Aumenta calote a cartões de crédito nos EUA
Depois da crise das hipotecas, da crise do emprego e da crise das montadoras, os EUA podem estar próximos de atravessar uma nova frente de problemas, especialmente o já combalido sistema bancário do país: a crise dos cartões de crédito. Com o desemprego aumentando, milhões de americanos renegociando contratos imobiliários em que a principal preocupação é quitar as prestações da casa própria, e outros tantos pagando alto por seguros de saúde em tempos incertos, os níveis de inadimplência nas empresas de cartões de crédito começa a subir.
De acordo com o Federal Reserve (o banco central dos EUA), as dívidas dos americanos com cartões de crédito atingiram US$ 951 bilhões em 2008. E, segundo agências de análise de risco (como a Fitch Ratings) e empresas de pesquisa financeira (como a Innovest Strategic Value Advisors), a atual taxa de inadimplência, de 7,5% em dezembro (o equivalente a US$ 71 bilhões), deve subir para algo acima de 10% até o fim do ano, aumentando o calote nos principais bancos que administram cartões para cerca de US$ 100 bilhões.
O pior: o calote nos cartões atinge em cheio o setor bancário dos EUA que, a exemplo do ocorrido com o setor de habitação, lastreou títulos com créditos de recebimento duvidoso no cartão de crédito. Em depoimento no Congresso em fevereiro, Kenneth Lewis, presidente do Bank of America (segundo maior administrador de cartões do país), afirmou que os lucros nas operações com cartões vão desabar em 2009: – Este será um ano terrível para a indústria de cartões de crédito. A previsão mais otimista de uma taxa de desemprego, algo entre 8% e 8,5% até o fim do ano (a taxa foi de 8,1% em fevereiro), vai causar altíssimas perdas nos portfólios de cartões.
Administradoras adotam mais restrições a quem atrasar fatura Citigroup, Bank of America, JPMorgan Chase, American Express e Capital One são os maiores emissores de cartões do país. No Citigroup, os lucros com cartões em 2008 foram de meros US$ 166 milhões, um valor nada menos que 96% menor que em 2007, quando o lucro foi de US$ 4,6 bilhões. Para este ano, as provisões para calotes no ramo já atingem US$ 3,5 bilhões.
– A crise dos cartões será o novo grande problema do setor bancário e do governo – afirmou Steven Burrill, presidente da Burrill & Company, uma consultoria em investimento e negócios.
– Boa parte das endividadas famílias americanas está a dois meses de dar o calote nos cartões.
Como reação, os bancos americanos estão aumentando provisões para calotes no ramo, aumentando juros e criando taxas maiores para quem paga em atraso, o que dificulta mais a situação dos inadimplentes. No início do mês, o Citibank avisou a seus clientes que estava estabelecendo uma multa por atraso de 29,9% do valor da fatura.
O JPMorgan Chase comunicou aos donos de cartões que aqueles com dívidas grandes roladas na base do “valor mínimo de pagamento” passariam a pagar US$ 10 a mais na fatura por mês, além das taxas de rolagem.
Para outros especialistas, como o professor do Departamento de Economia da Universidade George Washington, Anthony Yezer, a situação para os bancos ficou menos complicada na semana passada quando as autoridades econômicas dos EUA anunciaram o uso de US$ 200 bilhões no consumo doméstico através da compra de títulos ligados a várias linhas de empréstimos, como financiamento de carros, de apartamentos e cartões de crédito.
– Não acredito que a elevação do calote no setor de cartões tenha o poder de desestabilizar os bancos porque as instituições estão fazendo provisões e o governo vem agindo cirurgicamente no setor – disse Yezer.
– O que não significa que as famílias americanas estejam adequando seus orçamentos a esta nova realidade, o que, afinal, está no centro desta crise financeira. Ou seja, o fato de que muitas famílias nos EUA vivem além de suas posses e altamente endividadas
Fonte: O Globo