Mercado de SegurosNotícias

As vindimas na Europa e as novidades dos guias

O mundo do vinho tem andado agitado nestes últimos tempos – onda de modernismo/globalização/parkerização, ascensão dos países do Novo Mundo, apreensão com relação aos efeitos das mudanças climáticas, entre tantas discussões -, mas outubro as atenções se voltam às colheitas no hemisfério norte, assim como ao lançamento de alguns influentes guias anuais, caso do italiano Gambero Rosso e do espanhol Peñin. Dentro da proposta dessa coluna de trazer e comentar periodicamente notícias recentes publicadas na imprensa internacional, vai em seguida algumas delas.
Como termômetro do mercado, a primeira região a receber atenção sobre as condições da colheita é sempre Bordeaux, até porque logo começam especulações sobre seus efeitos nas cotações dos vinhos futuros e passados ali produzidos, com reflexos mundo afora. É, então, comum ouvir-se previsões mais otimistas do que na realidade acontece, o que requer buscar fontes com credibilidade e cruzar informações. De uma maneira geral, em todo caso, tanto os bordeaux da margem direita quanto da margem esquerda da colheita 2007, recém terminada, aparentemente conseguiram se safar de uma situação que se prenunciava bem problemática em agosto, mês fundamental para dar equilíbrio e profundidade aos vinhos.
Foi um período frio e relativamente chuvoso, cuja umidade inerente favorece o aparecimento de pragas e doenças, como o míldio. Châteaux com bom terroir e condições de aplicar tratamentos de forma rápida e eficiente conseguem contornar o problema, enquanto a maioria dos pequenos produtores, sem os mesmos meios, sai bem prejudicada. Tal qual aconteceu em 2004 e 2002, por exemplo, em setembro o quadro mudou e foi bastante favorável, com sol brilhando e melhorando as condições de maturação. Era hora de proceder uma boa triagem no vinhedo, baixar os rendimentos e, arriscando que o tempo se firmaria, tentar retardar a vindima para colher uvas mais maduras (o Château Margaux esperou 10 dias, iniciando em 01 de outubro). Quem o fez se deu bem, seja nos Merlots ou nos Cabernets, possivelmente, até, melhor do que nas duas safras citadas. O curioso é que a permanência de céu azul (que se estende até agora), ainda que com temperaturas mais frescas, permitiu à Petit Verdot, a mais tardia das variedades bordalesas, alcançar belos índices de maturação. Quem a tiver e puder fazer uso dela, terá um componente bastante útil no blend final.
Até a terceira semana de agosto a Borgonha também havia sido afetada por clima desfavorável, obrigando produtores conscienciosos a fazer um trabalho rigoroso nas vinhas. Com o sempre bem vindo (nessa época) vento do norte, o tempo se firmou e as uvas tintas puderam ser colhidas no início de setembro em bom estado de madurez – as brancas, por outro lado, foram vindimados mais tarde -, não escapando, no entanto, de uma severa seleção dos cachos. Como de costume, para se alcançar borgonhas (sobretudo) de boa qualidade não há outro meio senão comprometer a quantidade. Prevê-se um ano de tintos clássicos – sólido e com boa acidez – talvez um pouco austeros, lembrando eventualmente 2001 ou 1993.
Itália e Espanha, foram mais favorecidas em termos climáticos, com tempo seco e estável em algumas de suas regiões mais importantes, como Toscana, Piemonte e Rioja. No caso piemontês, alegria de uns, tristeza de outros: enquanto os Barolos se beneficiaram, desde março, de uma fase seca com temperaturas relativamente mais elevadas, que antecipou o início do ciclo vegetativo e, assim, a colheita – terminou excepcionalmente no início de outubro, 2 semanas antes do usual -, os amantes de tartufo bianco, preciosidade local, estão sofrendo com a escassez e, por conseqüência, de preços (ainda!) mais altos. Na Bota, a exceção foi a Sicília, que este ano foi prejudicada por longos períodos de chuva, algo inusitado naquela zona.
Os “Tre Bicchieri” do Gambero Rosso
Na sua 21ª edição, o Gambero Rosso, o mais prestigiado guia anual de vinhos italianos, acaba de anunciar a lista dos rótulos que alcançaram sua mais alta pontuação, os invejados “tre bicchieri” (três copinhos). São ao todo 305 vinhos, de um total de mais de 18 mil citados, que ficaram nas categorias abaixo, desde “due bicchieri” “rosso” (dois copinhos pintados de vermelho, que quase alcançaram o máximo de três), “due bicchieri”, “uno” ou ainda apenas menção.
