Cautela na gestão ajuda o Mercantil do Brasil
Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. O ditado popular parece inspirar os controladores do mineiro Mercantil do Brasil. Banco de varejo de porte médio, o Mercantil vem enfrentando a crise com surpreendente liquidez graças à política conservadora que sempre marcou sua gestão. Além de dobrar o valor das suas reservas, diminuindo o ritmo das operações, o banco receberá neste mês uma injeção de R$ 340 milhões relativos à venda da seguradora Minas Brasil para a suíça Zurich.
Eugênio Savio / ValorAndré Brasil, vice-presidente executivo do banco mineiro: “Tivemos prudência, competência e também um pouco de sorte”, ao se referir à venda da seguradora
A operação – que, com a crise, se tornou ainda mais estratégica – é a prova de que o banco mineiro sempre se dá bem quando escolhe não correr riscos. O Mercantil estava com tudo pronto para fazer o IPO da sua seguradora, a Minas Brasil, no primeiro semestre desse ano. Mas, aos primeiros sinais de instabilidade no mercado de ações, preferiu adiar o projeto.
A cautela acabou sendo um grande acerto. Companhias que tiveram acesso aos dados da Minas Brasil durante a estruturação do IPO se interessaram de fato pela seguradora. E fizeram propostas mais interessantes do que poderia ter sido a abertura de capital. Além da venda do controle da Minas Brasil para a Zurich, por R$ 290 milhões, o banco fechou um contrato de “bancassurance” – a exclusividade na distribuição dos produtos de seguros e previdência – que lhe renderá mais R$ 100 milhões. Metade desses recursos, R$ 50 milhões, serão pagos à vista. A outra metade, ao longo dos próximos 15 anos.
O negócio com a Zurich foi sacramentado em julho, pouco antes do ápice da crise financeira internacional. “Tivemos prudência, competência e também um pouco de sorte”, brinca o vice-presidente executivo, André Brasil.
Funcionário da casa há 36 anos, André Brasil acaba de assumir o comando executivo do banco após o afastamento dos três membros da família Araújo que ainda ocupavam cargos na diretoria. Todos os membros da família estão agora no conselho de administração, presidido por Milton Araújo, fundador do banco.
O Mercantil reabriu na semana passada as operações de financiamento de veículos, mas o ritmo de produção foi reduzido a 20% do ritmo anterior. As operações do crédito consignado não chegaram a ser fechadas, mas foram cortadas pela metade. O banco manteve aberta apenas as operações de convênios que permitiam reajuste nas taxas de juros. A instituição também reduziu para apenas 12 meses o prazo nas linhas de crédito para capital de giro. A ordem é minimizar os riscos neste momento de elevada volatilidade.
A previsão de crescimento de 32% foi revista para 20%, apesar dos bastante positivos até o terceiro trimestre. O lucro líquido acumulado chegou a R$ 32, 2 milhões, 8% maior que o do mesmo perído do ano passado. A carteira de crédito atingiu R$ 4,5 bilhões, 31% superior a do mesmo período de 2007. Os depósitos a prazo, principal funding do Mercantil, também cresceram 31%, chegando a R$ 3,1 bilhões.
“Dada as circunstâncias, 20% ainda é um crescimento bastante significativo”, analisa o vice-presidente. A direção do Mercantil começou a discutir as estratégias para enfrentar 2009, ano que terá certamente liquidez mais apertada. A avaliação dos diretores é de que a rede de 150 agências – que acaba de passar por uma reestruturação, com fechamento de agências deficitárias e concentração em praças onde o banco tem melhor performance – será a salvação do banco.
Diferentemente de outros bancos médios, que atuam em nichos como o consignado e dependem de correspondentes, o Mercantil oferece uma gama variada de produtos e concorre, em algumas praças, como os maiores bancos de varejo do país. Em Minas Gerais, onde estão metade das agências do Mercantil do Brasil, o banco tem uma participação de mercado de mais de 10%. “Temos fatia praticamente igual à dos quatro maiores”, informa o executivo.
Micro, pequenas e médias empresas respondem por mais de 60% das operações de crédito do banco. “Entendemos melhor esses clientes do que os grandes bancos.” André Brasil reconhece que a consolidação do mercado financeiro, com grandes bancos comprando médios, é uma tendência natural. Mas garante que não há qualquer oferta na mesa ou interesse de venda por parte dos controladores do Mercantil do Brasil.
Fonte: Valor