Após 2 anos, Cadastro Positivo não reduz custo para clientes –
Com baixa adesão a banco de dados, analistas não veem corte no juro final.
Ao completar em agosto dois anos em vigor, o chamado Cadastro Positivo, um banco de dados com informações de crédito dos consumidores, não cumpriu seu objetivo de reduzir os juros e aumentar a oferta de crédito aos bons pagadores, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO. O desconhecimento do serviço e o pouco interesse dos bancos em divulgá-lo fazem a adesão crescer num ritmo muito lento. No momento em que os juros básicos da economia estão no maior patamar desde agosto de 2006 e o crédito é mais restrito, analistas avaliam que o banco de dados podería aliviar um pouco o peso dos juros nas principais linhas de financiamento.
– Ainda estamos muito aquém do que se esperava em termos de adesão. Nosso banco do Cadastro Positivo tem dados de dois milhões de pessoas, base insuficiente para que os benefícios sejam oferecidos – diz Vander Nagata, superintendente de informações sobre o consumidor da Serasa Experian.
No Cadastro constam os compromissos financeiros já quitados ou em andamento do consumidor Se a pessoa paga tudo em dia, vai acumulando pontos. Com base nessa pontuação, bancos e varejistas poderíam conceder um volume de empréstimos maior, além de cobrar taxas de juros menores. Na prática, é um contraponto à “lista suja” dos inadimplentes.
O vigilante Jonas Rafael da Silva, de 34 anos, foi parar na lista dos inadimplentes há dois anos. Ele trabalhava na construção civil, mas se afastou para uma cirurgia e ficou sem receber. Sua dívida no cartão de crédito chegou a R$ 6.500. Depois de negociar, reduziu um pouco o valor e está pagando em 12 vezes. Ele aderiu ao Cadastro Positivo:
– Fiquei inadimplente no cartão, pois tive problema de saúde, mas as outras contas foram pagas em dia, e isso não aparece.
O Cadastro Positivo ainda não deslanchou porque a maioria da população desconhece o serviço, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). A adesão não é automática, e é o próprio consumidor que deve autorizar a divulgação de seus dados nas instituições que mantêm os bancos de dados (Serasa, SPC Brasil e SCPC Boa Vista).
Para a economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idee), não existe transparência dos bancos sobre os critérios utilizados para beneficiar os clientes que aderiram ao Cadastro Positivo. Ela diz que os bancos optam por oferecer vantagens aos clientes que têm relacionamento mais próximo com a instituição – Se a pessoa recebe o salário na instituição, ou compra um título de capitalização, pode ter mais vantagens do que aqueles que se inscrevem no Cadastro – afirma, acrescentando que os bancos não têm interesse no Cadastro porque “empurram” as linhas de crédito com juros mais elevados para os clientes, como o cheque especial e o cartão de crédito.
FEBRABAN: POUCO HISTÓRICO
Alberto Borges Matias, professor da Faculdade de Economia da USP, diz que, mesmo se o Cadastro Positivo estivesse de fato implementado no país, pouco ajudaria a reduzir as taxas de juros. Para que haja uma queda efetiva, diz, seria preciso que a oferta de crédito aumentasse:
– De que adianta ser cliente de risco baixo se o banco não oferece crédito? O Cadastro Positivo não mudaria muito o custo do crédito e faria com que os clientes que têm risco mais alto não conseguissem contratar novas operações. Puniria ainda mais quem não é bom pagador.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou em nota que a implementação do novo Cadastro não é um processo simples e rápido. Somente após a autorização do cliente é que o histórico de crédito começa a ser formado e os benefícios, oferecidos. Para isso, explicou, são necessários anos de informação.
Fonte: O Globo