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Assessor de Imprensa, um Jornalista atrás da linha vermelha

17:30h. Horário de fechamento da edição do dia seguinte. Se você pensa que algum jornalista vai ler seu e-mail ou fax (tudo bem, eu sei que é difícil, mas na redação da Tribuna do Interior de Bom Jesus do Matosinho, ainda se usa e muito, viu?) com aquela “super pauta” para aquele cliente “super poderoso” que te enche há um tempão para ser capa da Veja ou aparecer no Fantástico… Esqueça! A primeira e fundamental regra que um atual assessor de Imprensa e jornalista que passou por uma redação de jornal, translouquecida no horário de fechamento tem que saber, é que ninguém lê sugestões de pautas numa hora dessas! Então, regra número 1: saiba de cor e salteado o horário de fechamento do veículo para o qual pretende enviar sua sugestão e as envie nas outras cinco, seis horas de funcionamento. O livro “Jornalismo na Prática”, do meu amigo Luiz Antonio Mello, jornalista da Band News FM é um grande aliado aos que trabalham com informação, principalmente com relação a Comunicação Empresarial (no mercado de Seguros temos algumas falhas, principalmente com relação a Gerenciamento de Crise, tema que irei falar em uma outra oportunidade, em breve). Poderia começar dizendo que o nome Assessor de Imprensa está “démodé”. Trabalho como assessora há doze anos, depois de cinco em Redações. Hoje em dia com a multidisciplinaridade das suas funções, acredito que o profissional denominado assessor de Imprensa está mais para assessor de Comunicação do que somente relacionado aos veículos de Comunicação. Por que? Porque deve ser antes de tudo, um jornalista que sabe como o seu cliente pode gerar notícia no veículo adequado ao seu ramo de negócio. É preciso conhecer o público alvo do veículo. Para isso, ele deve ter aptidões que englobam além daquelas pertinentes a um bom repórter (saber perguntar, apurar bem e, é claro, redigir melhor ainda), também as de um bom mídia publicitário, além de possuir o tom diplomático e persuasivo de um relações públicas. Ou seja, ele é uma verdadeira “mão na roda” para o jornalista que está do outro lado, no campo de combate, dentro na Redação. “O jornalista de redação não é melhor e nem diferente do assessor de Imprensa”, resumiu Josafá Dantas, diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e representante da região Centro-Oeste na Conjai – Comissão Nacional dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa, em matéria na Revista Imprensa de outubro de 2003. “O assessor de imprensa não é o bicho-papão do Jornalismo, não esconde informação, apenas preserva a empresa onde trabalha”, diz Josafá. “Isso também acontece às vezes com o repórter. Ele tem informações, mas a empresa não permite a publicação sob pena de perder um contrato publicitário. O jornalista de redação apenas pensa que tem liberdade, que é um profissional liberal. Ledo engano. Não passa de um assalariado. O assessor, pelo menos, tem a consciência de que trabalha para traduzir de forma mais simples os informes que devem ser passados para a Imprensa.” É um ponto de vista e deve ser respeitado. Outra questão delicada é a que envolve as convicções do cliente e do assessor. Embora o problema seja mais evidente em entidades sindicais e órgãos do governo, também ocorre em empresas privadas, envolvendo questões ideológicas e político-partidárias. Em geral, os clientes e empregadores fazem pressão para que os jornalistas sigam a opção de quem os contrata. O jornalista de redação, entretanto, também não está imune a esse problema. É comum as chefias discriminarem os profissionais que não seguem a chamada “linha política da casa”. Quem acha que assessor só atrapalha a matéria jornalística precisa aprender a dosagem certa para seu uso. Leia a “bula” do assessor de Imprensa abaixo: Princípio Ativo: jornalista é sempre jornalista. Então não seja preconceituoso e aceite o fato dele ter optado por trabalhar “atrás da linha vermelha”, te cedendo munição, às vezes determinante para seu texto brilhar ainda mais. Indicações: otimizar o tempo do trabalho dos jornalistas em Redações; indicar fontes valiosas para notas e matérias; pesquisar e fornecer dados; produzir, correr atrás de fotos e imagens produzidas para matérias especiais; ser um verdadeiro “firewall” dos clientes contra jornalistas inconvenientes e chatos! Contra-indicações: vai tentar sempre fazer com que o cliente tenha uma boa visibilidade na mídia. Isso possui dois lados: mostrando o melhor do cliente e omitindo o pior, é claro. Cabe ao jornalista ter sensibilidade de checar os fatos ou ter um relacionamento estreito com o assessor a ponto de onfiar totalmente no que ele está dizendo. Para quem a ética norteia a vida profissional, não é nada arriscado, mas aqui para nós, cheque as informações sempre, seja de que lado estiver. Releases adjetivados, mal redigidos e desinteressantes não estão com nada. O pior são aqueles assessores que ligam depois de meio minuto do envio destes para checar se chegou às mãos do editor desejado. Thales uaracy, prefere atender todas as ligações. O ex-editor da Revista Veja já ganhou um Prêmio Esso de Reportagem, em 1991, com a reportagem “Tortura na Base”, sobre a prática de violências contra um cadete numa base da Aeronáutica, elaborada a partir de sugestão dada num telefonema anônimo. “Por isso, faço questão de atender todo mundo. Se é algo que não interessa, desligo logo. Também vejo todos os releases, mesmo tendo acumulado, certa ocasião, um quilo e meio deles”, afirma. Acredito que o Jornalismo está longe de ser dividido em funções ou atribuições peculiares como ser ou não assessor ou estar trabalhando em uma Redação. Toda notícia é apenas uma versão dos fatos, e nunca a versão definitiva dos mesmos, por isso, o mais importante de tudo é ter a certeza que tem boas informações em prol do seu público, seja ele uma empresa jornalística ou não.

Liliana de La Torre

Jornalista, Assessora de Comunicação e Diretora da Tech & Mídia Comunicação Integrada e Conselheira do Clube das Luluzinhas.

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