Como usar fundos de investimento para aumentar o retorno (Artigo)
Desde junho de 2013, o Brasil vive ciclos de instabilidade política, manifestações populares e as consequências das investigações no âmbito da Operação Lava-Jato.
No lado real da economia, o país entrou na pior recessão da história e registra taxas recordes de desemprego. Nesse período de turbulências, a variação dos principais ativos financeiros foi intensa.
Após oscilar na faixa entre R$ 2,14 e R$ 2,40 até outubro de 2014, o dólar atingiu a máxima de R$ 4,12 em setembro de 2015. A cotação voltou a cair até a mínima de R$ 3,08 em fevereiro de 2017 e agora a moeda é negociada no patamar de R$ 3,30.
Já o Ibovespa, o principal indicador da bolsa, oscilou na maior parte do tempo entre 45 mil e 55 mil pontos até chegar à mínima de 38 mil pontos em janeiro de 2016. Depois, marcou a máxima de 68 mil pontos em fevereiro de 2017 e atualmente está no patamar de 62 mil pontos.
A taxa Selic, por sua vez, subiu de 8% ao ano para 14,25% ao ano até outubro de 2016, quando o Banco Central iniciou o período de redução dos juros. A taxa básica atualmente está em 10,25% ao ano e a previsão é de mais cortes pela frente.
Nesse ambiente extremamente volátil, é natural que o investidor busque ajuda dos profissionais do mercado financeiro para ter maior segurança em suas decisões. No entanto, mais importante do que correr atrás da rentabilidade, é fundamental estabelecer uma estratégia consistente.
Para exemplificar como a instabilidade afeta os ativos financeiros, considere o desempenho dos fundos de investimento classificados na categoria multimercado. As carteiras possuem ampla liberdade para escolher os ativos potencialmente mais rentáveis. Os gestores trabalham com as variações da taxa de juros, Ibovespa e dólar, além de ativos negociados no exterior.
Entre junho de 2013 e junho de 2017, a rentabilidade de uma aplicação indexada à variação do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI) foi de 58%. Essa é a modalidade mais tradicional do mercado e acessível a praticamente todos os investidores, com diferenças de remuneração conforme a instituição ou o produto financeiro selecionado.
Já a mediana do retorno dos principais fundos multimercados com histórico completo para o período foi um pouco maior, de 59%. Na linguagem do mercado, a mediana do retorno dos fundos foi de 102% do CDI. Os dados são da Morningstar e incluem o total de 217 carteiras.
A dispersão de rentabilidade foi grande. O melhor fundo multimercado teve rentabilidade de quase 100%, equivalente a 172% do CDI. O pior apresentou rendimento de 33% no período, pouco menos de 60% do CDI.
Avaliando o desempenho passado, é possível concluir que além de habilidade ou sorte para escolher as melhores carteiras, o investidor precisou manter a calma e o sangue frio. Todos os melhores fundos passaram por períodos relativamente longos de rentabilidade sofrível.
Entre os fundos de ações a história não foi muito diferente. A rentabilidade do Ibovespa foi de apenas 14% no intervalo analisado, aproximadamente igual à mediana do retorno de 237 fundos de ações.
A diferença para os multimercados é que a dispersão da rentabilidade dos fundos de ações foi maior. A pior carteira teve prejuízos de 30% e a melhor teve ganhos de 80%. Foram desconsiderados os fundos que foram liquidados ao longo do período.
A lição que fica é que não basta correr mais risco para, necessariamente, obter mais retorno no longo prazo. O período de quatro anos é relativamente longo e ainda assim muitas carteiras arriscadas tiveram prejuízo.
Outro aspecto relevante é que, muitas vezes, o desempenho de fundos da moda acaba se mostrando inconsistente ao longo do tempo. O argumento de que um gestor brilhante decidiu montar sua própria “asset” independente e o investimento é uma oportunidade única deve ser avaliado com cautela.
Por uma série de razões que não tem relação com a capacidade individual, fundos de bons gestores podem não conseguir a rentabilidade almejada. Na dúvida, é recomendável agir com prudência.
O ponto positivo é que os fundos de investimento que possuem uma estratégia sólida e possível de ser compreendida são excelentes oportunidades de diversificação. Mas para identificar um bom fundo, o investidor precisa ter a sua própria estratégia.
O primeiro passo é estabelecer o horizonte de investimento. Em seguida, definir o percentual da carteira que será alocado em renda fixa ou variável. Depois, elencar os tipos de ativos e indexadores que farão parte do investimento.
A partir daí é possível selecionar os fundos mais adequados para a execução da política de investimento estabelecida.
Fonte: Valor