Black Friday 2018: otimismo nas vendas persiste
A Black Friday, que começou oficialmente à 0h desta sexta-feira (23), vem com previsão de aumento de vendas apoiado na retomada da economia e no esforço do varejo em dar credibilidade à data de promoções, que entra em sua 9ª edição.
Projeções da Ebit|Nielsen, empresa global de mensuração e análise de dados, trazem alta de 15% no faturamento do comércio eletrônico em relação à edição do ano passado, chegando a R$ 2,43 bilhões.
Já para Ricardo Bove, idealizador do evento no Brasil e diretor do www.blackfriday.com.br, o crescimento deverá ser de 19%, devendo ultrapassar os R$ 2,5 bilhões.
A gente vem de uma recessão histórica de dois anos e houve a finalização do processo eleitoral. Essa projeção de aumento nas vendas poderia ser até maior se a conjuntura econômica e política estivesse melhor, diz Bove.
Para o fundador do evento, a Black Friday ainda está muito atrelada ao comércio eletrônico, com 80% das vendas sendo feitas no ambiente online, mas o crescimento do e-commerce ainda está amadurecendo no Brasil. O crescimento das vendas continua acontecendo, até 2015 ele praticamente dobrou em termos de valores absolutos, diz.
Para Bove, os consumidores estavam represando compras porque não sabiam o que ia acontecer na eleição, “mas com a definição saiu o medo e veio a vontade de consumir”.
De acordo com Pedro Guiasti, CEO da Ebit|Nielsen, pesquisa feita entre agosto e setembro mostrou aumento de 8 pontos percentuais superior a 2017 na intenção de compra via web para a Black Friday.
O que deixa mais confiante é que neste ano devemos ter algo como 5 milhões de novos consumidores virtuais, para chegar em 2018 a 60 milhões de e-consumidores, e assim são mais pessoas comprando na Black Friday, afirma.
Segundo Guasti, 88% dos consumidores virtuais têm a intenção de comprar na Black Friday deste ano, o que para ele é muito positivo.
A expectativa de compra de smartphone é maior que no ano passado tanto como intenção de compra como de gasto, isso faz com que nossa estimativa de aumento de compras e faturamento seja 15% maior, explica o CEO da Ebit|Nielsen.
Desconfiança ainda persiste
Apesar do otimismo dos organizadores, pesquisas feitas ao longo deste ano apontam que parte dos consumidores reluta em comprar na Black Friday porque desconfia da veracidade dos descontos oferecidos pelo varejo.
Um levantamento do site Reclame Aqui feito na segunda quinzena de outubro mostrou que, para 51% dos entrevistados, a data de descontos é pouco ou nada confiável. Apenas 2,8% acham muito confiável. Outra pesquisa do Google de julho revela que, para 37% dos participantes, a confiança nas promoções ainda é o principal motivo para não participar da Black Friday.
Guasti assegura que essa desconfiança vem diminuindo. Segundo ele, entre os 12% que não pretendem comprar, de acordo com a pesquisa do Ebit-Nielsen, 35% responderam que não acreditam nos descontos. Em 2017 esse número era de 38%, e em 2016 chegou a 41%. Mas 88% ainda pretendem comprar porque acreditam nos descontos, diz.
Segundo sites que recebem reclamações de consumidores, como o Reclame Aqui e o Procon, a propaganda enganosa tem sido a principal queixa nos últimos anos.
Esse problema recorrente inclui a maquiagem de preços, que levou os consumidores a apelidarem o evento de Black Fraude nas edições anteriores. A prática da maquiagem, também conhecida como “metade do dobro”, consiste em aumentar os preços antes da data do evento para depois baixá-los e nomeá-los como superdescontos. A propaganda enganosa também inclui a diferença dos preços anunciados no momento da compra e na hora do pagamento do pedido.
O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, está investigando possível aumento de preços no período que antecedia a Black Friday do ano passado. Essa alta pode indicar que boa parte dos descontos anunciados nos sites dessas lojas não representa, de fato, redução.
Bove afirma que os produtos com preços maquiados foram muito citados nas edições de 2012 e 2013. Isso aconteceu quando o varejo não estava preparado para lidar com aquela demanda toda. Agora eles se preparam com antecedência, diz.
De acordo com Guasti, o planejamento para a data começa já em março e inclui a negociação com os fornecedores para conseguir melhores preços, investimento em tecnologia e reforço de equipe para trabalhar no processo operacional desde o atendimento até o empacotamento do produto.
O fundador da Black Friday diz que algumas redes varejistas chegam a negociar 6 meses antes com os fornecedores. A gente vê que quase 90% das pessoas que compraram na Black Friday do ano passado ficaram satisfeitas, e 94% delas pesquisaram antes, defende Bove.
