Congresso discute acesso a diagnóstico e tratamento do câncer de mama
Especialistas e parlamentares reiteraram a importância da prevenção, do diagnóstico e do tratamento precoce do câncer de mama em sessão solene especial do Congresso Nacional de encerramento da campanha “Outubro Rosa”.
Os participantes também chamaram a atenção para a desigualdade social na luta contra o câncer de mama. Durante todo o mês, a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados realizou, em parceria com o Senado Federal, debates, campanhas informativas e de doação, exposição, iluminação especial dos prédios do Congresso, entre outros eventos de conscientização sobre o tema.
Coordenadora da bancada feminina e uma das autoras do pedido da sessão, a deputada Celina Leão (PP-DF) destacou que, com a lotação dos hospitais durante a pandemia de Covid-19, houve perda na qualidade do atendimento das mulheres com câncer de mama.
Segundo ela, a missão dos parlamentares é agora trabalhar pela retomada integral do atendimento e pela melhoria e aplicação das leis que já existem. “Temos muitas leis importantes. Devemos inclusive votar uma esta semana, em homenagem ao Outubro Rosa, que é o Estatuto da Pessoa com Câncer, da deputada Tereza Nelma”, disse.
A proposta, que tem o objetivo de promover o acesso igualitário a tratamentos e prevê o atendimento integral da pessoa com câncer no Sistema Único de Saúde (SUS), já foi aprovada pela Câmara e pelo Senado, e agora os deputados analisarão as mudanças feitas pelos senadores no texto.
A presidente do instituto Oncoguia, Luciana Holtz, frisou que são 67 mil casos diagnosticados de câncer de mama por ano no Brasil – ou seja, 180 novos casos por dia, 7 por hora, além de 2 mortes por hora. “Morrem mais as mulheres que não sabem ler, as mulheres pretas, as mulheres que não têm dinheiro para pagar condução para ir ao médico, e muitas vezes tem que escolher entre ir ao médico e dar comida para seus filhos”, disse.
Para ela, as principais vítimas do câncer de mama são “as mulheres que não têm força para se cuidar, por falta de autoestima, bem-estar profissional, as que não tem acesso ao serviço de saúde perto ou longe dela”.
Acesso à mamografia
A deputada Tereza Nelma (PSDB-AL), que é paciente oncológica e também pediu o debate, defendeu a antecipação da mamografia no SUS para mulheres a partir de 40 anos.
Atualmente, o SUS indica a mamografia para a faixa etária de 50 a 69 anos.
A deputada é relatora, na Comissão de Seguridade Social e Família, do projeto de decreto legislativo (PDL 679/19) do Senado que susta a portaria do Ministério da Saúde que mantém o uso da mamografia para o rastreamento do câncer de mama em mulheres na atual faixa etária.
O parecer de Tereza Nelma recomenda a aprovação do projeto e aguarda votação na comissão.
A representante da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, Maria Cristina Amorim, estimou em 1 milhão o número de mulheres que deixaram de fazer a mamografia durante a pandemia.
Ela salientou que durante o mês de outubro aumenta o número de mamografias realizadas, o que mostra o resultado da Campanha Outubro Rosa.
Maria Cristina também observou que portaria do Ministério da Saúde (3712/20) destinou R$ 150 milhões para a ampliação do acesso às ações para rastreamento, detecção precoce e controle do câncer no SUS durante a pandemia, e que é preciso cobrar dos gestores ações nesse sentido.
Já o diretor técnico do Centro de Referência da Saúde da Mulher, do Hospital Pérola Byington São Paulo, Luiz Henrique Gebrim, afirmou que hoje há três filas referentes ao câncer de mama no Brasil, e ele acredita que o foco deve ser nas duas primeiras. “Fila de mulheres com diagnóstico de câncer na mão e não conseguem iniciar a quimioterapia ou a cirurgia, é fundamental priorizar esta fila; a segunda fila é a de mulheres, 80% das mulheres brasileiras, que já descobriram o nódulo e precisam de uma biópsia e demoram de três a seis meses; e a terceira fila é a da mamografia, que é tida como prioritária, mas não é, essa pode esperar”, ponderou.
Veto a projeto
Procuradora da Mulher no Senado e também autora do requerimento para a sessão, a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) pediu aos parlamentares a derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro ao Projeto de Lei 6330/19 (Veto 41), que facilita o acesso a remédios orais contra o câncer, obrigando planos de saúde a cobrir despesas com esses tratamentos em até 48 horas.
O oncologista Gilberto Amorim, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, disse que é favorável à derrubada do veto, já que a lei poderia beneficiar mais de 50 mil usuários de planos de saúde, mas ressaltou que 80% da população é atendida pelo SUS e não tem acesso a plano.
Ele destacou que, conforme dados do Data SUS, a queda na realização de mamografia foi de mais 50% durante a pandemia, e agora precisam ser retomados os exames, assim como as consultas ao ginecologista e ao mastologista, quando necessário.
Paciente oncológica do SUS, Daniela Catunda relatou que teve que entrar na Justiça para tentar acesso a seu tratamento de imunoterapia. Ela defendeu a aprovação do PL 2371/21, que altera a Lei do SUS para incluir a imunoterapia nos protocolos clínicos do câncer.
Ela chamou a atenção ainda para a dificuldade para fazer a reposição da mama no SUS e frisou que esse tipo de câncer mexe muito com a autoestima feminina.
A deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), por sua vez, lembrou que os parlamentares aprovaram em 2019 proposta de sua autoria (Lei 13.896/19) que assegura a pacientes do SUS com suspeita de câncer o direito à realização de exames no prazo máximo de 30 dias, e disse que a lei precisa ser colocada em prática.
Hábitos saudáveis e teste genético
Além de reiterar a importância do acesso rápido à mamografia e à biópsia das alterações encontradas, Carolina de Miranda, médica mastologista do Hospital de Base de Brasília, observou que os hábitos de vida saudáveis são importantíssimos para diminuir as chances de câncer – incluindo alimentação balanceada e exercícios -, assim como a atenção ao histórico familiar.
Marlene Oliveira, do Instituto Lado a Lado, defendeu o acesso ao teste genético e observou que o câncer de mama se torna cada vez mais uma realidade também para mulheres jovens.
Lely Barrera, representante da Organização Panamericana de Saúde (Opas), ressaltou que nas Américas o câncer de mama é o tipo mais comum na mulher e a segunda causa de morte por câncer nesse segmento da população, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
Fonte: NULL