Brasil promovido a um destino privilegiado de recursos globais
A elevação do Brasil ao grau de investimento (investment grade) é a mais relevante – e bem-vinda – notícia econômica que o País poderia receber desde a estabilização da moeda e o advento do Real em meados da década de 90. Tanto mais por dar-se em meio à preocupante turbulência que há meses sacode mercados ao redor do mundo.
Com a promoção, o Brasil passa a destino privilegiado de novas e pujantes fontes de liquidez da economia global – fundos de pensão, seguradoras, etc. Reforçada com a boa nova, a economia brasileira deverá receber em 2008 o maior fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) de sua história.
Mais do que motivo de celebração, o grau de investimento é, a um tempo, um rito de passagem e uma janela de oportunidade. Nenhuma economia vertebrada à globalização pode dar-se ao luxo de não gozar de bom conceito junto a classificadores de risco. Ainda que a credibilidade de agências, como a Standard & Poor´s, tenha se abalado ante a recente crise da economia norte-americana, os efeitos da promoção – mesmo os de natureza psicológica – sobre investidores e outros tomadores de decisão serão dos mais benéficos para o País.
Muitas razões alicerçaram o investment grade. A vitalidade das exportações nos últimos cinco anos, o encolhimento da dívida soberana, o profissionalismo na condução do Banco Central. A modernização, enfim, por mais tardia e incompleta, das relações capitalistas no País.
O cenário externo favorável, contemporâneo a grande parte da presidência Lula, aguçou um voraz apetite mundial por commodities. Animaram-se as perspectivas para o Brasil como potência energética. Convergem, assim, forças que deslocam o Brasil ao centro do interesse econômico mundial.
Há seis anos, muitos acreditavam no derretimento da base monetária – à semelhança do que ocorrera na Argentina um ano antes. O economista-chefe do banco Bear Stearns augurava, em 2002, que o Brasil declararia moratória antes mesmo do pleito que levou Lula à Presidência da República. Na última quarta-feira, o Brasil recebeu o grau de investimento. O Bear Stearns encontra-se varrido do mapa pela crise dos subprimes.
Ao lado da diminuição dos juros internos e da grande chance para as tão necessárias reformas fiscal e trabalhista, o momento é de novo desafio. Romper práticas e legislações que ainda fazem do País um dos mais difíceis lugares do mundo para a realização de negócios.
Se o governo não calçar o “salto alto” do grau de investimento e juntar-se à sociedade na simplificação da vida empresarial, o Brasil pode rumar firme para a obtenção do “business grade”. E consolidar-se, ao lado de China, Índia e Rússia, no quadro dos novos protagonistas econômicos do século XXI.
Fonte: Gazeta Mercantil