Cartão é usado principalmente para compra de itens de 1ª necessidade
O gasto com itens de primeira necessidade é o principal uso que o brasileiro faz do cartão de crédito. Um estudo da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) com dados de setembro mostra que os alimentos aparecem na fatura de 50% desses consumidores. Em seguida, vêm os produtos de farmácia, consumidos por 37% (veja gráfico completo mais abaixo).
“Muitas vezes o cartão é a única forma de aquisição de bens e serviços possível para sobreviver, diz a educadora financeira e diretora da Fharos Contabilidade & Gestão Empresarial, Dora Ramos. Segundo ela, o desemprego e a renda mais baixa incentivam o uso do cartão como salário, ou seja, como fonte de receita, e não de dívida (crédito).
Quando isso acontece, o consumidor gasta o que não tem. Quando a fatura do cartão não é paga durante um ano, uma dívida de R$ 1.000 que entra no rotativo salta para mais de R$ 4.300 com os juros de 330% ao ano desta linha de crédito.
Se esse consumidor estivesse devendo em uma linha mais barata como o crédito consignado, cuja taxa é de 26,58% ao ano, a dívida seria bem menor, de R$ 1.265,80.
É muito fácil perder o controle e não conseguir pagar a fatura “, diz Dora.
A facilidade para obter um número ilimitado de cartões, aliada à falta de informações a respeito das transações, são fatores que contribuem para o endividamento.
Pesquisas mostram, ainda, que o brasileiro tende a parcelar suas compras no cartão de crédito. De acordo com especialistas em finanças pessoais, tais hábitos multiplicam o risco de descontrole.
Cartão até para quem não tem renda
Uma das maiores causas da inadimplência é o uso de cartão de crédito oferecido pelas lojas de varejo, mostra levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) realizado em todas as capitais.
Oito em cada 10 inadimplentes estão nessa situação porque atrasaram as dívidas dos cartões de loja.
Maioria prefere compra parcelada
A pesquisa da Abecs mostra que a maioria dos usuários de cartões de crédito (52%) prefere parcelar as compras, e as classes B e C são as que mais utilizam o parcelamento. O levantamento revela, ainda, que 78% dos usuários dizem que fariam menos compras se não pudessem parcelar os gastos.
É importante lembrar, porém, que não existe compra parcelada sem cobrança de juros, já que os comerciantes costumam conceder descontos para quem consome à vista. É o que diz o planejador financeiro Valter Police Jr., da Fiduc.
Para Police Jr., o parcelamento é a pior forma de comprometimento da renda. “Se o consumidor tem um salário de R$ 2 mil e dividiu uma compra em cinco parcelas de R$ 500, precisa lembrar que 25% de sua renda estará comprometida pelos próximos cinco meses, e também o limite da fatura”, diz.
Há, ainda, o risco de esquecer que prestações antigas foram acumuladas com as novas.
Maior dívida do brasileiro
O cartão de crédito representa mais da metade das dívidas do brasileiro em 2017: 51% do total, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
As taxas de juros do cartão estão entre as mais altas do crédito pessoal – em setembro, foi de 332% ao ano. Assim, se o pagamento atrasar ou o consumidor optar pelo pagamento mínimo, ele terá que arcar com uma bolada de juros e estará acumulando uma dívida cada vez maior.
Os jovens estão ainda mais enrolados. Mais da metade dos inadimplentes no cartão (55%) tem até 30 anos de idade. Quanto mais velho é o consumidor, menor é a incidência das dívidas em atraso, segundo a Boa Vista SCPC.
A localização geográfica dos inadimplentes está alinhada à distribuição de cartões de crédito pelo país. As regiões Sul e Sudeste, que têm o maior volume de cartões emitidos, concentram 84% dos inadimplentes, aponta a pesquisa.
Nova regra do rotativo não reduz calotes
O governo mudou a regra do cartão de crédito em abril para tentar forçar os bancos a reduzirem os juros do cartão. Pela nova regra, o consumidor pode pagar o mínimo de 15% da fatura do cartão apenas uma vez e adiar o pagamento da dívida por até 30 dias. Depois desse prazo, ele precisa escolher entre pagar todo o valor ou parcelar a dívida em outra linha de crédito, mais barata.
Antes, o consumidor podia fazer o pagamento mínimo várias vezes. Como o cartão de crédito tem uma das mais altas taxas de juros do país, a dívida do rotativo crescia exponencialmente.
Fonte: G1