Bolsa cai 5% com temor de recessão global; dólar volta a subir
A Bolsa de Valores de São Paulo opera em queda nesta quinta-feira, em que o temor de uma recessão global provoca perdas em mercados de ações em todo o mundo. O clima negativo é sustentado pelo pacote de estímulo à economia norte-americana anunciado ontem pelo banco central dos EUA, que não trouxe nenhuma novidade além do que já era esperado.
Às 14h56, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, operava em baixa de 5,11%, cotado em 53.120 pontos. Nenhuma ação do índice apresenta ganhos. Entre as maiores quedas, Tam perdia 9,02% e Gafisa caía 8,95%. Ontem, o índice perdeu 0,7% e fechou o dia em 53.141 pontos.
As preocupações com as economias europeias – sobretudo com a Grécia – e o enfraquecimento da recuperação norte-americana estão deixando os investidores mais cautelosos.
“Há um movimento muito arredio no mercado de ações. Os investidores ainda lembram a crise de 2008, e em um momento de tensão como o atual, preferem ser mais técnicos e evitar arriscar a sorte. Assim, assumem um comportamento mais assustado e tendem a adotar mais cautela no mercado,” avalia Marcos Heringer, professor de finanças do Ibmec.
Nos Estados Unidos, o Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed) afirmou ontem que planeja comprar até o fim de 2012 cerca de US$ 400 bilhões em títulos da dívida do Tesouro de longo prazo, com vencimento entre seis e 30 anos. Ao mesmo tempo, a autoridade monetária pretende vender o mesmo valor em títulos de curto prazo, com vencimento em até três anos.
Mas os mercados deram pouca atenção ao pacote e ficaram mais atentos à afirmação do Fed de que que existem riscos “significativos de baixa” para a economia norte-americana.
Para David Darst, chefe de investimento estratégico do Morgan Stanley, a reação do mercado ao Fed foi muito ruim e revela que, na verdade, os agentes querem uma reforma estrutural no país. “As pessoas resolveram ignorar o pacote de estímulo e focar as atenções na mensagem de que os riscos de piora da economia são significativos. A volatilidade subiu muito, e apenas cinco ações do S&P 500 subiam nesta manhã,” afirma.
Nos EUA, além do S&P, os índices Nasdaq e Dow Jones operam em forte queda, também reagindo à avaliação “sombria” feita ontem pelo Fed sobre a economia do país. Às 15h (horário de Brasília), o índice Dow Jones caía 3,89%, o Nasdaq recuava 3,70% e o S&P 500 tinha queda de 3,66%.
Nesta quinta, o setor financeiro volta ao foco. Ontem, a Moodys cortou a nota de três dos principais bancos americanos – Bank of America (BofA), Wells Fargo e Citigroup – e Standard & Poors rebaixou as notas de instituições financeiras italianas como Intesa Sanpaolo e Mediobanca.
Para agravar este quadro, o dado preliminar sobre a atividade manufatureira na China (o PMI, na sigla em inglês) mostrou recuo em setembro, indicando que o crescimento na segunda maior economia do mundo continua a desacelerar.
Na zona do euro, as encomendas à indústria ainda caíram 2,1% em julho na comparação com junho, a maior queda nessa base de comparação desde a retração de 4% registrada em setembro de 2010. O dado de encomendas, divulgado pela Eurostat, é uma espécie de indicador antecedente da atividade industrial, já que dá uma ideia do nível dos negócios que virão.
Na Europa, as principais bolsas de valores tiveram com fortes quedas, mesmo comportamento das bolsas da Ásia. O índice europeu de ações Euro Stoxx 50 perdeu 4,90% nesta quinta-feira, enquanto o FTSE de Londres caiu 4,67%, o CAC de Paris perdeu 5,25%, o DAX de Frankfurt teve desvalorização de 4,96%. Em Madri, o Ibex 35 teve queda de 4,62% e, em Milão, o FTSE MIB caiu 4,52%.
Dólar e ação do BC
O clima de aversão pelo risco continua provocando fortes oscilações também no mercado cambial em todo o mundo. O dólar abriu em disparada contra o real nesta quinta-feira, ampliando a já acentuada valorização da véspera.
No entanto, depois de chegar a bater R$ 1,95, a moeda passou a cair no início desta tarde. Às 13h59, perdia 0,64%, cotado em R$ 1,846. A virada aconteceu horas após o Banco Central ter anunciado uma intervenção por meio de uma operação chamada “swap cambial reverso”, em que vende dólares ao mercado, pressionando a moeda para baixo. A operação – que não acontecia desde junho de 2009 – foi equivalente a US$ 2,716 bilhões.
“O BC avisou o mercado que está atento a essa alta do dólar e sinalizou que acredita ser um movimento de curto prazo,” comenta Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora.
Horas depois, entretanto, o dólar voltou a subir. Perto de 15h, a moeda avançava 0,61%, cotada em R$ 1,86.
Para Heringer, do Ibmec, o recuo do dólar nesta tarde não se sustenta porque as forças que contribuem para a valorização da moeda norte-americana continuam. “A operação do Banco Central foi um fato isolado e não muda o cenário global de crise europeia.” Ele acrescenta que o dólar dificilmente deixará de ser uam referência e que, por isso, deverá continuar a ser procurado pelo mercado em momentos de tensão e incertezas.
Cardoso acrescenta que a alta do dólar nos útlimos dias e no mercado internacional mostra um estresse no mercado, reflexo de um cenário conturbado. “Investidores estrangeiros estão zerando posições em reais. Depois de investirem aqui e ganharem tanto com os juros brasileiros, como com a valorização do real nos últimos meses, agora estão perdendo a vantagem cambial,” afirma.
Fonte: MIDIA NEWS