De acordo com Guasti, as lojas e as associações de e-commerce vêm trabalhando para aumentar a credibilidade da data. Uma das iniciativas foi o lançamento de uma cartilha trazendo as boas práticas que o varejo deve ter durante as promoções. Uma das práticas é colocar em destaque os produtos em oferta e incentivar os consumidores a utilizar ferramentas para acompanhar a evolução dos preços.
Bove afirma que os varejistas online divulgam as promoções de duas formas ou colocam no ar um site só com ofertas da Black Friday ou as promoções vêm com um selo Black Friday. A maioria traz as duas opções. A marcação de ofertas tem sido muito melhor de dois anos para cá, afirma.
Descontos e ticket médio
Os descontos dados na Black Friday dependem do valor do produto. Como os mais buscados são os smartphones e os eletroeletrônicos, que representam 60% das vendas, o desconto costuma ser de até 20%. Os produtos mais buscados são mais caros, então atingir percentual de 20% de desconto numa geladeira é mais relevante do que numa camiseta, por exemplo”, diz Bove.
Segundo ele, o percentual de desconto não é o mais importante, e sim o valor que será pago no final. Bove informa que o ticket médio na Black Friday costuma ser em média 30% acima de um dia normal de vendas devido à compra de produtos mais caros, como smartphones, smart TVs e eletrodomésticos, os campeões de vendas.
O consumidor precisa entender que nos EUA a data de promoções se trata de queima de estoque para poder comprar novos estoques para o Natal. No Brasil não é só isso, os varejistas decidem com os fabricantes o que vai ter desconto e, no caso dos eletrônicos, dificilmente você vai conseguir grandes descontos em lançamentos, mas sim no que já está há mais tempo no mercado, diz.
Guasti explica que o ticket médio cresce na Black Friday por esse maior valor agregado dos produtos. Ele foi de R$ 562 na Black Friday em 2017 e agora é de R$ 420 em dias normais de consumo.
É claro que para conseguir descontos precisa da ajuda da indústria. Somente o varejista queimando margem pode comprometer dar prejuízo para a loja, diz. Por isso, o executivo defende a importância de os varejistas conseguirem boas negociações com fornecedores e fabricantes. Mas é claro que não serão todos os produtos estão disponíveis para desconto, afirma.
Segundo ele, geralmente os grandes descontos são para produtos que estão no mercado há um certo tempo, principalmente no caso dos eletroeletrônicos, para os que tiveram lançamento há um ou dois anos. Um desconto de 20% a 30% para uma TV de R$ 1,5 mil é muito bom, diz.
Segundo o Reclame Aqui, ao longo das 24 horas das promoções do ano passado, os consumidores relataram “ofertas com descontos de saldão de fim de ano”, sem os descontos esperados de mais de 50%. Houve aumento no número de reclamações após quedas nas edições de 2015 e 2016, puxado justamente pelas queixas relacionadas aos descontos.
Frete
De acordo com Bove, o frete ainda tem grande peso no custo da compra pela internet. Mas é uma questão natural, é assim que funciona, o consumidor deve pesquisar para ver qual é o melhor custo-benefício, diz.
Pesquisas mostram que o valor do frete pode representar até 40% do valor da compra e variar até 400% de uma loja para outra. Por isso, na última edição da Black Friday, consumidores denunciaram fretes abusivos ou mais caros que os próprios produtos, segundo o site Reclame Aqui. Além disso, o frete continua sendo um dos grandes vilões do e-commerce, responsável por 70% do abandono de carrinho.
Bove prevê que o preço do frete deve se manter no mesmo patamar que vem sendo praticado ao longo do ano. Isso só pode mudar com a entrada de novas empresas de entrega no mercado, afirma.
Segundo ele, os grandes lojistas conseguem preços de frete melhores, com prazo melhor e custo menor porque negociam com as empresas de transporte.
Para Guasti, o custo de logística é muito alto no Brasil. Por outro lado, segundo ele, está crescendo entre as empresas a prática do varejo integrado, chamado de omnichannel, em que a compra é online e a retirada é feita na loja. Elas se esforçam para o consumidor retirar na loja. Isso diminuiu bastante o custo da compra, e o percentual de consumidores que retiram nas lojas só cresce. Atualmente um terço das vendas está sendo feito nessa modalidade, diz.
Entrega
O prazo de entrega ainda é um dos pontos sensíveis da Black Friday e tem a ver com o estoque das lojas. Para Pedro Guiasti, o marketplance, plataforma mediada por empresas que vendem produtos de terceiros, é a modalidade que mais precisa fazer ajustes no serviço.
Tem que melhorar a velocidade na entrega. O prazo médio de 10 dias úteis é muito longo. Precisamos desenvolver processos automatizados de distribuição, novos players de logística para diminuir o prazo de entrega e também a qualidade do serviço oferecido pelo vendedor, diz.
