Corrida para disputar rodovias federais
Na reta final para apresentar propostas ao leilão de licitação dos sete lotes de rodovias federais, grupos nacionais e estrangeiros, investidores e bancos se articulam na formação de consórcios. O prazo final é amanhã, se uma liminar que adia a entrega for cassada. A disputa é considerada por executivos envolvidos como a mais acirrada no processo de concessões de estradas.
AInvepar, pouco conhecida no ramo de obras públicas, quer crescer. Junto das fluminenses Queiroz Galvão e Carioca Engenharia formou um consórcio para disputar a licitação. Embora com capital majoritariamente carioca, muitas reuniões do grupo estão ocorrendo na capital paulista.
A empresa é uma sociedade entre a OAS e a Previ, maior fundo de pensão do país, com patrimônio superior a R$ 100 bilhões. A OAS tem 17% da Invepar, representado por 51% das ações ordinárias, enquanto a fundação detém 83% do negócio – 49% de papéis com direito a voto e 100% dos preferenciais. Seus dois principais ativos são 20 km ligando a Ilha do Fundão à Barra da Tijuca, no litoral norte do Rio, e 182 km na Bahia, até a divisa com Sergipe. As concessões recebem mais de 110 mil veículos ao dia. Em 2006, teve faturamento líquido de R$ 133,5 milhões e lucro líquido de R$ 45,6 milhões.
Já o Grupo Queiroz Galvão, com mais de 50 anos de existência, iniciou as atividades como construtor e hoje possui braços por diversos setores – de alimentos a concessões rodoviárias, siderurgia e finanças. No ramo rodoviário, o consórcio do qual faz parte é responsável pela administração da Concessionária Rio-Teresópolis (CRT). No Paraná, faz parte da concessionária que responde pela Viapar, que inclui trechos das rodovias federais BR-369, BR-158 e BR-376, e das estaduais PR-444 e PR-317.
Até agora não há definição sobre a situação da GP Participações no consórcio. A GP anunciou, em meados de 2006, que faria aporte de R$ 212,5 milhões na Invepar, para ficar com um terço do negócio. O acordo, porém, estava condicionado à novos trechos de concessão, que só agora, mais de um ano depois, têm a chance de se concretizar. As informações registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda não tratam a GP como sócia.
Em casos de novas concessões, a Invepar contava com possível financiamento do BNDES e também do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Porém, a empresa necessita de mais um sócio, dada a situação da Previ, que infringe as regras da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) – limite de 20% na participação de fundos de pensão em ações de controle de uma empresa, qualquer que seja o setor da economia.
O banco americano Goldman Sachs estuda participar do leilão em parceria com clientes (investidores locais) cujos nomes não quis revelar. Segundo avaliações do mercado, o leilão pode movimentar US$ 2 bilhões. O banco pode entrar com seu fundo de infra-estrutura, que tem patrimônio em ações de cerca de US$ 6,5 bilhões, mas pode alavancar mais recursos assumindo dívidas no mercado. De toda forma, a participação sempre será com investidores locais, como acaba de fazer no México.
Com a construtora mexicana ICA, o Goldman saiu vitorioso no leilão do programa mexicano de privatização de estradas, pagando US$ 4,1 bilhões para assumir, manter e administrar quatro estradas do país. Segundo o presidente do Goldman Sachs do Brasil Banco Múltiplo S.A, Valentino D. Carlotti, esse é o modelo preferencial adotado pelo banco para seus investimentos, inclusive com capital próprio. “Nos somos percebidos pelos clientes como melhores assessores se participamos do investimento com dinheiro”, disse Carlotti.
Pelo menos três empresas paranaenses têm interesse em participar da licitação das rodovias: CR Almeida, J. Malucelli Construtora e a empresa de energia Copel. A CR Almeida é sócia do grupo italiano Impregilo na holding EcoRodovias, que administra a Ecovias dos Imigrantes (SP), Ecovia Caminho do Mar (PR) e Ecosul (RS). Consultada, a holding informou por meio da assessoria de imprensa que deve apresentar propostas, mas não forneceu detalhes de seu projeto.
“As empresas estão sendo bem seletivas, não devemos ver loucuras”, disse uma fonte. O Valor apurou que a J. Malucelli tem interesse em dois lotes e deve entrar sozinha na disputa. O grupo J. Malucelli é sócio da CCR na Rodonorte, que administra 567 km de rodovias no Estado. A maior expectativa é sobre a decisão da Copel, que planeja estrear nesse segmento a pedido do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que é contra pedágios em rodovias e pretende provar que é possível cobrar menos.
Mas, como não é do ramo, a Copel está com dificuldades para conseguir garantias para apresentar no leilão. “A Copel está tentando as garantias necessárias para participar do leilão”, informou, que também não divulgou até agora o nome dos sócios. Desde que tornou público o interesse em diversificar a atuação, enfrentou diversos tipos de reações contrárias, como queda nas ações e manifestações de funcionários e políticos. As parcerias que serão formadas por ela também viraram motivo de especulação. Recentemente, a assessoria da Fetrancesc, federação que reúne os transportadores de carga de Santa Catarina, distribuiu texto em que informa que foi convidada pelo governo paranaense para participar da criação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) com a Copel e investidores do Paraná e de Santa Catarina, para disputar a concessão das rodovias federais.
A intenção da Copel é ter 58% das sociedades que serão formadas. A empresa informou que os investimentos previstos para os trechos desejados (os números 2, 6 e 7) são de R$ 4,5 bilhões em 25 anos.
A Equipav e o grupo Bertin, por meio do Consórcio Infra-estrutura Bertin Equipav (CIBE), vão juntos disputar as sete concessões, disse José Carlos Toledo, acionista da empresa, recentemente ao Valor. A intenção é entregar as propostas para todos os sete. O CIBE é responsável pela construção da ponte de 450 metros sobre o Rio Araguaia, na divisa dos Estados de Mato Grosso e Goiás, que ligará as rodovias MT-326 e GO-454. Eles possuem também a concessão de três rodovias no Rio Grande do Sul, administrando quase 1 mil km, e outros 299 no interior do Estado de São Paulo.
A BRVias e o grupo espanhol Acciona anunciaram há um mês a formação de um consórcio, com 50% de cada parte, e mostra apetite por todo o pacote de rodovias. A Acciona, com faturamento de 7 bilhões de euros ao ano, administra 21 concessões em vários dos 30 países onde opera. A BRVias (grupos Áurea, Splice WTorre), foi criada em 2006 com o objetivo de disputar as concessões federais e estaduais paulistas.
A ANTT, agência reguladora que coordena o processo de licitação, recorreu ontem mesmo da liminar e aguarda decisão da Justiça, que pode sair hoje.
Fonte: Valor