CARTAS – O surgimento dos microsseguros
Calcula-se que hoje em dia existam mais de três milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia. Destas, mais de dois milhões não têm nenhuma proteção em relação à segurança social. Em seu conjunto, representam um grupo com elevado poder de compra e para o qual, atualmente, as empresas estão começando a prestar atenção e desenvolver produtos e serviços específicos, como o recente serviço de microsseguros.
O desenvolvimento dos microsseguros convida ao otimismo, pois se trata de uma grande oportunidade com perspectivas de melhora econômica, um alto potencial de crescimento e uma virada regulamentar favorável. Estima-se que o número de pessoas cobertas por microsseguros em 2007 tenha crescido em torno de 10% em relação ao ano anterior e espera-se que este número duplique até 2011.
Os principais riscos que as pessoas enfrentam são a morte, as enfermidades ou lesões, as perdas patrimoniais e os desastres naturais. Qualquer acontecimento de risco tem conseqüências imediatas sobre suas frágeis economias e reduz suas possibilidades de sair da pobreza. A classe baixa dispõe de poucas alternativas para evitar os riscos ou pelo menos reduzi-los, e com freqüência utilizam métodos não financeiros, que levam a tomar decisões conservadoras, principalmente quando se trata de questões econômicas.
O microsseguro é um produto inovador que expõe grandes desafios para a indústria seguradora por vários motivos. Um deles é que se trata de um produto que requer uma alta capilaridade, devido ao baixo valor dos prêmios. Além disso, o processo de compra pelos clientes é baseado em parâmetros distintos aos da compra de seguros tradicionais.
Apesar disso, o produto também representa uma grande oportunidade para o futuro, já que o mercado de seguros é relativamente maduro nos produtos já existentes. E, também, permite a fidelização de clientes com baixos ganhos hoje, que poderão ser os clientes de altos ganhos no dia de amanhã.
Ainda que o desenvolvimento dos microsseguros tenha sido produzido com certo grau de informalidade, observam-se certos padrões na oferta comercial. Eles oferecem benefícios a segurados e seguradoras como, por exemplo, coberturas mais demandadas. Além disso, é mais simples realizar o “pricing” em relação a outros tipos de seguro, existem menos possibilidades de fraude ou risco moral e não depende da existência de outras infra-estruturas, como ocorre com os seguros de saúde (hospitais ou clínicas). Outros benefícios que podemos citar é que é relativamente fácil associá-lo com outro tipo de produto financeiro de investimento ou empréstimo.
Para que a população de baixa renda possa se beneficiar dos microsseguros, estes devem cobrir necessidades básicas de proteção, sejam de fácil compreensão e economicamente acessíveis. Algumas empresas do mercado já estão trabalhando no desenvolvimento de uma estratégia para microsseguros mais adequada para cada companhia, além de desenvolver um plano de negócio associado. O modelo objetivo deverá ser incorporado na estratégia da companhia, levando em consideração os condicionantes e o encontro do ponto de convergência adequado, analisando o tempo ideal para realizar a transição.
A experiência está demonstrando a necessidade de encontrar soluções de negócio que permitam ganhar a confiança do público-alvo, adequando a oferta à demanda. As próprias exigências que demanda o produto e as particularidades do público-alvo fazem com que a estratégia de distribuição seja de vital importância para o seu êxito. Uma nova alternativa neste sentido é impulsionar a criação de uma rede comercial de “microcorretores” apoiada em alianças comerciais com instituições do terceiro setor.
Fonte: Gazeta Mercantil