Casamentos e Parcerias que respeitam a equidade nos cuidados com a casa e a família. Será que é possível?
Os avanços tecnológicos nos surpreendem a cada dia, agora com a IA fazendo parte das nossas vidas mais de perto, parece ainda mais distante o mundo que muitos de nós vivíamos em nossa adolescência, com as fitas K7 para gravar músicas do rádio tentando fazer as emendas perfeitas, as fitas VHS onde gravávamos vídeos da MTV ou um filme da Tela Quente, a comunicação por carta…Poxa, ainda somos jovens, mas o mundo mudou tão rápido neste aspecto!
Mas me parece que em muitos outros, nem tanto… mudar nossos conceitos e atitudes sobre determinado assunto, tirar de nós nossos vieses, mudar toda uma cultura em relação às crenças tão arraigadas, ah, isso demora… está bem distante da velocidade que a parte tecnológica muda! Eu poderia tecer algumas ideias sobre a velocidade das mudanças, comparando uma com a outra, mas este não é o nosso foco neste artigo; nosso foco aqui é equidade e para isso nos perguntaremos: será que o mundo mudou em algumas questões fundamentais como a equidade de direitos e deveres dentro de uma parceria amorosa? No casamento entre pessoas do mesmo gênero ou de gêneros distintos existe hoje uma melhor divisão de tarefas?
Essas são perguntas que, prometo, tentarei responder neste artigo.
A Constituição Federal de 1988 estabelece que os cônjuges devem exercer os direitos e deveres do casamento de forma igual. Mas será que isso ocorre na prática?
Primeiramente, precisamos nos perguntar se isso acontece em nosso relacionamento, não apenas amoroso, mas familiar também. E veja, trarei logo abaixo um exemplo mais comum nas famílias brasileiras, mas não quer dizer que ocorra em todas.
Vemos uma divisão de tarefas acontecendo em nossa família no almoço de domingo? Ou a cena se repete? Mulheres cozinhando e depois limpando a cozinha e lavando a louça enquanto ainda se desdobram nos cuidados dos filhos pequenos, que não quiseram ficar com os pais, pois eles estão na sala falando de política, assistindo futebol e não dão atenção de qualidade para a criança?
Apesar de estarmos no século XXI e, como falamos no início, estarmos tão avançados tecnologicamente (procuramos possibilidade de viver em outros planetas!!), ainda seguimos papéis de gênero muito tradicionais – ele, o provedor, e ela, a pessoa que cuida da casa (mesmo atualmente a mulher também sendo provedora).
Hoje, os novos casais estão tentando trabalhar melhor essa equidade, porém nos casais de gêneros distintos, ainda vemos as mulheres sendo responsáveis por cozinhar, limpar, lavar roupa, cuidar dos filhos (médico, reunião escolar, administração dos horários etc.), tarefas estas normalmente ditas como femininas que acontecem de maneira frequente, consumindo muito tempo e trazendo uma grande carga mental, enquanto os homens ficam com tarefas como tirar o lixo, pagar as contas, levar o carro ao mecânico, fazer pequenos consertos na casa, ou seja, tarefas mais sazonais e que não exigem muito tempo e preparo.
Atualmente, há dados de vários países mostrando como as mulheres passam mais horas fazendo trabalho doméstico não remunerado do que homens. Em média, elas passam três vezes mais tempo que os homens, mas isso varia de país a país. Na Índia chegam a passar 10 vezes mais tempo. No Brasil, segundo dados do IBGE de 2022, as mulheres dedicam 9,6 horas a mais que os homens no trabalho doméstico não remunerado. É muita coisa!
Mas e quanto aos casais do mesmo gênero? Estes também podem ter problemas com isso e um acabar fazendo mais que o outro, um fazendo mais tarefas físicas e outro com a maior carga mental, mas a pressão cultural e quase “natural” de empurrar as pessoas para determinados papéis é menor. Normalmente em casais do mesmo gênero a divisão é mais intencional e costuma ocorrer de acordo com as preferências individuais.
O caminho ainda é longo e entendemos que a jornada não é simples, mas será que é possível? Queremos acreditar que sim e que conseguiremos melhores resultados para as gerações futuras, pois estamos tentando criar nossos filhos de maneira diferente. Mas e para o agora? Que tal utilizarmos a tecnologia falada no início para nos ajudar? Seja com um aplicativo diferente, com uma planilha, com IA, as possibilidades são infinitas. E claro, principalmente, termos muita comunicação com nossas parcerias e principalmente muita empatia! Vamos juntos rumo à equidade!

Luciana Pavoni
Mãe do Gustavo, atualmente Advogada Sênior de Contratos de Resseguros na Swiss Re Brasil, com experiência de 8 anos no mercado de Seguros e Resseguros, apaixonada por resseguros e pelas questões de Diversidade e Inclusão, especialmente ás ligadas à questão de gênero. Na liderança, há 1 ano e meio, do grupo Level Up Brazil que trata da eqüidade de gênero dentro do grupo Swiss Re.