Casas Bahia, dos Klein, causa surpresa ao sondar compradores
A empresa da família Klein, por meio do consultor de varejo, Marcos Gouvêa de Souza, procurou um pequeno grupo de empresas do setor e de fundos de private equity, indicando que gostaria de receber propostas de compra do seu controle, conforme notícia veiculada no portal “Exame” na sexta.
Por seu porte e valor estratégico – a empresa lidera o ramo com faturamento anual por volta de R$ 12 bilhões -, a sinalização da Casas Bahia despertou grande interesse no mercado. Segundo apurou o Valor, foram procuradas as líderes do varejo de alimentos, como Pão de Açúcar e Wal-Mart e grandes fundos de private equity como GP Investimentos e Pactual Capital Partners.
Mas, o que era para ser algo restrito, acabou saindo do controle e atraindo a curiosidade de mais gente. Fala-se até em fundos de private equity estrangeiros, como o americano Blackstone. “Quiseram esconder um elefante atrás da moita”, diz um dos executivos procurados. A Casas Bahia nega que esteja à venda. Procurado, Marcos Gouvêa preferiu não comentar.
A forma como a história vem sendo conduzida causa estranheza entre executivos acostumados a operações de fusões e aquisições. Primeiramente porque não se trata de um processo organizado. Além disso, a escolha de um consultor de varejo como assessor é pouco usual. Ainda mais para um grupo do porte da Casas Bahia. Representantes de empresas e fundos sentem também uma certa falta de convicção nos contatos feitos. “A família parece não ter certeza do que quer”, comentou o gestor de um fundo de private equity.
Há a percepção de que, talvez, o objetivo final não seja propriamente a venda da rede. A família Klein pode estar tentando obter uma avaliação do seu ativo. Uma das hipóteses seria testar o mercado com vistas a realizar uma futura abertura de capital. Mas, neste caso, haveria maneiras mais discretas de obter uma avaliação.
Outra possibilidade é que a família esteja tentando fazer algum acerto entre herdeiros, acredita um executivo de uma rede de varejo. Essa hipótese é tida como bastante plausível porque as Casas Bahia estaria entrando em fase sucessória. Samuel Klein, o lendário fundador da rede, acaba de completar 84 anos. Sua mulher, Ana, acionista da empresa ao lado marido, morreu há cerca de um ano.
O casal tem três filhos vivos, o mais velho Michael, que dirige a rede, Saul, que também faz parte da administração, e Eva, que vive nos Estados Unidos e se mantém distante da empresa da família. A terceira geração da família – cinco netos – está na faixa dos 20 aos 30 e poucos anos e começa a chegar à empresa. Raphael, filho de Michael Klein, por exemplo, ocupa a diretoria de marketing.
A Casas Bahia é um caso raro de gestão familiar entre as companhias de varejo deste porte no Brasil. Ela faz parte da elite do setor, que fatura mais de R$ 10 bilhões, ao lado de Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart. Mesmo companhias muito menores, como Lojas Americanas (R$ 5 bilhões de receita bruta), têm uma gestão altamente profissionalizada.
Na hipótese de o processo de venda caminhar, pouca gente acredita que a família Klein busque sócios, mas sim uma venda integral. E os candidatos a compradores mais naturais seriam as grandes redes de varejo de alimentos, que estão em movimento de consolidação e dirigiram o seu foco hoje para o setor de não-alimentos. O Wal-Mart nos Estados Unidos já nasceu como uma empresa do setor não-alimentar, que vende roupas, remédios, eletrônicos, móveis etc. As varejistas teriam muito mais sinergias a aproveitar no negócio, principalmente por conta do sistema de distribuição. Se a rede estiver de fato à venda, o Wal-Mart seria um dos principais candidatos a comprá-la. A Casas Bahia daria à multinacional o acesso à região Sudeste, onde sua presença ainda é fraca.
Fonte: Valor