Calor intenso tem favorecido aumento dos casos de dengue no Rio
Alba Valéria Mendonça
Do G1, no Rio
As chuvas intensas do começo do ano aliadas ao calor escaldante que se estende há mais de um mês criaram, no Rio de Janeiro, as condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Velho conhecido dos fluminenses, o mosquito está deixando as autoridades da área de saúde apreensivas com a possibilidade de um novo surto da doença, como aconteceu em 1986 _ quando a dengue ressurgiu e em 2002.
De janeiro para cá, a dengue provocou a morte de duas pessoas em bairros da Zona Oeste do Rio: uma em Paciência, em janeiro, e outra na Barra da Tijuca, no último sábado (10). Na cidade, foram registrados até a última segunda-feira (12), 2.433 casos da doença, sendo que 188 só nos primeiros 12 dias de março.
Temendo um surto da doença durante a realização dos Jogos Pan-Americanos, a prefeitura está intensificando as ações para combater o mosquito na cidade. O cronograma de trabalho será anunciado na próxima semana.
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Segundo a superintendente de Vigilância em Saúde, Meri Baran, a cada caso notificado os agentes de saúde promovem uma varredura num raio de 300 metros a partir da residência do infectado, eliminando focos, pulverizando larvicida e educando a população.
A notificação dos casos é muito importante para que os agentes de saúde possam efetuar o bloqueio do mosquito, disse a epidemiologista, informando que é o tipo 3 do vírus que está se propagando.
Em pessoas que já tiveram dengue, é preciso cuidado redobrado, pois a doença se manifesta de forma mais grave, podendo evoluir para o quadro hemorrágico, explicou Meri Baran.
Em 2006, 14.040 pessoas tiveram dengue
Apesar do crescimento dos números _ em janeiro foram registrados 948 casos e em fevereiro, 1.297 a superintendente acha que ainda não há motivos para alarme e que os riscos de um novo surto estão longe. Ela lembra que de janeiro a março de 2006, foram registrados mais de nove mil casos e quatro óbitos. Em todo o ano passado, 14.040 pessoas foram infectadas pelo Aedes aegypti.
No ano passado tivemos um surto localizado na Zona Oeste, nos bairros de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. Mas este ano estamos mais atentos a essas áreas justamente por causa do Pan-Americano. Estamos fazendo um trabalho preventivo, formando uma brigada anti-dengue, com as pessoas que estão trabalhando nas obras, pessoal administrativo, da limpeza, nas obras do Engenhão, no Engenho de Dentro e na Barra. O combate é fácil. Basta não deixar água limpa parada, enfatiza a superintendente.
Meri Baran diz que bairros que concentram muitas casas e condomínios com jardins devem ter atenção especial com vasos de planta. Algumas espécies, como as bromélias, costumam acumular água entre suas folhas, transformando-se em criadouros dos mosquitos. Lajes e canaletas de escoamento de água do telhado ou mesmo da garagem devem ser observadas com freqüência. Para evitar que o Aedes se instale nesses locais, é aconselhável colocar água sanitária, querosene ou creolina. Nos prédios, os poços dos elevadores, que também acumulam água devem ser observados.
O Rio tem três milhões de imóveis e não há condições de vistoriar todos eles. Muitos estão fechados ou os proprietários impedem a entrada dos agentes sanitários. Por isso, precisamos contar com a consciência de cada um. Se cada um verificar os possíveis criadouros em suas próprias casas já estará ajudando a combater a dengue, diz Meri.
A superintendente lembra ainda que por andar com o corpo mais exposto _ saias, shorts, bermudas e blusas mais arejadas _ as mulheres costumam ser mais atacadas pelos mosquitos. Por isso, a proteção individual, ou seja, o repelente, também se faz necessária.
Atualmente a Secretaria municipal de Saúde conta com 1.900 agentes que trabalham nas ações de bloqueio do mosquito em 33 Kombis, além de outros cem veículos que transportam os equipamentos de pulverização do larvicida. Segundo a superintendente, o carro fumacê só é recomendado em caso de epidemia.
A pulverização só mata o mosquito adulto, quando consegue atingi-lo já que ele costuma ficar escondido a maior parte do tempo. Também não adianta jogar inseticida no ar se as pessoas estão com as janelas fechadas e o ar-condicionado ligado. O mosquito costuma atacar durante o dia e gosta de água limpa e parada para depositar seus ovos. A larva é identificada a olho nu. Ou seja, é fácil evitar a proliferação. Basta que todo mundo coopere e não pense que dengue só pega no vizinho, disse Meri Baran.
Números de casos da dengue na cidade e no estado até 12 de março
De acordo com dados da Secretaria municipal de Saúde, de 1º. de janeiro a 12 de março deste ano, foram registrados 2.433 casos na cidade. Os locais com maior número de casos notificados são: Paciência (479), Campo Grande (206), Santa Cruz (187), na Zona Oeste do Rio. Nos bairros onde estão sendo construídos equipamentos para o Pan, o número de casos é mais baixo, mas mesmo assim preocupante. Foram infectados 51 no Engenho de Dentro, 31 no Recreio e 29 na Barra.
A Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil informou que do dia 1º. de janeiro a 1º. de março deste ano foram registrados 4.196 casos em todo o estado. O Rio desponta com 1.381 casos de dengue, seguido pelos municípios de Itaperuna, com 882 casos. Em 2006, o estado registrou no mesmo período 6.437 casos. Ou seja, há uma queda no número de casos da doença.
A Secretaria estadual de Saúde convocou 400 agentes sanitários cedidos pelas secretarias municipais, no início de janeiro, para ajudar no trabalho de erradicação da dengue no município do Rio. Segundo o superintendente de Vigilância em Saúde, Victor Berbara, a meta é trabalhar em parceria com os municípios da Baixada Fluminense para controlar o mosquito da dengue, visando contribuir para o sucesso do Pan, no Rio.
Fonte: G1