Consultoria revisa cenário e prevê recuo do PIB de 0,3% no ano
A 4E Consultoria reduziu as suas projeções para o PIB em 2017 e 2018, em função da nova crise política. Para este ano, a 4E passou a esperar uma contração da economia de 0,3%, mais acentuada que a queda de 0,1% estimada anteriormente. Para o ano que vem, o crescimento projetado caiu de 2,5% para 1,2%, segundo o economista Juan Jensen, sócio da 4E.
A eclosão da crise política deve levar a um adiamento razoável da recuperação que se desenhava, para a consultoria. Jensen conta que, na semana passada, a 4E iria revisar para cima a previsão para 2017, de uma queda de 0,1% para um crescimento de 0,1%. Com a divulgação da gravação feita pelo empresário Joesley Batista, da JBS, de uma conversa com o presidente Michel Temer, o quadro mudou.
Antes do novo escândalo, Jensen contava com um desempenho razoável da economia na segunda metade do ano, que ganharia mais tração no ano que vem. O imbróglio político, contudo, fez a 4E desistir da revisão para cima; nesta semana, a consultoria reduziu a previsão.
Jensen estima que, no primeiro trimestre, houve um crescimento de 0,8% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, com grande destaque para a agropecuária. O resultado será divulgado na semana que vem. Para o segundo trimestre, ele já projeta uma queda de 0,1% – antes da crise política, esperava uma alta de 0,1%. Na segunda metade do ano, as projeções apontam para um quadro pouco animador: um recuo de 0,05% no terceiro e um crescimento de apenas 0,1% no quarto.
“Para 2018, esperamos que a economia volte a apresentar taxas de crescimento positivas de forma sustentada, com um crescimento médio de 0,53% ao trimestre”, diz a consultoria. Um problema é que o desempenho fraco no segundo semestre de 2017 afetará a herança estatística que este ano deixará para o próximo. O chamado “carry over” fica em 0,03% se a economia seguir a trajetória esperada pela 4E, segundo Jensen. Isso significa que, se a economia não crescer nada em relação ao nível projetado pela 4E para o fim deste ano, o PIB terá uma expansão de apenas 0,03% em 2018. “Adicionalmente, há o ambiente de maior incerteza e a evolução menos favorável da agenda de reformas, tanto no âmbito fiscal como microeconômicas, reduzindo a própria velocidade do crescimento trimestral que podemos esperar para 2018”, afirma a 4E.
O economista diz que a consultoria trabalha com a permanência de Temer no governo, obviamente enfraquecido. A reforma da Previdência não teria mais como ser aprovada. A trabalhista ainda teria condições de avançar, avalia ele.
Jensen não concorda com a visão de boa parte dos analistas de que o presidente deixará o governo em breve. Para ele, Temer não tem incentivos para a renúncia, uma vez que perderia o foro privilegiado. O sócio da 4E tampouco vê chances de prosperar um processo de impeachment, uma vez que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é aliado de Temer, e não deve aceitar os pedidos.
Restaria, com isso, o caminho de cassação da chapa de Dilma Rousseff e Temer nas eleições de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O julgamento começa em 6 de junho. Para Jensen, existe a possibilidade de que algum ministro peça vistas do processo, o que pode levar o processo a se arrastar por meses. Além disso, Temer tem a opção de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse quadro, Jensen considera o mais provável a manutenção de um Temer mais fraco no governo, sem condições de fazer a reforma da Previdência passar no Congresso.
Na hipótese que ele vê como mais improvável, a de Temer sair do governo, haveria alguma chance de um novo presidente aprovar alguma mudança no sistema de aposentadorias, mas seria algo bem mais diluído do que a versão atual que tramita na Câmara. “Isso não resolveria o problema fiscal, fazendo com que o presidente a ser eleito em 2018 tenha que tratar do assunto logo no começo de seu mandato”, avalia Jensen.
Na visão do economista, a confiança de empresários e consumidores será afetada pela nova crise, o que deve aparecer com mais clareza nos indicadores de junho. Isso atrapalha a retomada, ao afetar as decisões de investimento e de consumo. Outro ponto é que, num cenário de incerteza, dificilmente os bancos entrarão num movimento de redução dos spreads (a diferença entre o custo de captação das instituições financeiras e a taxa cobrada em empréstimos e financiamentos). Com isso, a taxa final do crédito deve cair pouco.
A 4E manteve a expectativa de que o BC vai levar os juros para 8,25% ao ano ainda em 2017, apesar da crise política. No entanto, o Comitê de Política Monetária (Copom) não deve acelerar os cortes da taxa nas reuniões deste mês e na próxima para 1,25 ponto percentual, diz a consultoria. “Agora, esperamos que o BC mantenha o ritmo atual de corte de juros nas próximas reuniões, com reduções de 1 ponto em maio e em julho; na sequência, encerrando o ciclo, antecipamos duas reduções de 0,5 ponto nas reuniões de setembro e outubro”, escreve Thiago Curado, outro dos sócios da 4E.
Na segunda-feira, o Banco Fibra reduziu as estimativas para o crescimento em 2017 e 2018, por causa da nova crise política. O Fibra revisou a projeção de 2017 de 1% para 0,5% e a de 2018 de 3,5% para 2,5%.
O Credit Suisse, por sua vez, manteve as previsões de um crescimento de 0,2% em 2017 e de 2% em 2018. Em relatório, porém, o banco diz que os riscos para a projeção são “assimétricos, com uma maior probabilidade de que os eventos correntes tenham impacto desfavorável sobre o desempenho do PIB nos próximos trimestres.” De acordo com o Credit Suisse, a manutenção das estimativas “se justifica pela elevada incerteza para se traçar um cenário político para o curto prazo”. O banco projeta uma expansão no primeiro trimestre de 0,8% sobre o trimestre anterior, mas já antecipa um recuo de 0,2% no período de abril a junho. “Os eventos políticos recentes tendem a elevar a aversão ao risco, com consequências negativas para a retomada dos investimentos nos próximos trimestres”, adverte o Credit Suisse. “Um eventual prolongamento da crise política poderia manter a contração do PIB na comparação com o trimestre anterior no terceiro e no quarto trimestre, revertendo a trajetória de recuperação gradual dos últimos meses.”
Fonte: Valor