BNDES: empréstimos precisam ter impacto na economia
As mudanças nas políticas operacionais do BNDES atendem à necessidade de se adaptar as condições de financiamento do banco a uma nova realidade, segundo Maria Silvia Bastos Marques, presidente do banco. Este ano, oº BNDES fará um planejamento estratégico a partir do qual pretende vislumbrar os caminhos de médio e longo prazos. A curto prazo, em meio à crise na qual o país se encontra, a prioridade foi atacar a falta de acesso a crédito, sobretudo das micro, pequenas e médias empresas, muito alavancadas.
Maria Silvia gostaria que o BNDES se transformasse no banco do desenvolvimento sustentável. Essa visão se relaciona com a prioridade dada pelo banco a projetos que tenham retornos sociais maiores do que os privados, como o saneamento e a área ambiental. Mas também guarda relação com a maior ênfase do BNDES, na atual administração, aos atributos dos projetos, como inovação, impacto ambiental, geração de empregos e exportações, para definir o percentual de apoio atrelado à TJLP, taxa subsidiada hoje em 7,5%. É uma diferença enorme quando comparada à Selic, a taxa básica da economia, que se situa em 13,75%.
Maria Silva diz que o BNDES quer emprestar muito, mas desde que esses financiamentos tenham impacto na economia. Não se trata apenas de garantir um grande volume de desembolsos, o que, como ela mesma diz, depende da demanda. De janeiro a novembro de 2016, o BNDES desembolsou R$ 76,47 bilhões, queda de 35% sobre igual período de 2015. E a tendência, a manter-se esse ritmo, é que o banco tenha encerrado o ano voltando aos patamares de 2003.
Dinheiro não falta pois, mesmo depois de ter concluído a devolução antecipada de R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional, o BNDES tem muito dinheiro em caixa para emprestar. O banco fechou o ano com cerca de R$ 130 bilhões, mesmo depois de ter feito a devolução ao Tesouro. O que parte do mercado espera é que, a partir desse caixa robusto, o BNDES consiga acelerar os empréstimos para investimento pelas empresas e contribua efetivamente para elevar a taxa de investimento da economia.
O esforço do BNDES, de acordo com as diretrizes da nova direção, é ser também mais ativo no fomento a projetos. O BNDES quer capturar bons projetos que não chegam porque o banco continua a ser visto como uma instituição das grandes empresas. “E o banco tem que ser visto como um banco que quer e precisa causar impacto na sociedade por dispor da TJLP [como instrumento de financiamento]”, disse ontem Maria Silvia ao comentar as novas políticas operacionais.
A transição do BNDES para ter mais foco em projeto do que em setores levou em consideração que os diferentes segmentos da economia estão se fundindo, disse ela. “Assim como houve a convergência das mídias, houve também a convergência dos setores, a indústria se fundindo com os serviços. O comércio é em boa parte feito de forma eletrônica, o mundo é convergente.” Foi olhando essa realidade que o banco buscou se adequar. O BNDES já cumpriu vários papéis e agora procura novo rumo.
Fonte: Valor