Brasil é vitrine, mesmo com projeção de venda 3,9% menor
Na primeira projeção que a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou para este ano, o mercado brasileiro cairá 3,9% – 2,820 milhões unidades, em 2008, para 2,720 milhões. Mesmo assim, a Anfavea afirma que o resultado tem de ser comemorado diante de uma crise que derruba vendas acima de 50% em vários países.
“Os diretores e dirigentes da indústria automobilística nacional nunca fizeram tantos relatórios para suas matrizes para explicar como o Brasil reagiu tão bem a uma crise desta magnitude”, afirmou ontem Jackson Schneider, presidente da Anfavea. “Além do Brasil e da China, que deve ter um pequeno crescimento neste ano, nenhum outro País apresenta resultados tão bons.”
Redução do IPI, restabelecimento rápido do crédito e maior confiança do consumidor são alguns dos fatores que explicam a melhor posição do Brasil, acredita a Anfavea. Mas, para Schneider, a redução do IPI dura só até junho. “É por isso que o mercado cairá este ano”, diz. “No primeiro semestre, vamos ter um crescimento de 3% em relação ao mesmo período do ano passado, como ocorreu no primeiro trimestre.”
Trimestre animador
Números já conhecidos no mercado, as vendas cresceram 3,1% nos primeiros três meses do ano com 668,3 mil unidades comercializadas – no mesmo período de 2008 foram 648 mil veículos. No período, a produção caiu 16,8% – foram 660 mil unidades contra 792,9 mil de 2008.
Daqui para frente, Schneider afirmou que a indústria nacional vai se concentrar no mercado doméstico, que passará a ser muito assediado com o excesso de oferta de veículos em todo o mundo. “Vamos ter que focar o mercado brasileiro e na América Latina”, afirmou. “Daqui para frente, a disputa vai ficar muito mais difícil, sem contar com os novos competidores, os chineses e os indianos, que vão querer uma parte deste bolo.”
Em 2009, a produção terá um declínio maior que as vendas internas. Devido ao desabamento nas exportações, a estimativa é que o Brasil fabrique este ano 2,86 milhões de veículos – incluídos ônibus e caminhões. No ano passado, o Brasil produziu 3,22 milhões de unidades, o que representará uma queda de 11,2%, caso a projeção da Anfavea para este ano se confirme.
Com os maiores parceiros do Brasil enfrentando uma queda brutal – Argentina retraiu 52% -, as exportações brasileiras terão perdas consideráveis. A previsão é que o Brasil exporte 500 mil unidades este ano contra as 735 mil em 2008.
O País, que nos últimos anos já vinha perdendo mercado em razão da valorização do real, deverá somar em 2009 divisas de US$ 8,5 bilhões contra os US$ 13,9 bilhões de 2008 – o que representa uma queda de 39%.
Em razão do excesso da oferta de veículos em vários cantos do mundo, a Anfavea acredita que também as exportações ficarão muito mais complexas daqui para frente, inclusive pela dinâmica das vendas externas.
“Uma vez perdido um cliente no mercado externo, é difícil reconquistá-lo”, diz Schneider. “Vender lá fora não é simplesmente pôr um carro na prateleira. É preciso ter toda uma preparação, desde o concessionário até a assistência técnica.”
Maior ociosidade
A queda na produção deixa atualmente a indústria brasileira com uma ociosidade que chega a 25% em algumas fábricas. No ano passado, montadoras trabalhavam perto do limite, tendo até dificuldades para a manutenção das máquinas.
De acordo com a Anfavea, a indústria dispensou 2,2 mil funcionários no primeiro trimestre em razão da extinção do terceiro turno em algumas fábricas. Mas, para Schneider, a maioria das demissões ocorreu por programas de demissão voluntária ou contratos temporários de trabalho.
Para a Anfavea, o contrato temporário de trabalho é uma opção que continuará a ser usada, apesar de sindicalistas criticarem a não renovação em razão da crise mundial. “É uma ferramenta utilizada em vários países e que também está prevista na legislação brasileira”, disse.
Queda em duas rodas
Antes da crise financeira mundial, a Associação Brasileira dos fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) estimava para 2009 vendas de 3,12 milhões de unidades. No entanto, com as dificuldades que surgiram, a entidade revisou os dados para baixo. A estimativa de vender 3 milhões de unidades passou de 2009 para 2013. “O que prevíamos para este ano, agora estamos esperando para daqui a 4 anos, em função do cenário”, afirma Moacyr Alberto Paes, diretor executivo da Abraciclo.
Fonte: Gazeta Mercantil