O número de laureados vem aumentando nos últimos anos – 282 em 2007 e 246 em 2006 – o que contribui para reforçar a impressão de profissionais do setor de que o guia está se deixando levar por aspectos comerciais. Essa crítica, aliás, nem vem dos concorrentes, mas de, Carlo Petrini, fundador da publicação e do movimento da qual o guia faz parte, o Slow Food. A bem da verdade, o Gambero tornou-se popular, no sentido de atingir um público mais amplo, e suas vendas garantem recursos para os projetos mais puristas de Petrini, em torno do aprimoramento do paladar e do desenvolvimento de alimentos orgânicos, defendendo a ecologia e a biodiversidade.
A Toscana ficou com a maioria dos Tre Bicchieri de 2008, com 65 rótulos (10 a mais que em 2007), seguido do Piemonte com 61 (+8). As outras regiões ficaram com: 28 Friuli Venezia Giulia (-1), 27 Veneto (+3), 22 Alto Adige (-1), 15 Sicilia (igual), 13 Lombardia (+3), 11 Marche (-1), 10 Abruzzo (+1), 10 Campania (-2), 8 Umbria (+2), 7 Trentino (igual), 7 Puglia (+2), 5 Emilia Romagna (-2), 4 Basilicata (+2), 2 Calabria (+1), 4 Sardegna (igual), 2 Valle d´Aosta (-1), 2 Lazio (igual), 1 Liguria (igual) e 1 Molise (igual).
Além dos vinhos, o Gambero Rosso elege vinhos, vinícolas e profissionais do ano em suas diversas categorias. Assim, o melhor espumante foi o Franciacorta Collezione Esclusiva ´99, da Cavalleri; nos brancos foi o Collio Tocai Friulano ´06, da Raccaro, vinícola do Friuli; entre os tintos o destaque foi o Faro ´05, da Palari (representado no Brasil pela World Wine La Pastina), situada perto de Messina, na Sicília (um corte majoritário de nerello mascalese e cappuccio, castas típicas daquele canto da ilha); e nos doces ganhou o Moscato Passito di Pantelleria Ben Ryé 06, Donnafugata (World Wine La Pastina).
A vinícola do ano ficou com Gaja (Mistral), como se ainda precisasse de reconhecimento (ou não devesse ganhar todo ano); e Mattia Vezzola, ex-diretor da conhecida produtora de espumantes Belavista e proprietário da Azienda Agricola Costaripa di Moniga del Garda, perto de Brescia, na Lombardia, foi eleito enólogo do ano. Talvez para agradar, ou mesmo por imposição do “capo” Carlo Petrini, nas ultimas edições foi também instituído prêmio para Viticultura Sustentável, que coube agora à Saverio Petrilli, biodinâmico de primeira hora e responsável pela Tenuta di Valgiano, situada perto de Lucca na Toscana, que teve ter Bicchieri em 2007 com seu Colline Lucchesi Rosso 2003.
Os melhores vinhos espanhóis de 2008 pelo Guia Peñin
José Peñin é o mais conceituado e influente crítico de vinhos da Espanha e edita todo ano um apanhado com mais de 8000 rótulos que reflete o que de mais importante se produz no país. Entre os brancos, há novidades e os melhores classificados foram: Enate Uno Chardonnay 2003 (Expand), da região de Somontano, com 97 pontos (um Chardonnay, estilo americano como melhor do ano não é falta de criatividade?); Ossian 2006, de Rueda, (agora sim, um com sangue espanhol), com 96 pontos; Albariño Nora da Neve 2005, com 95 pontos; Belondrade y Lurton 2005, um verdejo fermentado em barrica, e As Sortes 2006, da casta godello da D.O. Valdeorras, na Galicia, de Rafael Palácios, todos com 94 pontos; e os riojanos Remelluri 2005 (Mistral), Qué Bonito Cacareaba 2006 (Grand Cru), de Benjamin “Contador” Romeo, e Naiades 2005, com 93 pontos.
Nos tintos, não há surpresas entre os primeiros; o que existe é troca de posição entre eles a cada ano. Surpresa mesmo vai ter o consumidor desavisado que quiser comprar um deles – vai cair de costas com os preços. Desta vez o vencedor foi o Domínio de Atauta Llanos de Almendro 2005, de Ribera del Duero, com 98 pontos, deixando para trás, em segundo, três feras: l´Ermita 2005, um Priorato de Alvaro Palácios (Mistral), Vega Sicília Reserva Especial, corte das safras 89, 90 e 94 (Mistral), e Aurus 2004, da Finca Allende, de Rioja (Península), todos com 97 pontos. Logo abaixo, com 96 pontos tem três “canhões”: Pingus 2005 (Grand Cru), Artadi Viña El Pison 2005 (MIstral) e Contador 2005 (Grand Cru), ambos de Rioja.
colaborador-jorge.lucki@valor.com.br

Fonte: Valor

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?