Bovespa dispara e dólar cai 1% com pesquisa Datafolha
O resultado da pesquisa Datafolha para a disputa à Presidência da República dita o rumo dos ativos domésticos brasileiros nesta sexta-feira. O levantamento mostra um empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves em um eventual segundo turno. A possibilidade de uma vitória da oposição no pleito de outubro provoca alta da bolsa, queda do dólar e redução dos prêmios de risco embutidos nos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) na BM&F.
Contribui para esse movimento o clima mais calmo no exterior, após o agravamento das tensões geopolíticas ontem, quando a queda de um avião com quase 300 pessoas a bordo no leste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia. As bolsas americanas se recuperam.
Bolsa
A divulgação da pesquisa Datafolha sobre a disputa à Presidência da República leva o Ibovespa a um nível só atingido em maio do ano passado. A última vez em que o índice registrou máxima superior à marca de 57 mil pontos foi em 22 de maio de 2013, em 57.098 pontos. A máxima de hoje é, por enquanto, de 57.327 pontos.
Às 13h43, o Ibovespa subia 3%, para 57.306 pontos. O levantamento indicou um empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff e Aécio Neves no segundo turno. No primeiro turno, a intenção de voto caiu de 38% para 36% para a atual presidente, ficou estável em 20% para Aécio Neves e recuou de 9% para 8% para Eduardo Campos.
Em um eventual segundo turno, Dilma tem 44% contra 40% de Aécio Neves. Como a margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo, o quadro é de empate técnico. Caso a disputa seja contra Eduardo Campos, Dilma ganha com 45% contra 38% do candidato. Os eleitores que avaliam o governo como ruim ou péssimo passaram para 29% e a rejeição da presidente passou de 32% para 35%. A rejeição de Aécio e Eduardo Campos não se alterou.
A divulgação não apenas puxa o Ibovespa para cima como também o volume financeiro do mercado. O giro financeiro às 13 horas era de R$ 5,2 bilhões, superior a vários pregões inteiros de julho. Petrobras é destaque de altas e de volume. A ação PN subia 4,81%.
CSN liderava os ganhos do índice e subia 9,74%. O conselho da empresa aprovou hoje um novo programa de recompra de ações. Serão até 64,2 milhões de papéis, a serem adquiridos entre os dias 18 de julho e 18 de agosto. O último programa foi encerrado porque a companhia já possui 70,2 milhões de ativos em tesouraria. 60 milhões de papéis serão cancelados. Ontem a ações fecharam com queda de 6,64%.
O índice ADR Brazil Titans, que reúne os 20 recibos de ações brasileiras mais negociados na bolsa a mericana, chegou a marcar pela manhã 27.216 pontos a maior marca desde novembro de 2013. Entre os papéis cotados na bolsa de Nova York, os da Petrobras se destacavam, com avanço de 5,12%.
Câmbio
As fortes variações do dólar no Brasil ontem e hoje deixam claro que o mercado cambial está bastante sensível aos desdobramentos externos e, cada vez mais, ao noticiário eleitoral doméstico. Um dia após saltar 1,67% e registrar a maior alta percentual diária em mais de oito meses, a moeda americana devolve parte dessa valorização, chegando a registrar a maior baixa desde abril.
Às 13h44, o dólar comercial recuava 1,08%, a R$ 2,2339. Na mínima, a moeda chegou a cair 1,20%, maior desvalorização durante os negócios desde o último dia 7 de abril, quando chegou a perder 1,38%. No mercado futuro, o dólar para agosto cedia 1,10%, a R$ 2,2420.
A acomodação de ativos de risco no exterior, após o tombo da véspera, colabora com esse movimento. Mas o dólar sofre mais influência do resultado da pesquisa do Datafolha divulgada ontem sobre intenções de voto à Presidência da República.
Pela primeira vez, a sondagem do Datafolha mostrou um empate técnico num eventual segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o candidato Aécio Neves (PSDB). Dilma, no entanto, ainda se mantém na liderança isolada das intenções de voto para o primeiro turno.
A queda do dólar nos últimos meses em parte deriva do aumento das apostas de que o atual governo, considerado por agentes de mercado como excessivamente intervencionista, possa ser descontinuado.
A pesquisa eleitoral hoje é o motor não só para o dólar, como para todos os mercados, afirma o profissional da área de câmbio de uma gestora.
Segundo outro profissional, a perspectiva de que o fluxo cambial não mostre resultados tão negativos como o da semana passada também influencia o apetite mais vendedor de dólar.
Outro componente que ajuda a pressionar o dólar para baixo são as contínuas intervenções do Banco Central (BC). A autoridade monetária fez a rolagem de todos os 7 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão nesta sexta-feira, adiando os vencimentos do equivalente a US$ 346,1 milhões em papéis que, inicialmente, expirariam no próximo dia 1º.
Dos 189.130 contratos de swap com vencimento em 1º de agosto (US$ 9,457 bilhões), ainda restam 112.130 (US$ 5,607 bilhões) passíveis de rolagem.
Mais cedo, o BC vendeu todos os 4 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão ne sta sexta-feira, em operação que movimentou o equivalente a US$ 198,9 milhões.
Juros
Depois da forte especulação ontem em torno da possibilidade de corte da Selic ainda neste ano, com forte queda os DIs ligados diretamente ao rumo da política monetária desabaram, as atenções se voltam aos juros futuros mais longos.
