?”, afirma Senna. “Acho que não. Para as expectativas de inflação, tem impacto. O BC não deixará de sinalizar que está preocupado com a atividade. Mas, ao manter a rédea curta, vai mostrar que está preocupado com as expectativas. Vai criar as condições para ter metas menores mais adiante e em levar o Brasil a um quadro de inflação mais estável.”

Fonte: Valor

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