Segundo ele, as redes varejistas têm investido em grandes áreas para armazenamento e distribuição para os terceiros. Assim, os lojistas conseguem armazenar o produto no espaço da empresa que é a dona da plataforma de vendas. O produto é levado para esse espaço do varejista, que entrega ao consumidor. Isso faz com que a entrega seja feita de forma imediata pelo site e o consumidor tem o melhor serviço, explica.
Quando não é assim, o vendedor fica responsável por encaminhar o produto para o consumidor e ele usa geralmente os Correios, que tem um prazo determinado para a entrega. As grandes varejistas usam empresas terceiradas privatizadas ou próprias, principalmente nos grandes centros, diz Guasti. Para oferecer o serviço, as empresas cobram valores pré-determinados ou porcentagem na venda dos pequenos lojistas.
Além de entregar no prazo prometido, o CEO da Ebit|Nielsen destaca que outro grande desafio será manter o site no ar durante o grande volume de vendas. Em suma, é manter a operação funcionando bem e entregar rápido para manter a reputação, afirma.
Para Guasti, o e-commerce é muito competitivo, por isso, sai na frente quem oferece o melhor serviço e a melhor experiência de compra, que inclui a venda em si, as opções de pagamento até a entrega.
Data é esticada
Guasti diz que as empresas têm se esforçado para esticar cada vez mais a Black Friday. Algumas optaram por lançar o Black November, com promoções diluídas ao longo do mês. A Black Week também tem feito parte das últimas edições, com ofertas ao longo da semana que inclui a sexta-feira, o grande dia de descontos. No ano passado, a quinta-feira, véspera da Black Friday, já foi bastante forte, com liberação das ofertas às 18h. E muitos varejistas já estenderam para o final de semana após a Black Friday, diz.
Segundo o CEO da Ebit|Nielsen, os melhores descontos começam a entrar a partir das 18h de quinta, quando as empresas liberam o grosso do estoque que entrará em promoção.
Claro que nem sempre à meia-noite o consumidor vai achar o produto pelo melhor preço. Se ele encontrar um bom desconto antes desse horário é melhor comprar do que esperar dar meia-noite porque pode ser que não encontre ou o produto acabe logo, comenta Guasti.
De acordo com Bove, 62% das vendas online ainda são na sexta-feira, e 38% ocorrem entre a quinta-feira e o final de semana até a chamada Cyber Monday (segunda-feira seguinte).
Em novembro tem algumas ofertas no esquenta. Mas o consumidor deve pesquisar, pois a Black Friday é uma data planejada para compras. A partir de quinta, se ele encontrar o preço que ele quer pagar, deve comprar na hora, aconselha Bove.
Comércio físico
Os resultados obtidos ao longo dos anos expandiram as promoções para as lojas físicas, que têm aumentado o engajamento a cada ano que passa, segundo a FecomercioSP. Por isso, a entidade recomenda que o aspecto humano seja reforçado nas lojas físicas para garantir o aumento nas vendas na data.
Se no comércio eletrônico a data de promoções coletivas é a segunda mais importante no calendário, perdendo apenas para o Natal, no comércio físico a Black Friday fica em 3º lugar, atrás também do Dia das Mães. Por isso, a Black Friday aquece em proporção bem menor as vendas nas lojas. A FecomercioSP atribui a vantagem do comércio eletrônico à facilidade de crédito e na pesquisa de preços.
O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar Burti, prevê que as vendas do varejo físico paulistano crescerão até 3% na Black Friday em relação a 2017 e não devem prejudicar o desempenho do setor no fim do ano. A antecipação de compras na Black Friday que seriam feitas para o Natal pode acontecer principalmente para itens de maior valor, como eletroeletrônicos. Mas, para o comércio, o mais importante é vender, seja em novembro ou dezembro, comenta.
Segundo ele, a Black Friday é bastante centrada em produtos importados ou fabricados com peças importadas. Com o dólar mais elevado em relação a 2017, é possível que os preços desses itens estejam mais caros. Por outro lado, o crédito à pessoa física está mais barato, os prazos estão mais longos e a própria economia está melhor, contribuindo para uma expectativa positiva, diz.
Para Burti, passada a eleição, a confiança do consumidor tradicionalmente tende a subir, o que estimula o consumo como um todo.
Segundo o superintendente de finanças do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), há indícios de que a Black Friday vem impactando o desempenho do varejo no Natal, porém não no volume das vendas, mas no preço dos produtos, especialmente no segmento de eletroeletrônicos.
A Black Friday não tira as vendas do Natal, mas dependendo do produto, ela obriga o varejista a vender mais barato em uma época que não precisaria, para não perder as vendas, explica. Muitos varejistas não gostam da Black Friday porque poderia vender organicamente em novembro sem precisar baixar preços, diz.
Fonte: G1