O mercado fia-se na expectativa de quem em um governo de Aécio Neves haverá um fortalecimento do chamado tripé macroeconômico, formado por metas de inflação, câmbio flutuante e geração de superávits primários capazes de reduzir a relação dívida líquida/PIB.
Também corre solta a tese de que, por ter como conselheiro econômico o ex-presidente do BC Armínio Fraga, um queridinho do mercado, Aécio se beneficiaria de um choque de expectativa s, tornando menos doloroso o ajuste da política econômica. Realinhar os preços administrados, dar cabo da contabilidad e criativa e conter a expansão do crédito por bancos públicos e BNDES estão na pauta.
O resultado da pesquisa está levando a um corte dos prêmios entre os juros longos. E se essa perspectiva de que a oposição ganhar aumente, pode haver uma queda ainda maior, afirma Marcelo Brenha, diretor da Concórdia Gestão de Recursos.
Por volta das 13h50, o DI janeiro/2016 estava a 10,97% e o DI janeiro/2017 marcava 11,24%.
Apesar de toda a especulação em torno da possibilidade de corte da Selic neste ano, após o Copom ter mantido em seu comunicado a expressão neste momento, matéria do Valor trouxe que o Copom não mudou a sua mensagem de política monetária e que entende ser necessário seguir vigilante para minimizar riscos de que os níveis elevados de inflação persistam no horizonte relevante de sua política de juros.
A tese de que a fraqueza da atividade levará a um afrouxamento monetário ganhou mais um aliado hoje. Puxada pelo setor de transformação, a confiança da indústria caiu ainda mais em junho e registrou o menor nível desde janeiro de 1999, segundo pesquisa mensal da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu 1,1 ponto, de 47,5 pontos em junho 46,4 pontos em julho. Foi a quarta queda consecutiva do índice.
O economista-chefe da Tullett Prebon Brasil, Fernando Montero, lembra que a confiança da indústria encontra-se abaixo dos níveis vistos na crise global, em 2009, e no racionamento de energia, em 2001. A presidente Dilma c ulpa o pessimismo pelo desempenho da economia, o que equivale a culpar a torcida pelo desempenho da seleção [brasileira], afirma.
Para Montero, ao preservar a expressão neste momento em seu comunicado, o Copom optou por uma não sinalização. Se o BC não quis se comprometer com estabilidade prolongada da Selic, tampouco não deixou claro que se inclina para uma mudança no rumo dos juros, avalia o economista. A ata [do Copom] da semana que vem não deve alterar essa impressão, equilibrando pessimismo na atividade com projeções de inflação acima das metas.
Do lado da inflação, FGV divulgou que o IGP-M registrou queda de 0,51% na segunda prévia de julho, deflação menor que a verificada em igual período do mês passado (0,64%).
Mercados internacionais
Os mercados internacionais têm um dia mais calmo nesta sexta-feira, após a tensão de ontem, quando a queda de um avião com quase 300 pessoas a bordo no leste da Ucrânia pressionou o cenário. Apesar da maior estabilidade, continuam a repercutir as notícias envolvendo o caso, assim como a invasão por terra de Israel na Faixa de Gaza, após vários dias de bombardeios que têm como alvos militantes palestinos.
A queda do avião da Malaysia Airlines ocorreu na região na qual separatistas pró-Rússia enfrentam as forças de Kiev. As investigações do caso estão em andamento, mas funcionários da Defesa dos Estados Unidos acreditam que os separatistas pró-Moscou são os responsáveis e que deve ter sido usado armamento fabricado na Rússia nessa ação.
O governo russo emitiu hoje declarações pedindo um cessar-fogo imediato na Ucrânia. Ontem, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que o governo ucraniano deveria ser responsabilizado por ter retomado sua ofensiva contra os rebeldes pró-Moscou na região. O presidente dos EUA, Barack Obama, disse hoje que havia um cidadão americano entre as vítimas e que as evidências apontam que o avião foi derrubado pelos rebeldes pró-Rússia. Obama também pediu uma trégua imediata na região.
A premiê da Alemanha, Angela Merkel, avalia que não está claro quem era responsável pela queda da aeronave. Já a Ucrânia fechou seu espaço aéreo no leste do país, enquanto companhias refaziam suas rotas para evitar a área. Os rebeldes permitiram que investigadores fossem até o local da queda do avião.
O estrategista de crédito Alberto Gallo, do Royal Bank of Scotland (RBS), advertiu que a queda do avião pode isolar ainda mais a Rússia, em um momento já delicado para a economia do país. Nesta semana, os EUA e a União Europeia já haviam anunciado antes da queda do avião novas sanções contra Moscou, argumentando que o governo russo não age para controlar a crise no vizinho.
Na agenda de indicadores dos EUA, a confiança do consumidor americano caiu de 82,5 em junho para 81,3 em julho, segundo pesquisa da Universidade de Michigan/Thomson Reuters. O índice de indicadores antecedentes do país avançou 0,3% em junho, segundo o Conference Board, em mais um sinal de expansão na economia americana.
Em Nova York, o Dow Jones avançava 0,58%, o Nasdaq subia 1,27% e S&P 500 tinha valorização de 0,81%. Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em alta de 0,18%, Frankfurt recuou 0,41% e Paris avançou 0,46%.
Fonte: Valor