Câncer vai liderar mortes em 2010
Vítor tem apenas sete anos e faz parte de uma estatística assustadora: anualmente, a cada 1 milhão de crianças com até 15 anos, 140 recebem o diagnóstico do câncer. Em dezembro passado, a corretora de seguros paulistana Lidionete Costa de Souza, de 35 anos, descobriu que o filho caçula tem um astrocistoma difuso no bulbo, parte do cérebro que controla a função cardiorrespiratória. Estou na luta, tentando de todas as formas encontrar uma maneira de meu filho se salvar, já que não existem tratamentos para ele, afirmou ao Correio. Os especialistas dizem que o câncer em breve será uma epidemia. Acredito nisso, pois a doença tem muito a ver com a poluição, com o uso indiscriminado de agrotóxicos e com deficiências limitares, acrescentou a mãe, que aposta em um médico nutrólogo para ao menos mantê-lo saudável.
O drama de Vítor se soma ao de 25 milhões de pessoas que vivem com a doença. Sete milhões morrem a cada ano e 12 milhões se tornam portadoras. A incidência global de câncer dobrou nas últimas três décadas e deve triplicar nos próximos 20 anos, em relação aos índices atuais. Em 2010, o câncer será a principal causa de morte no mundo, superando as doenças cardíacas e matando mais que a Aids, a malária e a tuberculose, juntas. Até 2030, o mundo terá 27 milhões de doentes e será obrigado a enterrar outros 17 milhões por ano. As conclusões são do relatório 2008 World Cancer Report (Relatório Mundial sobre Câncer 2008, na tradução livre), divulgado ontem pela Organização Mundial da Saúde.
Em entrevista por telefone, a luso-americana Cristina Parsons Perez, gerente de programas da América Latina da Sociedade Americana de Câncer, confirmou que o mundo já enfrenta uma epidemia de tumores. Estamos vendo um aumento grande de casos e mortes por câncer em países de baixa e renda média, e as razões principais são um maior consumo de tabaco e falta de exercícios físicos, afirmou. Podemos e devemos falar numa epidemia do câncer e, para detê-la, precisamos de políticas públicas. Ela cita a prevenção como a principal arma contra a doença isso incluiria campanhas publicitárias contra o tabagismo e vacinação contra o vírus do papiloma humano.
Brasil
A especialista também prevê um acréscimo na incidência de câncer no Brasil. O Insitituto Nacional de Câncer (Inca) estima 49.530 casos novos de câncer de próstata para 2008 e 17.810 diagnósticos de tumor de pulmão entre os homens. O fantasma do câncer de mama assombra as brasileiras (49.400 casos), seguido pelo câncer do colo de útero (18.680). Também no Brasil, as principais causas de morte são as doenças do aparelho circulatório e neoplasias malignas.
O relatório alerta para a evolução epidêmica do câncer na China, Rússia e Índia, onde a incidência pode crescer 1 ponto percentual por ano a partir de 2010. A estatística se reforça por hábitos tradicionais dos indianos, por exemplo, que costumam mascar tabaco. Em termos globais, o câncer pulmonar tem sido o tipo mais comum diagnosticado nas mulheres, o câncer de mama. De acordo com o estudo, o tumor nos pulmões é o principal responsável pelas mortes entre fumantes, sendo que 40% deles vivem em países asiáticos subdesenvolvidos.
O rápido aumento da carga global de câncer representa um desafio real para os sistemas de saúde em todo o mundo, alertou Peter Boyle, diretor da Agência Iternacional para Pesquisa sobre Câncer, em declaração na introdução do relatório. Os maiores obstáculos para o tratamento da doença, segundo o documento, são o crescimento populacional e o surgimento de novos casos especialmente na África. O câncer é uma das maiores crises de saúde não-reveladas dos países em desenvolvimento, afirmou o oncologista Douglas Blayney, presidente da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
Fonte: Correio Braziliense